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Meio Ambiente

Desmatamento ilegal acelera turbidez das águas cristalinas de Bonito

Expansão da agricultura e manejo irregular do solo contribuem para o cenário

Izabela Cavalcanti | 17/02/2023 11:07
Rio da Prata, na região de Bonito (Foto: João Gomes)
Rio da Prata, na região de Bonito (Foto: João Gomes)

O desmatamento ilegal, seja para manejo de estradas vicinais ou para a expansão da agricultura, é apontado como um dos responsáveis pelo turvamento dos rios de Bonito, município a 297 km de Campo Grande. Conforme o Nugeo (Núcleo de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto do Ministério Público do Estado), somente em 2022, foram 75,76 hectares desmatados de forma irregular em 12 propriedades. Já em 2021, foram 294,2 hectares em 31 fazendas.

Estudo feito por pesquisadores da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Ipê (Instituto de Pesquisas Ecológicas), Embrapa Pantanal e UCL (University College de Londres) expõe a evolução do rio em 10 anos.

“Resultados mostram que a soja passou de 4% da bacia hidrográfica em 2010 para 23% em 2020, expandindo-se principalmente sobre pastagens (31%) e vegetação nativa (12,9%)”, diz trecho da pesquisa publicada na revista científica Tropical Conservation Science.

Outra parte da publicação destaca: “Também mostramos que, embora a plantação de soja tenha se expandido rapidamente entre 2014 e 2016, ela desempenhou um papel significativo no aumento do número de dias em que a água do Rio da Prata foi classificada como muito turva”.

Além disso, na conclusão do levantamento foi enfatizado sobre a necessidade de planejamento da expansão da soja, levando em consideração o melhor manejo do solo (plantio direto).

O coronel Ângelo Rabelo, presidente do IHP (Instituto Homem Pantaneiro), fala da ausência de mata na região. “Não é a soja ou o milho que turva, o que turva é ausência de mata ciliar e manejo inadequado do solo. O tipo de cultura é irrelevante, o que é mais importante é que o manejo do solo seja feito dentro de critérios que efetivamente evitem o aporte de sedimento”, pontua.

“Sem dúvida, o desmatamento ilegal é decisivo para contribuir para a turbidez. Quero crer que, hoje, ele acontece em uma escala muito menor”, completa Rabelo.

As chuvas constantes, manutenção das estradas, manejo do solo, sistema de drenagem também estão na lista de problemas que causam turbidez nos rios de Bonito.

O coronel relata ainda sobre as estradas vicinais. “Nesse momento, eu posso afirmar que a turbidez está sendo causada pelo aporte de sedimento. O aporte de sedimento oriundo principalmente, eu diria que são estradas vicinais mal manejadas. Tem que tomar muito cuidado porque a agricultura pode estar sendo responsabilizada de forma equivocada”, finaliza.

De acordo com o promotor ambiental de Bonito, Alexandre Estuqui, será instaurado procedimento para analisar o caso. “A gente vai instaurar um procedimento com apoio do núcleo ambiental para analisar a situação. O turvamento é muito complexo. Como o problema é visível, vamos instaurar para analisar a causa desse turvamento, dependendo do que for detectado a gente vai tomar as medidas cabíveis”, ressalta.

Licenças – Ainda conforme informações do Nugeo, entre 2020 e 2023, foram 41 licenças emitidas, sendo 22 de SV (Supressão Vegetal), 6.904,63 de área autorizada e 19 de Cani (Corte de árvores nativas isoladas) em 1.1361,3 de área.

Segundo explica Estuqui, a área de plantio de soja é isenta de licença, o que precisa de autorização é a remoção das árvores nativas.

“É complexo, porque nem toda lavoura tem desmatamento. A pessoa que converte para área de lavoura, muitas vezes nessa mexida os sedimentos vão para água. Tenho a tese que qualquer desmatamento é prejudicial para o meio ambiente, seja ilegal ou legal, mas existe a autorização”, comenta.

Água do rio Formoso fica escura (Foto: Divulgação/Unidos Conversamos)
Água do rio Formoso fica escura (Foto: Divulgação/Unidos Conversamos)

Projetos - O IHP atua com um projeto no Rio da Prata, com ações para identificar proprietários da área; cercamento da área para evitar acesso da população; construção de terraços para minimizar a força da água; construção de bacias de contenção para barrar a entrada da água no rio; e plantio de mudas e sementes para acelerar a regeneração das APPs (Áreas de Preservação Permanente), quando necessário.

O IASB (Instituto das Águas da Serra da Bodoquena) tem um projeto que se chama Águas de Bonito, que faz trabalho de recuperação de mata ciliar, cercamento de nascente, conservação de solo, trabalho para readequação de estradas. O projeto conta com parceria do Imasul, promotoria de Bonito, Agraer, Prefeitura de Bonito e Sindicato Rural de Bonito.

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