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Lado Rural

Protocolo de produção de carne reduz em 15% emissão de gás de efeito estufa

Modelo reduziu também a idade do abate para 21,5 meses, abaixo dos 22, quando os bovinos alcançam peso ideal

Por José Roberto dos Santos, com informações da Embrapa | 23/01/2024 14:00
Bovinos cruzados caminham em área de integração de pastagens com florestas. (Fotos: Divulgação/Embrapa)
Bovinos cruzados caminham em área de integração de pastagens com florestas. (Fotos: Divulgação/Embrapa)

A aplicação dos protocolos CCN (Carne Carbono Neutro) e CBC (Carne Baixo Carbono) em uma área comercial demonstrou que os sistemas reduzem em 12% e 15%, respectivamente, a emissão de metano entérico pelos animais durante a fase de recria a pasto. O metano entérico é um dos principais gases responsáveis pelo efeito estufa, que provoca o aquecimento global. Além desse benefício, os protocolos permitiram ganhos superiores de peso dos animais, entre 2% a 5% em relação ao manejo tradicional.

Essa é a primeira vez que esses protocolos são aplicados em um rebanho de alto padrão genético. O estudo foi realizado na Fazenda Experimental Orestes Prata Tibery Jr., em Uberaba (MG), em parceria com a ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu) e contou com a participação do pesquisador Roberto Giolo, da Embrapa Gado de Corte, sediada em Campo Grande (MS).

Segundo nota técnica distribuída nesta terça-feira, 23, pelas Embrapa Cerrado e Embrapa Gado de Corte, considerando as fases de recria e terminação, o uso dos protocolos CCN e CBC promoveu a redução na emissão de metano entérico, de 2% a 5%, e o aumento na produtividade, de 4% a 8%, respectivamente, em relação ao manejo tradicional.

Com esses resultados, o pesquisador Roberto Giolo, da Embrapa Gado de Corte (MS), ressalta a importância do manejo de pastagem, com a aplicação dos protocolos CCN e CBC, e que mesmo em rebanhos de alto padrão genético se mostrou eficiente, com melhoria na produtividade e redução das emissões de metano entérico no pasto.

Do pasto às avaliações de carcaça

As avaliações dos rebanhos fizeram parte do Programa Zebu Carne de Qualidade, desenvolvido pela ABCZ desde 2020. Na terceira edição da prova, realizada entre 2022 e 2023, foi acrescentada a mensuração da emissão do metano entérico. Os cálculos foram feitos seguindo a equação desenvolvida pela Rede Pecus, da Embrapa, utilizada para os protocolos CCN e CBC. Para estimar a emissão de metano entérico, são considerados a qualidade da dieta (pasto + ração), a ingestão de alimento e o ganho médio diário dos animais.

Para a prova, foram recebidos 147 animais, todos resultados de cruzamentos entre nelore e outras raças: 32 brahmanel (brahman/nelore); 32 guzonel (guzerá/nelore); 25 sindinel (sindi/nelore); 26 tabanel (tabapuã/nelore), adquiridos por sua excelência genética. Apenas as etapas que não interferem no sistema de produção, como a rastreabilidade do produto, não foram realizadas.

Desses animais, foram selecionados 32, oito de cada cruzamento, e divididos em dois grupos – um para a área de ILPF (Integração lavoura-pecuária-floresta) e outro para a de ILP (Integração lavoura-pecuária). A fazenda, com 20,3 hectares de pasto de braquiária brizantha BRS Paiaguás, foi dividida em oito piquetes. A área de lavoura e pecuária foi implantada com milho para silagem consorciado com capim. Já a área de integração lavoura-pecuária-floresta foi composta por quatro espécies arbóreas: teca, eucalipto, mogno e nim. Os demais animais continuaram nas áreas comuns, seguindo o manejo rotineiro da ABCZ e os dados gerados a partir de seu desempenho foram utilizados para comparação dos resultados.

