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Política

Elas chegaram à Assembleia e não aceitam mais a posição de "vice"

Entre deputadas, quem quer chegar ao Executivo agora tem de brigar para ser protagonista, não mais coadjuvante

Por Gabriela Couto | 08/03/2024 09:45
Da esquerda para a direita: deputada estadual Gleice Jane (PT), Mara Caseiro (PSDB) e Lia Nogueira (PSDB) (Foto: Luciana Nassar) 
Da esquerda para a direita: deputada estadual Gleice Jane (PT), Mara Caseiro (PSDB) e Lia Nogueira (PSDB) (Foto: Luciana Nassar)

Pela primeira vez na história, a Assembleia Legislativa tem três deputadas estaduais ocupando cadeiras entre as 24 existentes. Elas acreditam que o cenário faz parte dos avanços da sociedade, mas sabem que ainda há um longo caminho a percorrer para garantir a igualdade de gênero na política.

Hoje, por exemplo, mulher forte na política é cotada para vice em eleições para governo ou prefeitura, um preconceito que as interessadas em liderar acham que já tinha de estar no passado.

Conhecida como o “Bichão do MS”, a deputada Lia Nogueira (PSDB) teve o apoio de 15.155 eleitores em 2022. A jornalista começou como vereadora, chegou a Assembleia, mas tem de brigar neste ano para conseguir sair da condição de provável vice para liderar a cabeça de chapa tucana na disputa pela prefeitura de Dourados, cidade localizada a 251 km de Campo Grande.

“Precisamos quebrar o tabu de que mulheres não servem para executivo. Já nascemos gestoras, cuidamos do orçamento familiar. Precisamos assumir o protagonismo. Nosso lugar é onde nós quisermos”, ressaltou.

Ela acredita que o perfil do eleitorado mudou, com mulheres querendo ser mais representadas na política. “No passado tinha isso de mulher não votar em mulher. Mas já na outra eleição percebemos que estamos tendo um olhar diferente. Meu eleitorado é maioria feminino e minhas seguidoras, 60% são de mulher. Creio que já mudou o pensamento e acredito que vão ajudar a eleger mais mulher”

Deputada estadual Lia Nogueira (PSDB) se pronunciando no plenário durante pequeno expediente, nesta semana, na Assembleia Legislativa (Foto: Luciana Nassar) 
Deputada estadual Lia Nogueira (PSDB) se pronunciando no plenário durante pequeno expediente, nesta semana, na Assembleia Legislativa (Foto: Luciana Nassar)

Deputada mais votada da última eleição, Mara Caseiro (PSDB) recebeu 49.512 votos. Ela entrou na política em 2000, quando foi eleita prefeita de Eldorado, cidade localizada a 442 km de Campo Grande. “De lá para cá, avançamos muito. Naquela época passei por preconceito, assédios e dificuldade por ser mulher. Mas não me curvei diante desses obstáculos. Eu mirei meu objetivo e fui em frente”, relembra.

Ela cita que o processo de evolução da sociedade tem sido fundamental para que mulheres possam exercer sua cidadania e ocupar espaços, até porque, elas são maioria a votar. Dos 156.454.011 eleitores que podiam participar da escolha dos candidatos em 2022, 82.373.164 eram do gênero feminino e 74.044.065 do masculino.

O número de mulheres representa 52,65% do eleitorado, enquanto o de homens equivale a 47,33%. No entanto, apenas 302 mulheres foram eleitas, contra 1.394 homens para a Câmara dos Deputados, Senado, Assembleias Legislativas e governos estaduais.

