Guardiã da moral, Câmara permanece inerte e acusado de estupro faz silêncio
Casa de Leis de Campo Grande já sediou mutirão para procurar conteúdo sexual em livros e repudiou exposição em SP
Sempre disposta a agir na defesa da moral e dos bons costumes, a Câmara Municipal de Campo Grande, que fez a sessão de abertura dos trabalhos nesta segunda-feira (dia 4), opta pela inércia sobre o fato de um vereador ser acusado de estuprar um adolescente.
O caso foi denunciado à Policia Civil em 2017 e está na Justiça, com audiência marcada para amanhã (dia 5), quando será ouvido o adolescente que acusa o vereador Eduardo Romero (Rede). O episódio veio a público em janeiro deste ano.
Depois de negar o crime por meio de nota divulgada à imprensa, Romero evitou os jornalistas nesta segunda-feira, enquanto a presidência da Câmara informa o motivo de não poder tomar atitude sobre o caso.
“Como eu já disse, não podemos nos precipitar. Está havendo uma investigação em segredo de Justiça e a Câmara não tem nenhuma informação ou notificação sobre o assunto. Vamos aguardar”, afirma o vereador João Rocha (PSDB), presidente da Casa de Leis.
De acordo com Rocha, a Câmara segue defendendo os princípios de moralidade, respeitabilidade, legalidade e regularidade. “Se vier a notificação, se for o caso, nós vamos adotar os procedimentos necessários, até porque somos uma Casa de Leis”, afirma.
Sobre afastamento, o presidente da Câmara afirma que não há previsão legal no regimento nessas situações e, caso houvesse, deveria ser derrubado para que não houvesse injustiça. “É uma injustiça pré-condenar alguém que está em fase de investigação e que pode se comprovar que não houve nada”, diz.
No quesito cruzadas morais, a Câmara de Campo Grande já sediou, por exemplo, um mutirão para procurar em 200 livros escolares da Reme (Rede Municipal de Ensino) eventuais “doutrinações” envolvendo assuntos sobre sexo.
A iniciativa fez parte do projeto "Escola Sem Partido". Exposição em São Paulo também teve pronta reação do Poder Legislativo da Capital, que aprovou moção de repúdio sobre a polêmica performance ‘La Bête’, realizada no MAM (Museu de Arte Moderna) de São Paulo.
A performance se tornou polêmica depois que um vídeo de uma criança tocando o tornozelo de um homem nu viralizou na internet.
Silêncio – Eduardo Romero, que se manifestou apenas por nota à imprensa, adotou o silêncio hoje. Antes do começo da solenidade da abertura do ano no Poder Legislativo municipal, ocupou o auditório destinado ao público, mas não se lançou aos efusivos abraços e cumprimentos a exemplo dos demais colega vereadores. O parlamentar deixou o plenário, rapidamente, logo após o encerramento da sessão.
O caso começou a ser investigado em novembro de 2017 e já está em fase processual. À polícia, a mãe da vítima relatou que notou que o filho estava com comportamento estranho e no dia 17 de novembro perguntou o que havia acontecido.
O adolescente, então, relatou que no dia 12 de novembro foi até a casa do vereador acompanhado de um tio que trabalhava na reforma da casa de Romero. Em um quarto, teria sido abusado.
Após o menino relatar o caso à família, os pais da vítima procuraram o vereador, que negou as acusações. Quinze minutos após deixar a casa onde houve a conversa, Eduardo teria mandado uma mensagem chamando a família da vítima para conversar novamente.
Os pais do adolescente foram até a casa de Eduardo, onde o vereador teria assumido o crime. Segundo a denúncia, ele disse que agiu sob efeito de drogas. Em nota, o vereador nega as acusações, dizendo tratar-se de “acusação totalmente falsa e indevida”.
Segundo ele, “estar na política te transforma em inimigo de muita gente, e não medem esforços para prejudicar e tirar de cena. O vereador acrescentou que “a justiça está fazendo seu trabalho e em breve teremos as respostas. Confio na Justiça e em Deus, e tenho a consciência tranquila”.