Clã de Bumlai tem dívida de mais de R$ 1 bilhão em empréstimos
O auditor da Receita Federal Roberto Leonel Oliveira Lima disse, nesta manhã em Curitiba, durante entrevista coletiva para explicar a 21ª fase da operação Lava Jato deflagrada hoje em três estados e em Brasília, denominada Passe Livre, que José Carlos Bumlai e suas empresas realizaram uma série de empréstimos em bancos públicos e privados que não foram pagos. A dívida das empresas do clã Bumlai somaria mais de R$ 1 bilhão.
De acordo com o procurador do MPF (Minsitério Público Federal), Diogo Castanho de Matos, a investigação é feita em conjunta pelo Ministério Público, Polícia Federal e Receita Federal, e iniciou a partir de delação premiada do gerente da área internacional da Petrobrás, Eduardo Costa Vaz Musa, que teria sido procurado em 2006 pelo também diretor da empresa Nestor Serveró, que solicitou que a empresa Schahin deveria ser contratada para operação do navio sonda Vitória 10.000, em 2009.
Questionada a razão dessa contratação da Schahin para operar o navio sonda, Eduardo Musa teria revelado que seria uma forma de quitação de um empréstimo feito por José Carlos Bumlai no Banco Schahin em 2004 para o Partido dos Trabalhadores no valor de R$ 12 milhões.
A partir dessa investigação, o procurador disse que foi verificado uma série de empréstimos, “uma dezena” com valores vultuosos que somaria mais de R$ 1 bilhão, que não foram pagos. Conforme Roberto Leonel, os empréstimos eram transferidos para várias pessoas físicas e jurídicas, ligadas à família. “Uma complicada movimentação financeira que merece maior aprofundamento para identificar os reais beneficiários finais”, adiantou.
Empresas – O procurador Diogo Matos revelou que as duas empresas que são administradas pelos filhos de José Carlos Bumlai, a Unisa São Fernando Açúcar e Álcool e a São Fernando Energia, foram beneficiadas por empréstimos no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), a partir de 2005, que somam mais de R$ 500 milhões, que não foram pagos.
Conforme Diogo Matos, o primeiro empréstimo do BNDES a São Fernando Açúcar e Álcool foi feito em fevereiro de 2005, quatro meses após a operação com o Banco Schahin, no valor de R$ 64 milhões. “Na época, segundo a Receita Federal, a empresa estava inativa, sem empregados e nem receita operacional”, lembrou o procurador.
Em 2008, teria ocorrido o segundo empréstimo em favor da São Fernando Açúcar e Álcool no valor de R$ 350 milhões. O que o procurador disse estranhar é o fato de que, na época, já havia pedido de falência da empresa que, “em tese poderia haver restrições sobre a operação de crédito pelo fato do pedido de falencia que já havia sido protocolado”. Diogo Matos disse também que em 2013, essa empresa entrou em recuperação judicial e “agora em agosto 2015 o próprio BNDES pediu a falência da São Fernando Acúçar e Álcool”.
Diante das informações apuradas na Receita Federal só a essa empresa do grupo deve mais de R$ 1 bilhão, sendo mais de R$ 400 milhões só com o BNDES, “que não foram pagos na sua integralidade”, observa o procurador Diogo Matos, que lembra que a investigação ainda é inicial, que está sendo feita pela Receita Federal, Polícia Federal e o MPF.
Esses órgãos também investigam a legalidade de empréstimos feito pela São Fernando Energia, que também foi beneficiária de uma operação com o BNDES, em 2012, no valor de R$ 104 milhões. Na ocasião, a investigação apurou que a empresa tinha sete funcionários e que houve um aporte no capital social, que passou de R$ 10 mil para R$ 30 milhões. “A empresa estava aparentemente sem atividade operacional e, a partir do empréstimo teria iniciada as atividades”, comentou o procurador, acrescentando que tudo está sob apuração.
Na operação de hoje, os policiais federais fizeram busca em apreensão de documentos na sede do BNDES, no Rio de Janeiro. Eles querem identificar a legalidade das operações em questão. “Para sabermos se a liberação desses empréstimos seguiram as normas internas do banco ou se houve alguma desconformidade”, destacou Diogo Matos.
Em Dourados e em Campo Grande, a Polícia Federal e a Receita Federal fizeram busca e apreensão de documentos nas empresas e nos escritórios comerciais da família, além das residências do clã Bumlai, localizadas na Rua Beatriz de Barros Bumlai, em homenagem a ex-mulher do empresário, que foi preso em Brasília, na manhã de hoje e levado para Curitiba para ser ouvido pelo juiz Sérgio Moro.