Dilma convoca luta contra "golpe" e alerta para presidente "sem voto"
Em votação histórica, Dilma Rousseff foi afastada por 180 dias
Em seu primeiro pronunciamento como presidente afastada, na manhã desta quinta-feira (12), Dilma Rousseff (PT) falou novamente que o processo se trata de um golpe, comentou sobre sua trajetória política e terminou convocando a população para lutar contra o impeachment, que colocou, segundo ela, um presidente “sem voto” no comando do País. O pronunciamento, que durou aproximadamente 15 minutos, culminou na descida pela rampa do Palácio do Planalto.
Agora em sua nova condição, Dilma começou dizendo que o que está em jogo não é apenas sua permanência ou não na Presidência, mas também o ganho das classes mais baixas e de programas que levaram jovens à faculdade, população à casa própria. “Diante da decisão do Senado, eu quero mais uma vez esclarecer os fatos e denunciar os riscos de um impeachment fraudulento, um verdadeiro golpe”.
Na votação histórica, o Senado aprovou por 55 votos e 22 contra, o afastamento, por volta das 5h30 desta quinta-feira. Este é o segundo processo de impeachment vivido no Brasil – o primeiro foi em 1992, do ex-presidente Fernando Collor de Melo, atual senador.
A presidente afastada voltou a dizer que o processo é resultado de uma oposição inconformada, que perdeu a eleição presidencial em 2014. “Pediram a recontagem de votos, tentaram anular a eleição e depois passaram a conspirar contra o governo”.
Sobre o crime de responsabilidade fiscal, irregularidade que ela está sendo acusada de cometer, Dilma Rousseff voltou a defender que as medidas foram “legais”. “Não há crime. Atos idênticos foram executados pelos presidentes que me antecederam. Não era crime na época deles, também não é agora. Acusam-me de editar seis decretos de créditos suplementares, é falso, pois eles seguiram autorizações previstas em lei”.
Primeira mulher eleita presidente do Brasil, Dilma disse se sentir “orgulhosa” pelo fato e defendeu que em quase sete anos de seu governo sempre exerceu o mandato de forma “digna e honesta”. “Em nome dos milhões de eleitores que votaram em mim e todos do meu País, vou lutar com todos os instrumentos legais para exercer meu mandato, que termina em 31 de dezembro de 2018”.
Também chamou a população para ir às ruas defender a democracia. “Tenho certeza que a população saberá dizer que é um golpe. Faço um chamado, que se mantenham se mobilizando e em paz. A luta pela democracia não tem data para terminar, é uma luta permanente”.
Injustiça - Colocando como a “maior dor”, Dilma falou se sentir “injustiçada”, ao ser vítima, em suas palavras, de uma “farsa política”. “Já sofri a dor indizível da tortura, da doença, e mais uma vez a dor inominável da injustiça. Confesso que nunca imaginei que seria necessário lutar de novo contra um golpe no nosso País”.
Por fim, também disparou, embora não tenha citado o nome, contra o agora presidente interino, Michel Temer (PMDB), dizendo que o maior risco para o Brasil é ter alguém “sem voto”. Temer é o terceiro presidente do partido que chega ao comando do País indiretamente. Nos outros dois casos, peemedebistas só assumiram por afastamento e morte do titular.