Assolado pela seca, Rio da Prata tinha barragem perto de “sumidouro”
Parecer de pesquisador aponta que material contribuía para diminuir ainda mais o fluxo de água
O Rio da Prata, curso de água com leito seco por seis quilômetros, tinha uma barragem improvisada com sacos de ráfia e terra perto de “sumidouro”, ponto em que passa a correr de forma subterrânea. A reportagem apurou que os invólucros estavam a dois quilômetros acima da Ponte do Curê, na MS-178, em Jardim, a 236 km de Campo Grande.
A escassez hídrica assola a Região Hidrográfica do Paraguai, onde fica o Prata. A situação é causada pela falta de chuvas regulares em Mato Grosso do Sul, mas a provável violação da legislação ambiental que acomete o rio foi destacada em parecer encaminhado ao MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul): a barragem estava contribuindo para diminuir ainda mais o fluxo do corpo hídrico.
O parecer é do pesquisador Tiago Karas, que tem doutorado pela UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) e leciona na UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) de Jardim.
“Outro exemplo de provável violação das legislações ambientais, constatado in loco e reflexo da ausência de gestão da micro bacia do Rio Prata e irresponsabilidade dos respectivos proprietários privados, fazendas, que abarcam esta área monitorada, foi quando deparou-se (...) com uma pequena barragens feita com "sacos ráfia" e cheios de terra”.
Conforme o parecer, alguns dos invólucros ainda estavam fechados. “E contendo terra vermelha, comprovando que o material utilizado para encher os sacos não são de origem deste rio e que foram ali colocados de forma intencional no único veio de água do leito existente. Outra observação é que a existência dessa barragem foi encontrada muito próxima da localidade onde o fluxo hídrico e superficial do Rio Prata se interrompe, ou seja, local onde havia drástica redução e a barragem estava contribuindo para diminuir ainda mais o seu fluxo”.
Conhecido pelas águas cristalinas, o Rio da Prata corre por Bonito e Jardim. Ele nasce na região da Serra da Bodoquena e deságua no Miranda, que é tributário do Rio Paraguai, o principal do Pantanal.
A saúde hídrica do Prata também está ligada aos banhados, também chamados de brejão, onde drenos secam as áreas úmidas para aumentar a lavoura. Uma solução é transformar o banhado em unidade de conservação.
Desolador – Em 3 de julho, a reportagem do Campo Grande News não encontrou uma gota de água onde deveria ter rio com até quatro metros de profundidade. Com a chuva neste mês, a água voltou a correr em trecho de 500 metros, mas em pouca quantidade.
No dia 12 de julho, o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) abriu inquérito civil para apurar as causas da sujeira e da seca do Rio da Prata.
Entre os dias 26, 29 de junho e 3 de julho, o Instituto Guarda Mirim Ambiental de Jardim percorreu trecho de 6,9 quilômetros do rio. No documento, foi constatada a fragilidade da mata ciliar, proximidade de área de pastagem e da estrada, além da barragem.
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