Desmatamento do Pantanal em MS é cinco vezes maior que em MT
Da área total do bioma no Brasil, 64% está aqui e 36% no vizinho Mato Grosso
Noventa porcento do desmatamento no Pantanal ocorre na porção localizada em Mato Grosso do Sul. Da área total do bioma no Brasil, 64% está em MS e 36% no vizinho Mato Grosso, onde o desmate, conforme dados do MapBiomas Alerta, é de 10%. Isso significa, conforme especialistas, que a maior planície alagada do mundo é bem menos protegida em MS do que em MT.
Levantamento frequente do MapBiomas revela que, em todo o ano de 2022, o Pantanal teve 30.498 hectares desmatados nos dois estados, mas 25.574 deles em Mato Grosso do Sul. Em MT, o total é de 4.924, o que revela que a retirada de vegetação nativa é cinco vezes maior na porção sul. A dinâmica se repete, pelo menos, desde 2019. (Veja tabela nesta página).
Corumbá aparece como a cidade onde mais ocorreu desmate no período, seguida de outras duas cidades de MS e somente em quarto lugar aparece uma de MT, sendo elas Porto Murtinho e Aquidauana do lado sul-mato-grossense e a mato-grossense Santo Antônio de Leverger.
Para o diretor do SOS Pantanal, Leonardo Gomes, o fato da presença pantaneira em MS ser maior que no Estado vizinho não explica a discrepância dos números, já que o desmate deveria corresponder, no máximo, a cerca de 64% do total, equivalendo à porção sul-mato-grossense do bioma.
“Seria mais aceitável se seguisse essa proporção, mas não, é quase 90% de desmatamento que ocorre na porção em Mato Grosso do Sul”, afirma Gomes, analisando que uma das causas é que as leis em MS são mais permissivas que em MT. “Eles (MT) fizeram uma alteração recente lá, em outubro, que ficou ainda mais restritiva”.
Ele cita, por exemplo, o fato de que a troca de cobertura vegetal no Pantanal em MT permite que apenas 40% do território a ser desmatado receba vegetação não nativa,ou seja, exótica ao bioma. Aqui em MS essa área de permissão é de 60%. Lá também é proibido qualquer tipo de monocultura em larga escala, como a plantação de soja, já na parte sul do Pantanal, não.
“A lei lá é explícita na proibição de monocultura em larga escala, como soja, mineração e pequenas centrais hidrelétricas”, diz Gomes. Segundo ele, além de lei em MS ser mais flexível, a licença ambiental também é menos criteriosa e por isso, o SOS Pantanal montou um grupo de especialistas em licenciamento ambiental para analisá-los e então, apresentar uma recomendação ao Governo do Estado como proceder sem tanta liberalidade na concessão de licenças.
“Em breve teremos uma análise criteriosa sobre isso”, informa, ressaltando que uma das questões que não são levadas em conta nessas concessões para abertura de lavouras, pastagens ou a análise do impacto da retirada na vida animal.
Conforme o diretor do SOS Pantanal, a cultura socioeconômica sul-mato-grossense bem como a tradição política fazem com que a porção sul do bioma seja menos protegida. “Entendo que a forma como Mato Grosso se planejou politicamente priorizou a proteção do Pantanal”, avalia.
Por fim, ele diz que o maior perigo para a planície é o avanço de monoculturas, principalmente da soja, já que “se isso pega, vai ser um desastre”. “Para uma lavoura é feita a implantação de drenos, tem a questão dos agrotóxicos. Diferente da pecuária, que consegue se movimentar no bioma e não altera tanto a vida ali”.
Licenças – O Campo Grande News tem acompanhado o avanço da cultura da soja no Pantanal e esta semana divulgou que há cinco pedidos para liberação de área pantaneira para plantação da leguminosa.
Audiência pública na semana passada analisou projeto de retirar árvores e pastagens nativas em uma área de 12,3 mil hectares em fazenda no Pantanal e depois disso, o Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) informou que tem ainda outros quatro pedidos de licenciamento para avaliar referentes a grandes áreas na região.
Por lei, desmatamentos e alterações em áreas superiores a mil hectares exigem a licença ambiental e a apresentação de um Rima (Relatório de Impacto Ambiental). A próxima audiência será em 27 de abril, referente à Fazenda São José, também com supressão de pastagem nativa e vegetação para colocação de pastagem exótica, como a braquiária.