Estupro, porrada, burra demais: elas contam o sofrimento por ser mulher
De violências sofridas em casa, na rua ou trabalho, mulheres contam em 11 depoimentos o que já passaram
Além de você ser mulher, você é muito bonita para ser inteligente”.
Aos 44 anos, uma advogada hoje bem sucedida volta no tempo para relatar como é viver e passar por situações difíceis enquanto mulher. O depoimento dela é um dos que as leitoras descreveram no mapa interativo do Campo Grande News o que já sofreram em casa, na rua ou no trabalho só por serem mulheres. Ainda que haja exemplo riquíssimos de mulheres de sucesso que possam inspirar, ser do sexo feminino ainda é uma tentativa diária de se equilibrar entre a independência e a intimidação para muitas delas.
Em diferentes depoimentos o sofrimento vem à tona com a porrada, o abuso sexual, a inferioridade e o sentimento de igualdade que passa longe em diferentes ambientes, mesmo em 2021.
A advogada diz que por ser mulher teve vários episódios de tristeza. Mas felizmente encontrou forças nos sonhos e seguiu. Acredita que as dores a tornaram uma mulher forte e resiliente. No entanto, deseja insistentemente que nenhuma mulher precisa passar por isso para ser quem quiser.
“Eu enfrentei a primeira aos 11 anos quando sofri abusos sexuais dentro de casa, praticados pelo meu pai”, conta. Na época em que fez um curso técnico profissionalizante ouviu de um professor que não poderia receber a nota máxima por ser mulher e bonita demais para ter inteligência.
Já no escritório de advocacia, o problema continua, não nega. “Nas reuniões sobre assuntos trabalhistas, meu sócio era obrigado a participar, pois o empresário que nos contratou não se referia a mim como advogada por ser mulher. Ele só foi falar comigo após 4 anos de contrato”, detalha.
“Ele me chamou de cadela, biscate...”
Aos 30 anos, a leitora que enviou um relato anônimo resume que quando tinha 15 anos sofreu em casa as primeiras retaliações por ser mulher. Quando gostava de um menino e o irmão mais velho que era militar ficou sabendo, ela foi xingada e agredida emocionalmente.
Anos mais tarde conheceu uma pessoa e começou a namorar. “Eu era virgem, bobona, porque não se falava sobre essas coisas que a mídia mostra hoje para as mulheres e meninas ficarem alertas”. Foi então que o pesadelo começou.
“Esse meu ex-namorado me levou para uma casa de uma pessoa e lá tirou a minha virgindade. Eu não quis ir até o final, mas ele me forçou”, relata. “Desde então minha vida virou um inferno. Ele começou a me proibir de sair de casa, ele me perseguia, falava que eu o traía, quando saíamos ele me batia nas ruas”.
Ainda que cansada das porradas, não tinha coragem de denunciar e nem aceitar ajuda de quem por diversas presenciou as agressões. “Minha própria família me condenava, minha mãe só me chamava de cadela safada”.
Hoje, a leitora diz que está melhor, mas precisou encontrar forças para sair da sua cidade natal e recomeçar. “Hoje moro em Campo grande, tenho meu filho e minha família, sou uma pessoa abençoada”.
“Ele parou e me chamou de gostosinha, em seguida cuspiu em minha direção”
Andar nas ruas quando bem entender nem sempre é sinônimo de liberdade para as mulheres, Mayra vivenciou diferentes situações difíceis, em uma delas, quando voltava da farmácia a pé, por volta das 16h, no caminho sofreu vários assédios, ouviu buzinas e homens a chamando por vários nomes. “Ao chegar perto da praça, um carro começa a vir lentamente na minha direção, ele para e me chama de gostosinha, em seguida cospe em minha direção, mas acaba não me acertando. Começo a correr muito rápido e assustada, neste momento me senti completamente sozinha e vulnerável e comecei a chorar. Uma simples ida a farmácia se torna algo assustador no cotidiano”.
“Se eu comprasse algo para mim ele dizia que iria me socar”
Há três anos, Kathelyn sofreu violência doméstica. Lembra que demorou mais de um mês para criar coragem e contar a alguém. Foi com ajuda externa que consegui terminar o casamento com o ex-companheiro. “Eu vivia sendo ameaçada”.
“Eu saí como a biscate e perdi dois trabalhos importantes”
Zootecnista, Ana Paula se viu sem o emprego só por ser mulher. “Estava trabalhando em uma fazenda em Coxim e a esposa de um peão me chamou para conversar alegando que não tinha gostado nenhum pouco de ver o marido dela andando de carro pela fazenda com uma mulher”, conta.
Mesmo pedindo respeito e explicando sobre o ofício que necessitava a relação de trabalho dentro da propriedade, a indigna de outra mulher encerrou o meu contrato no lugar. “Perdi dois trabalhos que eu fazia dentro da fazenda e ainda tive que suportar preconceito e machismo vindos do meu próprio sexo”, lamenta.
“Um rapaz no qual nunca flertei me tascou”
No trabalho Mariana também coleciona história de se indignar. Quando ainda era menor aprendiz, aos 17 anos, foi assediada pelo motorista da empresa que ao trocar de marcha passava a mão em sua perna. “Lembro com raiva, na época não tive força suficiente nem conhecimento para denunciar”.
Além disso foi beijada por um colega de trabalho do qual ela nunca interesse. Também não teve forças para denunciar. Na viagem de trabalho, ouviu diferentes palavras obscenas dos colegas. Em outro momento, durante uma conquista, um colega a abraçou e cheirou seu pescoço. “O lugar tinha muitas câmeras, desta vez denunciei e exigi alguma ação por parte da empresa. Apesar de ele ter sido repreendido não deu em nada”.
“Já vi colegas formadas, mulheres incríveis que nunca foram promovidas”.
Silvia relata o que sente e o que já presenciou com outras mulheres. “Já trabalhei em diversas empresas onde eu mesmo tendo conhecimento e habilidade para fazer diversas atividades perdi promoções para homens, que mal conseguiam fazer algo, pelo simples motivo que no mercado de trabalho o homem sempre é mais valorizado”, desabafa.
Confira abaixo o Mapa Interativo com outros relatos.
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