Exclusivo: entrevistamos o pastor que gravou dica de fraude entre deputados
O celular usado pelo deputado estadual Felipe Orro (PSDB) na ligação em que recebe orientações, do colega Paulo Corrêa (PR), de como fraudar folha de ponto de funcionários pertence ao presidente do PTN em Maracaju, a 160 quilômetros da Capital, o pastor evangélico Jairo Fernandes.
Falando com exclusividade ao Campo Grande News nesta terça-feira (1º), ele confirma ser o autor da denúncia ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado). Se mostrou receoso sobre os detalhes do caso: "Eu tenho medo, sabe, do sigilo da Justiça, de estar falando alguma coisa", justifica-se.
Investigação foi aberta no órgão para apurar o diálogo dos parlamentares. Na conversa, Corrêa sugere que Orro implante uma folha de ponto, "nem que seja fictícia", em seu gabinete para controlar a frequência de funcionários e evitar problemas.
Jairo diz que o receio em dar detalhes sobre o caso é pelo medo de violar o sigilo das investigações. Ele diz que irá acionar advogados pedindo orientações sobre como se manifestar a respeito da situação.
Ele confirma ser dono do aparelho em que a ligação foi feita, possivelmente no começo de junho de 2015. Nela, Corrêa cita matéria da Rede Globo sobre farra de dinheiro público em assembleias legislativas.
“A rede Globo está entrando nas Assembleias Legislativas do Brasil inteiro, onde que ela pega você? Você e eu temos bastante, certo! Você sabe o que nós temos mais do que os outros, não sabe? Põe um controle de ponto, mesmo que seja fictício, do começo do ano até agora. Pega o seu chefe de gabinete e manda agir, deixa lá até do dia anterior. Todo dia aquelas pessoas têm que assinar o ponto até que passa esse rolo aí”, afirma Corrêa no áudio.
O presidente municipal do PTN não quis entrar em detalhes da ocasião em que o empréstimo do telefone foi feito. Também não comentou informações de que o material estaria sendo usado em tentativas de extorquir os envolvidos.
Felipe Orro disse que na ocasião estava no aniversário da cidade de Maracaju, comemorado no dia 11 de junho, quando recebeu a informação de que Paulo Corrêa queria falar com ele “urgentemente”. Como estava sem celular, pedido o aparelho de uma pessoa, que ele identifica apenas como “pastor Jairo”.
O deputado afirmou que recebeu a notícia, depois do episódio, de que Jairo teria a intenção de vender a gravação em troca do silêncio. Inclusive, teria ido à Assembleia Legislativa com este objetivo, "mas não quis recebê-lo", afirma o deputado.
“Eu nem entendi o motivo da conversa (com Paulo Corrêa) a princípio, até porque eu faço o controle dos servidores daqui e do interior”. Segundo o parlamentar, o número de servidores não extrapola a cota disponível para gastar com pessoal.
Orro não quis informar quantas pessoas mantém em seu gabinete. Disse somente que está dentro da legalidade, mas garante que informará aos órgãos de controle, caso eles requisitem.