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Política

Vereadores ganham mais de 23 salários mínimos para criar todo tipo de bajulação

Já são 15 honrarias somando as 3 medalhas criadas este ano; algumas com nomes de pessoas ainda vivas

Lucia Morel | 28/06/2023 18:28
Sessão solene para homenagens a professores, ocorrida em dezembro de 2022. (Foto: Divulgação/CMCG)
Sessão solene para homenagens a professores, ocorrida em dezembro de 2022. (Foto: Divulgação/CMCG)

Com salário bruto de R$ 18.991,69, vereadores de Campo Grande, oficialmente, ganham 14 vezes mais que um trabalhador que sobrevive com um salário mínimo, hoje em R$ 1.320,00. Mas contando verbas de gabinete ou indenizatórias, os chamados penduricalhos, que ficam em torno de R$ 12 mil, alguns ganham R$ 30,9 mil por mês, o mesmo que 23 vezes o salário de um simples trabalhador. O mesmo ocorre na Assembleia Legislativa, na Câmara dos Deputados e Senado Federal, pois é prerrogativa dos parlamentares.

A remuneração serve para ouvir a população, apresentar propostas que melhorem a qualidade de vida das comunidades, fiscalizar a prefeitura e cobrir melhorias na cidade. Mas o que muito se vê é troca de nomes de ruas, entrega de títulos e até medalha.

O problema é que a criação dessas honrarias acaba tirando o foco de outros projetos e gastando tempo e energia dos parlamentares e dos funcionários de gabinete.

Para se ter uma ideia, somente este ano, mais três medalhas foram criadas, uma delas, inclusive, com o nome de pessoas vivas e que atuam na política. Surgiram as medalhas “Coronel da Polícia Militar Francisco Libório Silveira”, a “Afonso Nogueira Simões Corrêa” e até uma que homenageia a senadora “Tereza Cristina de Liderança no Agronegócio”.

Com as novas medalhas instituídas, são pelo menos 15 a quantidade de honrarias do tipo criadas e em vigor na Câmara de Campo Grande. Contrato que vigorou, pelo menos, até o ano passado para a confecção de 2,5 mil medalhas foi assinado por R$ 154.999,80.

Mortos ou vivos - A primeira foi ideia do vereador Alírio Villasanti Romero, o coronel Vilassanti (União Brasil). Com o nome do falecido Francisco Libório Silveira, ela foi criada para homenagear quem contribuiu na melhoria no trânsito, por meio de ações ou salvando vidas.

Coronel Vilassanti (União Brasil), Doutor Jamal (MDB) e Professor Riverton (PSD). (Foto: Montagem)
Coronel Vilassanti (União Brasil), Doutor Jamal (MDB) e Professor Riverton (PSD). (Foto: Montagem)

A segunda ideia nasceu do vereador Jamal Salem, o Doutor Jamal (MDB), e é alusiva à comemoração dos 50 anos da Embrapa e da Embrapa Gado de Corte, com o nome do engenheiro agrônomo Afonso Nogueira Simões Corrêa, também em memória. Ele foi um dos membros da comissão especial organizada para criar Mato Grosso do Sul.

Em algumas situações, além da entrega para empresários e pessoas influentes da Capital, a bajulação é o próprio nome da medalha. A última aprovada em 2023 surgiu na semana passada e é única das três que leva o nome de pessoa ainda viva, neste caso, a senadora Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias, considerada uma das lideranças políticas mais influentes do Estado.

A criação é do vereador Riverton Francisco de Souza (PSD) e pretende homenagear “líderes empresariais, pesquisadores ou profissionais que se destacaram por sua liderança e visão estratégica no âmbito do agronegócio, promovendo o crescimento e a modernização do setor”, conforme publicação de hoje em Diário Oficial.

Mais duas pessoas ainda vivas dão nome a medalhas criadas antes de 2023: são o empresário Sérgio Longen, presidente da Fiems, (Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul), cuja honraria foi instituída em novembro do ano passado, e a professora Marisa Serrano, que existe desde 2009.

A primeira é para homenagear pessoas que tenham prestado relevantes serviços para o desenvolvimento empresarial de Campo Grande. Já a segunda é do mérito educativo, ou seja, para quem tenha atuado de forma relevante na educação.

A quantidade de medalhas concedidas varia muito. Algumas vezes, o vereador pode escolher mais de um agraciado. Mas só no caso da medalha Marisa Serrano, foram 53 homenageados em 2022.

Prerrogativa - O vereador Ronilço Cruz, o "Guerreiro", explica que todos os legisladores do País fazem essas homenagens, "seja no dia do médico, mulher, professor e até no dia dos jornalistas".

"É uma prerrogativa da Câmara e também da Assembleia, Câmara dos Deputados e Senado. Em relação à medalha Sérgio Longen, é uma homenagem no mês da indústria, precisamos valorizar também os empreendedores da nossa cidade. Sabe, sou psicólogo e palestrante, sempre digo que precisamos reconhecer as pessoas em vida, não somente quando morre", argumenta o vereador.

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