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Política

Em áudio, deputados falam sobre fraudar folha de ponto da Assembleia

Aline dos Santos | 29/10/2016 13:09
Côrrea na sessão de 26 de outubro da Assembleia. (Foto: Divulgação/ALMS)
Côrrea na sessão de 26 de outubro da Assembleia. (Foto: Divulgação/ALMS)
Felipe Orro durante sessão na Assembleia. (Foto: Divulgação/ALMS)
Felipe Orro durante sessão na Assembleia. (Foto: Divulgação/ALMS)

Circulando em grupos de WhatsApp, áudio de quase quatro minutos revela diálogo em que o deputado estadual Paulo Côrrea (PR) dá dica de como fraudar folha de ponto ao colega Felipe Orro (PSDB), que também é parlamentar na Assembleia Legislativa.

O parlamentar do PR abre a conversa pedindo que Orro preste atenção e se certifica de que ele está sozinho. Em seguida, Paulo Corrêa cita matéria da Rede Globo sobre o Poder Legislativo. No caso, uma reportagem do Fantástico na Assembleia do Rio Grande do Sul, um indicativo de que a conversa data de junho de 2015, quando a matéria foi veiculada pela emissora.

“A rede Globo está entrando nas Assembleias Legislativas do Brasil inteiro, onde que ela pega você? Você e eu temos bastante, certo! Você sabe o que nós temos mais do que os outros, não sabe? Põe um controle de ponto, mesmo que seja fictício, do começo do ano até agora. Pega o seu chefe de gabinete e manda agir, deixa lá até do dia anterior. Todo dia aquelas pessoas têm que assinar o ponto até que passa esse rolo aí”, afirma Côrrea. Antes da orientação, ele repreende o deputado do PSDB, que disse não saber da reportagem.

Na sequência, Orro pergunta sobre quem está na base, numa alusão a Aquidauana, onde tem funcionários. Em seguida, Côrrea critica o deputado Zé Teixeira (DEM). Ele dispara xingamentos e afirma que o parlamentar do DEM fala mais do que a boca.

Depois, Corrêa retoma o ponto principal da conversa e diz que Orro precisa providenciar registro de ponto e fazer todos assinar. “Se tem mais gente, faz os 40 assinar. Faz uma folha dos 20 normais e os outros que você tem. Assina o ponto, deixa sempre do dia anterior assinado”, reforça Côrrea.

O deputado do PR prossegue com a afirmação de que ele e Orro têm o mesmo problema. “Eu só falei isso pra você, por favor não repita para ninguém. Estou sugerindo porque gosto de você”, diz. Orro finaliza: “pode deixar, um abraço”.

Conforme apurado pela reportagem cada deputado estadual tem direito a receber 75% do valor disponibilizado para um deputado federal para contratação em gabinete. O total corresponde, em média, a R$ 78 mil. O limite seria 25 cargos.

Cortina de fumaça – Felipe Orro disse ao Campo Grande News que a gravação foi feita há um ano e meio e que na ocasião, cumpria uma agenda em Maracaju. Ele nega que o diálogo fosse sobre fraude e que Côrrea apenas sugeriu o ponto eletrônico. Orro diz que nem quis saber o motivo da orientação e que não adotou o ponto. “Mas ele não estava me ensinando a fraudar”, diz.

O deputado afirma que por ser terceiro secretário, portanto componente da Mesa Diretora, tem direito a mais funcionários. A reportagem questionou o número de pessoas que emprega em seu gabinete, o deputado não soube responder de imediato, mas que poderia fazer levantamento.

Orro avalia que a divulgação do áudio na véspera da eleição para prefeito em Campo Grande foi uma “cortina de fumaça”. Sem citar nomes, afirmou que foi chantageado com essa gravação por duas vezes. Na primeira, a tentativa de chantagem envolvia R$ 10 mil.

“Duas semanas atrás um ex-politico aqui tentou me chantagear também. Que tinha o áudio e era gravíssimo. Se não parassem de falar mal de certo candidato, iria divulgar”, diz.

Orro relata que não denunciou nenhuma das tentativas de chantagem e que não tem envolvimento direto na campanha em Campo Grande.

O deputado reforçou sua defesa por meio de nota à imprensa. No documento, Orro informa que “todos os servidores lotados em meu gabinete prestam o devido serviço para atender às demandas que chegam a nosso mandato. São servidores comissionados, cedidos ou efetivos da Casa, que pra nossa satisfação optam por prestar serviço em nosso gabinete, sendo que todo trâmite funcional segue as normas legais”.

Outro lado – Citado na gravação, Zé Teixeira disse que não vai comentar e quem ouvir que faça sua própria análise sobre o diálogo. A reportagem não conseguiu contato com Paulo Corrêa.

A assessoria de imprensa do parlamentar informou que ele está em viagem. O Campo Grande News também não conseguiu contato com o presidente da Assembleia, deputado Junior Mochi (PMDB).

Abaixo a conversa entre os deputados Paulo Corrêa e Felipe Orro: 

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