Pastor que gravou deputados depõe, faz mistério e nega chantagem
Jairo Silveira deu depoimento para o deputado Maurício Picarelli a portas fechadas e conteúdo será mantido em sigilo
O pastor Jairo Fernandes Silveira, que gravou o deputado Paulo Corrêa (PR) supostamente dando dicas ao parlamentar Felipe Orro (PSDB) de como fraudar a folha de pontos dos funcionários de seu gabinete, respondeu a todas as perguntas feitas pelo corregedor da Assembleia Legislativa, deputado Maurício Picarelli (PSDB), que investiga os colegas. Mas, o conteúdo do depoimento, prestado nesta quinta-feira (24), será mantido em sigilo.
Silveira chegou ao gabinete de Picarelli acompanhado do advogado Afonso Carvalho Assad, por volta das 14h30. A oitiva começou às 15h e, 40 minutos depois, ao sair da sala do corregedor, o pastor não quis falar com os repórteres. “Vou fazer uma coletiva para contar todos os detalhes e mostrar tudo o que eu tenho”, disse referindo-se às gravações.
O deputado responsável por investigar se Corrêa e Orro quebraram o decoro parlamentar afirma que fez ao menos dez perguntas para Silveira. “Ele respondeu tudo, deu todos os detalhes que precisávamos e aproveitou para dizer que não é chantagista”.
Picarelli deixou claro que o fato do pastor ter tentado vender as gravações ou extorquir os políticos envolvidos não fez parte do questionário. “Quem está sendo investigado não é ele, são os parlamentares”.
O depoimento não foi gravado, mas Silveira e o advogado leram e assinaram a ata.
Fase final - O corregedor já ouviu o deputado Zé Teixeira (DEM), o ex-secretário de Fazenda de Dourados, Walter Carneiro e Sammer Abder Rahman Abdallah, servidor da Casa Civil. O trio relatou que o pastor Jairo, queria vender uma “cópia da gravação” ao parlamentar, que recusou a proposta.
Na próxima semana, Picarelli deve ouvir Paulo Corrêa e Felipe Orro e então analisará todo o conteúdo. Ele espera terminar a apuração em no máximo 15 dias.
A punição para a quebra de decoro parlamentar vai de advertência à cassação do mandato, neste último caso, se uma comissão de ética assim julgar.
Investigações paralelas – Jairo Silveira entregou as gravações aos Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), que investigo o conteúdo dos áudios e as possíveis fraudes nos pontos dos funcionários dos deputados.
A Deco (Delegacia Especializada em Crime Organizado) investiga a legalidade de grampo telefônico.
A gravação foi feita no celular do pastor. Silveira alega que emprestou o aparelho ao deputado durante uma reunião em Maracaju – a 160 km de Campo Grande –, mas nega que foi ele quem compartilhou o áudio, que viralizou em grupos de WhatsApp.
Na conversa ao telefone, Corrêa sugere a criação de uma “folha fictícia” caso fosse necessário, para que o deputado Felipe Orro não tenha problemas futuros.