Em risco com expansão imobiliária, parque é como “escola” em pedaço do Cerrado
Pesquisador defende que Parque Estadual do Prosa seja melhor aproveitado para educação ambiental
Pedacinho do Cerrado no meio da cidade, o Parque Estadual do Prosa é a “pérola”, dentre as 26 áreas de proteção ambiental existentes no território de Campo Grande e tem potencial para se tornar uma “escola” sobre meio ambiente. Este foi o tema escolhido por Marcos Vinicius Campelo Junior, formado em Geografia, para defender em tese de doutorado, recentemente aprovada em banca do Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).
Poucas cidades possuem o privilégio de ter em local de fácil acesso natureza preservada, repleta de espécies de animais e plantas, para que cidadãos possam usufruir da convivência sustentável. “Essa unidade de conservação tem uma particularidade de estar bem próxima ao Centro da cidade. Esse é um detalhe bem importante, o acesso”, explica Marcos Vinícius.
Além de pouco explorado como espaço para educação ambiental, como defende o pesquisador, o Parque Estadual do Prosa também é insuficientemente investigado do ponto de vista científico. Além de que se trata de área de 135 hectares preservada e que se tornou unidade de conservação somente em 2002, pouco foi esmiuçado sobre a fauna, flora e recursos hídricos da área, até para traçar estratégias de como mantê-la viva diante da expansão urbana, transcorre a pesquisa de Marcos Vinícius.
Evidência de que apesar de conservada, a reserva foi pouco estudada, é a dificuldade da reportagem encontrar dados sobre, por exemplo, quantas espécies de animais estão catalogadas, a não ser registro feito pelo Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) há 23 anos – em 1998 -, incluso no Plano de Manejo da unidade de conservação. Mesmo assim, estimativa de quantos animais escolheram a área como refúgio não consta nem na página oficial de apresentação do parque.
Alguns detalhes - O Parque Estadual do Prosa faz parte de complexo onde também estão inseridos o Parque das Nações Indígenas, que tem fim mais recreativo, e o Parque dos Poderes, onde estão reunidas as sedes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário de Campo Grande. É ainda a unidade de conservação que abriga duas nascentes de um dos córregos mais importantes da Capital, o Prosa.
Dentro da reserva, está o Cras (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres), criado em julho de 1987, conforme levantado por Marcos Vinicius, “com o intuito de recepcionar, triar e destinar bichos apreendidos em operações de combate ao tráfico, os atropelados nas rodovias estaduais”.
“Essa é uma unidade de conservação muito importante também pelo que há disponível ali: o Cerrado, a fauna variada, onde podemos encontrar insetos, serpentes e mamíferos, como cotias, macacos. Há relatos até de jaguatiricas que viveram por ali. Ela tem importância no contexto educativo, de acesso ao meio ambiente e até o aspecto histórico do local”, argumenta o pesquisador.
Aspecto histórico - “Em uma das trilhas desativadas existe uma casa com história importante para o Parque Estadual do Prosa e, de certa forma, para a comunidade campo-grandense. Esta casa foi moradia do Sr. Rogério Casal Caminha, ex-funcionário do Serviço Autônomo de Água e Esgoto da Prefeitura Municipal de Campo Grande, órgão responsável pela captação de água do Córrego Prosa na década de 1940”, discorre trecho da pesquisa.
Ainda conforme apurado por Marcos Vinicius, em 1994, a casa foi reformada por meio de um convênio entre o Banco Bamerindus e o Governo do Estado, ganhando o nome de Museu de Educação Ambiental, onde havia venda de suvenires, roupas e exposição de animais empalhados, mas “por questões jurídicas, nos dias atuais, a casa está sem funcionamento”.
Preservação – O pesquisador, ambientalistas e agora, até os moradores do entorno do Parque Estadual do Prosa, percebem que a reserva, embora preservada, está em risco constante. Uma das formas de evitar a degradação, é a criação da zona de amortecimento, já estudada pelo Governo de Mato Grosso do Sul, como noticiou o Campo Grande News na semana passada.
O parque “enfrenta grandes desafios à sua conservação, especialmente aqueles decorrentes da pressão e expansão da cidade no seu entorno, situação refletida em diversos impactos ambientais, como a degradação das nascentes, o assoreamento dos córregos (Prosa, Desbarrancado e Joaquim Português), a geração de poluição sonora para o seu interior e o atropelamento dos animais nas vias urbanas no limite do parque”, explica a pesquisa aprovada na UFMS.
O próprio Plano de Manejo do parque, de 2011, aponta como necessárias medidas para evitar os chamados “efeitos de borda”. “As áreas de entorno deverão sofrer limitações de uso com o intuito de ordenar, orientar e promover as atividades compatíveis. Tais limitações devem proteger a unidade contra diversos impactos do entorno que podem comprometer a sustentação e integridade dos seus ecossistemas, tais como redução de espécies da fauna silvestre por atropelamentos, poluição hídrica”, diz o documento. As regras para a ocupação no entorno, contudo, nunca foram criadas.
Decreto - Para proteger o Parque Estadual do Prosa dos prejuízos da urbanização desregrada, o Governo de Mato Grosso do Sul trabalha na elaboração de decreto que cria zona de amortecimento. Estudo foi elaborado por técnicos do Imasul, a pedido do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), que ouviu alertas e demonstrou preocupação com a exploração imobiliária do entorno do parque, apurou o Campo Grande News.
As restrições e regras, se aprovadas e passarem a vigorar, valerão para bairros como Cidade Jardim, Chácara Cachoeira e Jardim Veraneio.
Dentre as medidas estudadas, está a proibição da construção de prédios (edificações com mais de 12 metros de altura), em área de 232 hectares e perímetro de 10 km no entorno do parque.
Ficariam vedadas, por exemplo, fachadas que usem revestimentos espelhados ou refletivos, para evitar que aves se acidentem. Imóveis não poderão ter cercas elétricas ou concertina, para impedir a eletrocussão ou que animais fiquem feridos.
Todas as construções na zona de amortecimento precisam dar preferência às espécies de plantas nativas no paisagismo, pavimentos permeáveis e implantar soluções para a reutilização da água da chuva. Os sistemas de iluminação artificial devem estar adequados para diminuir a atração e desorientação de animais silvestres.