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Política

Pastor está acostumado a gravar conversas, mas nega ser chantagista

Jairo Fernandes Silveira falou com exclusividade ao Campo Grande News

Mayara Bueno | 03/11/2016 15:39
Pastor Jairo Fernandes Silveira, em entrevista exclusiva ao Campo Grande News. (Foto: Mayara Bueno)
Pastor Jairo Fernandes Silveira, em entrevista exclusiva ao Campo Grande News. (Foto: Mayara Bueno)

No centro de uma polêmica envolvendo deputados estaduais, o pastor evangélico Jairo Fernandes Silveira está acostumado a gravar conversas com 'poderosos', mas diz que agora teme ser rotulado como chantagista. Somente ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), apresentou 17 recentemente, algumas contendo áudios que ele mesmo grava com o celular.

Pastor Jairo está em Campo Grande nesta quinta-feira (3) e falou com exclusividade ao Campo Grande News. De um lado, responsável por uma denúncia contra políticos. Do outro, alvo de acusações de tentativa de extorsão e oportunismo.

Jairo mantém um aplicativo de gravação de ligações em seu aparelho celular. Ligado ao meio político – é dirigente do PTN em Maracaju, por exemplo – diz que grava os diálogos “para se resguardar”.

Dias depois da conversa entre os parlamentares, feita em um momento em que emprestou o celular ao deputado estadual Felipe Orro (PSDB), ele teria verificado as gravações para excluí-las. “Sempre apago. O que vejo que é importante eu salvo”, justifica.

Foi o caso da gravação tornada pública na semana passada. Nela, Orro ouve de Paulo Corrêa (PR) o que seriam dicas para burlar folhas de pontos de funcionários da Assembleia Legislativa.

A conversa foi gravada em junho do ano passado. Segundo o pastor, ele estava com Orro durante o lançamento de uma barraca em uma feira tradicional que ocorre em local conhecido por Redondo BNH, na cidade de Maracaju, em 2015.

Na ocasião, Orro, pediu o aparelho emprestado, dizendo que o dele estava sem bateria. "Acho que ele já agiu de má fé, para a gravação não ficar em seu celular", sugere o pastor.

Extorsões e medo – Jairo nega que faça as gravações com a intenção de extorquir políticos. Em Maracaju, ele já se envolveu em situação semelhante, atualmente em fase de investigação policial.

Mas, então, por que só um ano e meio depois decidiu levar a gravação da conversa de Orro e Corrêa ao Gaeco? “Eu queria evitar isso que está acontecendo agora”, responde Jairo.

“Hoje você denuncia e você é quem vira o culpado. Não denunciei antes por medo, tudo que denuncia vira contra você e é chamado de chantagista”, justifica-se.

Como já havia falado ao Campo Grande News anteriormente, o evangélico nega ter pedido qualquer coisa em troca de seu silêncio. Para ele, a acusação de que a gravação tenha sido usada como arma de extorsão é “tentativa de se defender”.

“Se for ver bem, se houvesse chantagem eles deveriam ter denunciado na ocasião. Porque só agora estão falando isso”, questiona, em relação aos deputados gravados.

O pastor nega ter pedido algo em troca do silêncio. (Foto: Mayara Bueno)
O pastor nega ter pedido algo em troca do silêncio. (Foto: Mayara Bueno)

Precedente – Outro fator que teria motivado a denúncia ao Gaeco é o caso semelhante em que se envolveu em Maracaju. Lá, disse ter sido chamado de chantagista por um delegado – que ele preferiu não identificar.

O pastor conta que foi chamado para depor depois do vazamento de uma conversa dele com um político local. No diálogo, estaria revelado um suposto esquema de pagamento de propinas.

“Ele me chamou para apurar o vazamento. Ao invés de investigar quem cometeu o crime, começou a me chamar de chantagista”, afirmou. Depois disso, o pastor diz que tomou a decisão de denunciar “todas as situações” envolvendo políticos.

Celular roubado – Em relação ao áudio dos deputados, embora tenha sido o autor da denúncia ao Gaeco, Jairo Fernandes nega que tenha espalhado a conversa nas redes sociais, o que a tornou pública.

O pastor afirma que teve o celular roubado em 3 de agosto deste ano e registrado boletim de ocorrência em 14 do mesmo mês. Diz não fazer ideia de quem poderia ter roubado e divulgado as conversas. 

A reportagem pediu para ver o boletim de ocorrência. O pastor mostrou somente para colhimento dos dados, mas impediu que o documento fosse fotografado.

Fotografia mostra o pastor Jairo Fernandes, no meio, com o deputado estadual Felipe Orro, o primeiro da esquerda. (Foto: Reprodução Facebook)
Fotografia mostra o pastor Jairo Fernandes, no meio, com o deputado estadual Felipe Orro, o primeiro da esquerda. (Foto: Reprodução Facebook)

Conhece sim – Ao ser questionado na terça-feira (1º) sobre o episódio, o deputado Felipe Orro disse desconhecer detalhes sobre o pastor, de quem ele tomou o celular emprestado. Hoje, Jairo disse que o parlamentar o “conhece sim” e já teria, inclusive, conversado com ele em seu gabinete na Assembleia Legislativa.

Para provar, pastor Jairo mostra uma foto datada de 26 de fevereiro de 2015 – antes da conversa ser gravada. Na imagem, está ele ao lado de outro pastor e o deputado Felipe Orro. “Ele falou que não me conhece ‘né’? Então ele mentiu”.

Ao contrário, segundo o pastor, ele foi recebido na casa de leis para entregar um convite ao parlamentar, referente a um ato religioso com o deputado federal e pastor Marco Feliciano (PSC-SP). “Essa foi a única vez que fui na Assembleia”, garante, dizendo que chamou o parlamentar, pois, na época em que ele foi prefeito de Aquidauana, costumava contratar shows evangélicos para o público de lá.

De acordo com os advogados de defesa, Efraim Barcelos e Afonso de Carvalho, eles entrarão com medida judicial contra Felipe Orro por danos morais. Sem dar detalhes, só disseram que vão avaliar a melhor estratégia, mas garantiram alguma ação.

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