Deputada estadual Mara Caseira, mais votada na última eleição conseguia a presidência da CCJR (Comissão de Constituição, Justiça e Redação) da Assembleia Legislativa (Foto: Luciana Nassar)
Deputada estadual Mara Caseira, mais votada na última eleição conseguia a presidência da CCJR (Comissão de Constituição, Justiça e Redação) da Assembleia Legislativa (Foto: Luciana Nassar)

“Há 92 anos não tínhamos nem o direito de votar, então criou esse estigma de que política não é lugar de mulher. Que é um ambiente muito masculino. Isso entra num entendimento popular e causando uma certa negação da mulher na política. Mas estamos evoluindo. Hoje já percebemos que estão entendendo a importância da participação das mulheres na participação da política. O olhar da mulher no ambiente da política é diferente do olhar que o homem tem”, enfatiza Mara.

A sensibilidade feminina é o principal argumento das três parlamentares para conseguirem chegar onde estão hoje. “Nós temos essa sensibilidade e podemos estabelecer políticas públicas que venham a diminuir essas desigualdades sociais. Cuidamos dos filhos, do lar, do esposo e ainda temos nosso esposo. Nesse sentido temos uma percepção diferente de mundo. Sabemos o quanto sofremos para dar conta de tudo isso. E por que não participar desse espaço tão relevante. Não queremos tomar espaço de ninguém, só queremos ocupar nosso espaço, ter o poder de decisão e de transformação de uma sociedade”.

Deputada estadual Gleice Jane (PT) se pronunciando em defesa do Dia da Mulher na Assembleia Legislativa, nesta quinta-feira (7) (Foto: Luciana Nassar) 
Deputada estadual Gleice Jane (PT) se pronunciando em defesa do Dia da Mulher na Assembleia Legislativa, nesta quinta-feira (7) (Foto: Luciana Nassar)

Esse pensamento é compartilhado com a colega de plenário Gleice Jane (PT). Ela recebeu 9.767 votos na última eleição, ficando como suplente. Mas assumiu a cadeira após o falecimento do ex-deputado Amarildo Cruz (PT).

Para a petista, a falta de presença feminina maciça na política tem origem no passado. “A gente teve uma construção cultural e histórica que o espaço da política era sempre dos homens. É uma construção social de modo geral. Nos últimos anos percebemos que estamos ocupando esses espaços e que somos críticas em quem está ocupando o nosso lugar. Precisamos desconstruir essa mentalidade entre as mulheres para que elas não só votem, mas queiram que os espaços sejam ocupados de maneira diferente”.

Ela está otimista para as eleições deste ano, com uma participação maior de candidatas mulheres. “Esse ano teremos uma boa parcela das mulheres reivindicando os lugares das candidaturas. Estamos avançando”, acrescentou a petista.

Cotas - Parte da mudança também se deve a fiscalização da lei eleitoral, que garante 30% da formação das chapas proporcionais para candidaturas de gênero. Mara Caseiro relembrou o caso recente do ex-deputado estadual cassado Rafael Tavares (PRTB).

O partido ele não cumpriu a regra e por agir de má-fé na construção das candidaturas femininas, consideradas ‘laranjas’, teve os votos anulados e consequentemente perderam a cadeira no Legislativo.

“Nessa última eleição, teve deputado que perdeu o mandato em função do não cumprimento do partido com as cotas. Fez se cumprir a lei. Foi aplicada e fiscalizada. Temos potencial de mudança de conceito e de olhar. Acredito que os partidos vão se ater muito a isso nas próximas eleições. Isso vai ajudar a participação das mulheres a ficar mais efetiva e vai estimular”, disse Mara.

Parte dos recursos também devem ser destinada para candidaturas femininas, mas a deputada afirma que precisa avançar mais nessa legislação. “Temos lei que destinam o recurso para a candidatura feminina. Isso é muito importante, porque a estrutura de uma campanha ajuda a definir o resultado. Eu ainda acho que para atingir essa igualdade [de gênero], temos que ter uma obrigatoriedade de acentos também. Para estimular elas a participarem. Isso estimula muito”.

Por isso, o Dia Internacional da Mulher não é apenas uma celebração, mas também um momento de reflexão e comprometimento com a luta pela representatividade feminina em todos os níveis de poder.

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