Câmara tem "grupo de vereadores que só cria problemas", diz Bernal
Prestes a completar 100 dias de administração o prefeito de Campo Grande, Alcides Bernal (PP), permanece mantendo o Executivo em clima de guerra com o Legislativo. Desde o primeiro dia de gestão, o progressista trava uma batalha com vereadores da oposição e matém seu discurso oscilando entre ódio e amor aos edis. Hoje, ele reagiu às críticas feitas ontem, quando dois secretários foram à Câmara Municipal prestar contas, e disse que há um grupo de vereadores que só lhe cria problemas.
Nos últimos dias, a instabilidade ficou mais evidente. Na última sexta-feira, durante sorteio de prêmios do IPTU 2013, o prefeito declarou que tem respeito pelos vereadores e que está aberto a bom relacionamento com todos, “inclusive com os do PMDB”, ressaltou.
Quatro dias após fazer a declaração, Bernal mudou o discurso. Nesta terça-feira, em entrevista à rádio Capital FM, ele disse que “a relação (entre os poderes) é preocupante porque não há interesse em haver harmonia (por parte dos vereadores)”. Novamente jogando a culpa nos integrantes da Casa de Leis, o progressista afirmou que “não bastasse tantos problemas enfrentados pela cidade, tenho que enfrentar pressão política de um grupo de vereadores que está lá para criar problemas, não soluções”, atacou.
Ignorando o trabalho iniciado ontem pela Comissão Permanente de Saúde, integrada pelos vereadores Paulo Siufi (PMDB), Jamal Salem (PR), Grazielle Machado (PR), Elizeu Dionizio (PSL) e Coringa (PSD), que pretende cumprir cronograma de visitações nas unidades de saúde e, assim, comprovar a veracidade dos fatos para embasar a instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), o prefeito questionou, mais uma vez, “por que ainda não abriram uma CPI?”.
O presidente da comissão, vereador Paulo Siufi (PMDB), respondeu ontem ao Campo Grande News sobre este mesmo questionamento feito pelo chefe do Executivo inúmeras vezes. “Ele foi vereador por seis anos por que não instalou esta CPI antes?”, perguntou o peemedebista. Siufi disse ainda que, quando Bernal era vereador, visitava as unidades de saúde na calada da noite, “nós não vamos fazer assim. Vamos cumprir publicamente a agenda que estipulamos, não temos nada a esconder”, finalizou.
Outra questão levantada pelo prefeito durante entrevista à rádio foi o atraso nos alugueis por parte da Câmara. “Temos que saber para onde esse dinheiro foi parar e por que não depositaram em juízo”, afirmou Bernal. No entanto, em ofício enviado pelos vereadores ao prefeito, a Mesa Diretora da Casa relembrou que o progressista era vereador na época do atraso e que, inclusive, na ocasião, votou a favor da desapropriação do imóvel, fato que agora no cargo de prefeito, ele abomina.
Mais uma contradição, ainda relacionada ao tema, é o pagamento da dívida acumulada por conta dos aluguéis. O prefeito já afirmou várias vezes que não pretende quitar o débito, porém, hoje disse na rádio que irá sim resolver o problema da Câmara. “Não vou permitir que se cumpra a ordem judicial de despejo. Não vou deixar que aconteça esse vexame”, prometeu.
O administrador da Capital novamente cogitou a transição da Casa de Leis ao prédio da antiga rodoviária, mesmo diante dos argumentos já apresentados pelos vereadores também em ofício enviado à prefeitura. Conforme a Mesa Diretora, somente 9% do imóvel pertence ao Município, isso acarretaria a desapropriação de outros 130 proprietários, além da revitalização a ser feita no local. Ao todo seriam gastos, em média, R$ 25 milhões.
O prefeito também pontuou sua vontade em construir um Centro Político Administrativo onde instalaria a Câmara, o Paço e as secretarias municipais. “Já mandei uma equipe técnica analisar a revitalização da rodoviária e, ao mesmo tempo, a equipe para trabalhar a possibilidade de criar um centro político, mas isso não é da noite para o dia”, afirmou.