Mapa mostra como foram divididos oe piquetes de pastagens e com utilização de integração com florestas
Mapa mostra como foram divididos oe piquetes de pastagens e com utilização de integração com florestas

Os animais entraram no sistema com idade entre seis e oito meses, logo após a desmama. No início da estação seca, em maio de 2022, foram iniciadas as avaliações no pasto, onde ficaram por 280 dias, sendo metade desse tempo no período da seca e, a outra metade, no período das águas.

Após esse período no pasto em recria, os animais seguiram para a etapa de confinamento, com duração de 105 dias. Os bovinos foram alojados em currais de confinamento compostos por cochos eletrônicos e balanças de pesagem. Todo o período do teste durou 385 dias.

Para Almeida, os resultados foram muito positivos: “Os trabalhos científicos da ABCZ mostram ao mundo a eficiência e a sustentabilidade da genética zebuína para a pecuária tropical. Conseguimos bons resultados em uma fazenda eficiente. Esse modelo se mostra viável economicamente e pode ser replicado em todo o Brasil.”

O técnico da ABCZ enfatiza que o principal ponto para melhorar a eficiência produtiva da atividade pecuária é um bom planejamento que garanta a suplementação da dieta do rebanho no período da seca. “O pecuarista tem que trabalhar com a previsão de volumoso para seca, que pode ser silagem de milho, sorgo, cana-de-açúcar ou capim, além de animais com boa genética. Durante os três anos do programa, conseguimos resultados muito positivos. Os criadores podem adotar um manejo na fase de pasto e outro em confinamento para obter 1 kg de ganho de peso por dia, o que já é um excelente resultado”, explica.

Pesquisa mostra que sistema de engorda resultou em custo de produção menor por arroba
Pesquisa mostra que sistema de engorda resultou em custo de produção menor por arroba

Emissão de GEE durante a pesquisa

As fases avaliadas com a aplicação dos protocolos foram a recria e a terminação. Entretanto, quando computadas as estimativas de emissões na fase de cria, durante os 595 dias do ciclo de produção, os animais do programa da ABCZ apresentaram uma IE (intensidade de emissão) de 142,36 gramas de metano por quilo de ganho de peso, enquanto no protocolo CCN e no CBC a IE foi de 99% e 97% desse valor, respectivamente. Ou seja, emitiram 1% e 3% menos nesses sistemas.

De modo geral, a média anual de emissão de metano entérico (CH4) dos animais dos três sistemas foi de 46,5 kg ou cerca de 17% abaixo do parâmetro utilizado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), que é de 56 kg de CH4/ano, indicando que todos os sistemas foram eficientes na redução da emissão de metano entérico.

“As emissões foram menores na fase de recria, o que evidencia o uso dos protocolos no manejo do pasto. Depois, na terminação/confinamento, a diferença diminui um pouco. De qualquer forma, nosso foco maior é no pasto (fase de recria), onde ficou bem clara a diferença em favor do uso dos protocolos”, comenta Giolo na nota distribuída pela Embrapa.

O pesquisador afirma que há potencial de melhoria no desempenho animal e, consequente redução das emissões de metano entérico em pasto. “Todavia, é necessário aprimorar o ajuste do pastejo nos últimos ciclos, principalmente para CCN”, informa. Os próximos passos são os cálculos referentes a carbono no solo e nas árvores, assim como os dados sobre consumo de água.

Qualidade da carne

Os resultados mostram que os rebanhos tiveram bom rendimento de carcaça, 56,1%, que, segundo o professor da Unicamp, é um ótimo índice; presença de gordura desejada pela indústria; bom desenvolvimento muscular, expresso pela área de olho de lombo; e boa relação entre carne, osso e gordura na carcaça, ou seja, bom índice de carne aproveitável total. Já em relação à gordura intramuscular e à maciez da carne, os resultados têm relação com a própria genética das raças zebuínas.

Com os protocolos, conseguiu-se atestar as aptidões da raça nelore para produção de carne e carcaça de maneira eficiente, econômica e sustentável, capaz de atender à demanda nacional e mundial dos frigoríficos por proteína animal. O Brasil é um grande produtor de carne e a pesquisa mostra que esses animais têm aptidão para fornecer carne a partir de um rebanho com qualidade genética.

* Com informações da Embrapa Cerrados e da Embrapa Gado de Corte

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