Pantaneiros defendem manejo de pasto para garantir pecuária sustentável
A pecuária sustentável no Pantanal ajuda a cuidar do bioma, defende entidade
A substituição de pastagens nativas degradadas por espécies exóticas, como a braquiária, é uma prática frequente em fazendas do Pantanal. E não é uma situação nova, remonta há décadas. O cuidado com o pasto é uma das frentes que a ABPO (Associação de Pecuária Orgânica e Sustentável do Pantanal) aposta para tornar mais reconhecida e valorizada a carne de bovinos criados no Pantanal. Outras frentes são a originação dos animais (originários da região) e a rastreabilidade.
Recentemente, a retirada de grandes áreas de vegetação e pastagens nativas para a substituição por espécies exóticas ganhou destaque diante do temor de que ocorra desequilíbrio ambiental com a atividade em larga escala. Na semana passada, o projeto MapBiomas apontou que em 2022, o Pantanal teve 30.498 hectares desmatados, sendo 25.574 deles em Mato Grosso do Sul e o restante no Mato Grosso.
Presidente da ABPO, o pecuarista Eduardo Cruzetta, argumenta que há poucas propriedades que tenham condições de uma empreitada nas proporções da que está em análise pelo Imasul, para a retirada de vegetação e pastagem nativa de mais de 10 mil hectares e introdução de espécies exóticas, com investimento de mais de R$ 5 milhões.
Para ele, não há ameaça, assim como também defende que os pecuaristas pantaneiros não produzem desmatamento, seguindo um modelo que passou de geração em geração. O argumento de Cruzetta é que com satélites tudo fica registrado e não há meios de cometer ilegalidade sem ser descoberto.
Os produtores ouvidos pela reportagem e também técnicos da Embrapa apontam a utilização de pastagem exótica como uma necessidade, uma vez que não há sementes de espécies nativas para plantio, um desafio que a Embrapa Pantanal se propôs a solucionar e recebeu declaração de apoio do governo, por meio de uma parceria oficializada durante a Dinapec, na semana passada. É preciso um trabalho de biotecnologia, explica o veterinário e pesquisador da Embrapa Pantanal Urbano Gomes de Abreu.
Ele aponta que a braquiária é utilizada há cerca de 40 anos no Pantanal, estando bem adaptada. E produz bom pasto, explica, que alimenta o gado e os pecuaristas suplementam com sal mineral. O produto final ganha com essa técnica, argumenta.
Carne com selo verde – Os pantaneiros alimentam faz tempo um desejo de ver a carne mais reconhecida no mercado por sua produção sustentável, que lhe agregaria valor no mercado interno e no exterior. Há muito potencial de crescimento. Cruzetta aponta que se chegou a 80 mil animais abatidos, mas o plano da ABPO é alcançar 400 mil.
Hoje, são 130 produtores e um esforço para ampliar a participação no projeto da carne sustentável, como chamam o produto pantaneiro criado dentro dos critérios certificados. O governo estadual reconheceu o potencial e reduziu a alíquota de ICMS para os animais comercializados. Há uma área delimitada para se enquadrar no benefício, que pega a região pantaneira desde Porto Murtinho até Sonora.
A pecuária no Pantanal é extensiva e adaptada ao ciclo das águas no Bioma. Os animais são criados no campo e alguns produtores suplementam com sal mineral. Há quem retire o rebanho do Pantanal para concluir a criação com alimentação reforçada fora da região alagável.
Cruzetta explica que seu rebanho é criado somente no Pantanal, adaptado às peculiaridades climáticas. Ele contou que tem animais prontos para abate mas somente poderá retirá-los quando o volume de águas reduzir, o que pode levar dois meses.
Prática sustentável- A criação sustentável no Pantanal envolve o manejo dos pastos e a necessidade do uso da braquiária, diante da falta de sementes nativas. A Embrapa elaborou no final de 2022 um guia com orientações para os produtores, como as áreas a definir e o tipo de forrageira. Um critério é a diversidade, com o uso de mais de um tipo de forrageira. Ao mesmo tempo que oferece limitações diante dos ciclos de cheias e secas, o Pantanal é eclético, criando condições de adaptação para qualquer raça de bovino, conforme Abreu.
Decreto de 2015 sobre o Pantanal aponta que a preservação deve ser de 50% ou 40% conforme o tipo de vegetação. Para remoção e substituição, é preciso estudo de impacto ambiental e licenciamento pelo Imasul.
Dentro do protocolo da pecuária sustentável, em parceria com a Embrapa, outra meta é neutralizar a produção de carbono, diante da retirada de vegetação para substituição e o próprio consumo pelos animais.
Silvio Balduíno, também dirigente da ABPO, defende a retirada de material lenhoso e substituição de pastos. Ele alerta que touceiras e capim seco acabam se tornando combustível para os incêndios florestais. O manejo correto, a presença de animais na pastagem e peões cuidando do gado contam a favor da preservação e diminuem o risco do fogo, diz.
4X30 - Balduíno explica que os pantaneiros na estiagem ficam atentos ao que chamam de 4 vezes 30, que evidenciam o risco das queimadas: umidade do ar abaixo de 30%, temperatura acima de 30 graus, vento acima de 30 quilômetros por hora e mais de 30 dias sem chuva. Um drama que ocorreu em 2020 com uma intensidade que não se via havia muito tempo, provocando destruição da vegetação e morte de animais.