Sem peixes em MS, grupo gasta R$ 85 mil à procura dos “grandes” no MT
À procura dos “grandes”, um grupo de pescadores deixou Mato Grosso do Sul neste sábado, data em que chega ao fim a Piracema, com destino ao vizinho Mato Grosso. Junto com as 17 pessoas também vão pelos ares R$ 85 mil. O dinheiro deixa de ser gasto aqui por um motivo preocupante: faltam peixes nos rios do Estado.
“Tenho um rancho na beira do rio Aquidauana há oito anos. Nos últimos quatro anos a quantidade de peixes caiu assustadoramente. Você não consegue um exemplar bom, na medida”, afirma o juiz Marcelo Raslan. Pescador há 20 anos, ele fala saudoso do tempo em que o rio tinha abundância de pintados, jaús.
“Falta fiscalização rigorosa, já passou da hora de acabar com a pesca profissional. O Estado vive de turismo e não de pesca”, salienta Raslan. Ele lembra que, se não fosse a redução do estoque pesqueiro, Mato Grosso do Sul, detentor da maior parcela do Pantanal, sairia na frente do Estado vizinho.
“Vamos gastar mais de R$ 80 mil só para ir pescar. Temos cidades melhores que o Mato Grosso, paisagens mais bonitas, a melhor parte do Pantanal. Esse dinheiro poderia ficar na economia do Estado”, afirma o juiz.
Para ele, a legislação sobre a pesca é “razoável”, mas a fiscalização não atinge classificação similar. “São três equipes para o Estado inteiro. É fiscalização ou brincadeira?”, questiona. Raslan conta que em oito anos, a PMA (Polícia Militar Ambiental) passou apenas duas vezes pelo seu rancho. “E olha que fui lá e ofereci para ser uma base”, diz. A proposta do magistrado incluía até mesmo doação de combustível para a polícia.
Amante da pesca, o grupo pratica o pesque e solte. “No Mato Grosso, é proibido levar o peixe para a casa. É a maneira mais correta que a gente vê de pesca esportiva, porque faz a manutenção dos peixes no rio. Não visa o peixe, mas o prazer de pescar. Vamos atrás dos peixes que não têm aqui, os grandes, os bitelos. Eles dão trabalho, vai até uma hora de luta”, explica o advogado Luiz Claudio Hugueney de Faria.
Com o recorde pessoal de ter pescado uma pirarara de 45 quilos, o publicitário Julian Pascual Sanz conta que já passou dois, três dias nos rios do Estado sem pescar quase nada. “Precisamos de leis que protejam nossos rios, nossa ictiofauna”, afirma. Ele cita como exemplo Corumbá, que instituiu somente o pesque e solte para o dourado. Considerada rei do rio, a espécie é protegida por legislação específica na Argentina. O País entrou na rota de muitos pescadores brasileiros. “Lá, você pega peixe o tempo inteiro”, afirma o publicitário.
Com a experiência de quem já passou pelos grandes rios do Estado, o analista de sistema Robson Alencar relata a diminuição de peixes e turistas. “Já pesquei no rio Aquidauana, Miranda, Paraguai. Os rios eram mais limpos, o fluxo de turistas era maior”, diz.
Organizador das pescarias, que reúne o grupo há dez anos, o comerciante Ronaldo Ribeiro conta que o gasto para a viagem até Paranaíta, divisa do Mato Grosso do com Rondônia, foi de R$ 5 mil por pessoa. A previsão é que os pescadores, que embarcaram no começo da manhã de hoje no Aeroporto Internacional de Campo Grande cheguem ao destino final no fim da tarde.
“Daqui vamos para Cuiabá, onde mais um vai se juntar ao grupo. Depois, outro voo para Alta Floresta. De lá, uma parte vai de caminhonete a outra vai de avião pequeno até a pousada”, conta. A pescaria será no rio Teles Pires. O grupo organiza duas pescarias anuais e já esteve duas vezes na Argentina.
No retorno, marcado para a quarta-feira à noite, nada de peixes, mas a garantia de boas histórias na bagagem. “O grande prazer é pescar e soltar. Não é fácil não, o peixe grande é troféu”, afirma.
A expectativa é um resultado bem diferente da última pescaria em Mato Grosso do Sul, realizada em agosto do ano passado no Passo do Lontra, no Pantanal. “Foram 24 pessoas e meia dúzia de peixes”.
Vinte e dois peixes em um dia – Também integrante do grupo de pescadores, o economista Fernando Abrahão não embarcou na viagem deste Carnaval, mas foi ao Mato Grosso no mês passado. Ele cita em números a fartura das águas no Estado vizinho. “Num único dia, foram 22 peixes com mais de 30 quilos. Em três dias, foram mais de 50 peixes”, afirma.
O xodó da pescaria foi uma piraíba de 40 quilos. Os mesmo números depõem contra os rios sul-mato-grossenses. “Fui pescar oito vezes aqui, não consegui quase nada acima de 10 quilos. Realidade bem diferente de quinze anos atrás, quando tínhamos grandes peixes”, diz.