Para CRM, denúncia contra Dobashi preocupa por privilégio à rede privada
A queda de Beatriz Dobashi, que nos últimos quinze anos comandou as secretarias de Saúde em Campo Grande e Mato Grosso do Sul e até 2012 presidia o Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde), provocou apreensão nas entidades médicas.
Ontem, após divulgação de escutas da operação Sangue Frio, realizada em março pela PF (Polícia Federal), ela anunciou o pedido de afastamento. Hoje, a exoneração, a pedido, foi oficializada pelo governador André Puccinelli (PMDB).
Na gravação, a secretária e o diretor do HR (Hospital Regional) Rosa Pedrossian, Ronaldo Perches Queiroz, combinam como responderiam ao Ministério da Saúde solicitação sobre o interesse do Estado em repasse de aceleradores lineares para tratamento de pacientes com câncer. A manobra era para que equipamentos usados na radioterapia fossem enviados apenas ao HR e ao Hospital do Câncer, administrado na época por Adalberto Siufi. O diretor foi demitido.
“Isso tem que ser apurado com rigor, porque a função dela é beneficiar a saúde pública, destinar o máximo dos recursos para melhorias da saúde publica, e não beneficiar a saúde privada”, afirma o presidente do CRM/MS (Conselho Regional de Medicina), Luís Henrique Mascarenhas Moreira.
Ele salienta que a decisão é delicada, pois as escutas levam a crer que havia certa resistência por parte da secretária pra implantação dos aceleradores lineares.
A operação Sangue Frio também respingou no próprio conselho. Em maio, o CRM divulgou nota informando que investiga a conduta dos médicos citados na operação e do assessor-jurídico do conselho. Em uma escuta, o advogado André Borges, dialoga com o médico Adalberto Siufi, investigado na ação.
O presidente do SinMed/MS (Sindicato dos Médicos), Marco Antônio Leite, afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que vai aguardar o desfecho das investigações.
Para o presidente da ABCG (Associação Beneficente de Campo Grande), Wilson Telensco, Beatriz Dobashi agiu corretamente ao se afastar. “Com essas denúncias, ela não tinha condições de fazer a gestão da saúde no Estado, e, assim, está preservando o governador”. A ABCG reassumiu em maio o comando da Santa Casa, maior hospital de Mato Grosso do Sul.
Sangue Frio – A ação revelou o submundo do tratamento contra o câncer, envolvendo denúncias de contratos suspeitos, superfaturamento, corrupção e formação de quadrilha. São investigados o HU (Hospital Universitário), o Hospital do Câncer e a clínica Neorad, que pertence a Siufi. (Colaborou Giselli Figueiredo)