Entre ranchos e condomínios, Três Barras retrata o "novo" e o "velho"
Na Avenida Três Barras, o retrato da antiga Campo Grande ainda resiste em meio ao trânsito tumultuado, empreendimentos imobiliários e comerciais, mas talvez não por muito tempo. São quatro quilômetros de extensão marcados pelo contraste entre o rural e o urbano.
Eduardo Figueiredo Garcia foi criado em um pequeno rancho naquela região. Antes de dar lugar à Três Barras, “aqui era, na verdade, uma estrada boiadeira. O gado desembarcava em uma antiga e pequena estação ferroviária nas redondezas e por aqui era levado até a antiga Matel”, lembra o morador.
Foi então que a cidade chegou ao local. O chão batido deu lugar ao asfalto e a propriedade rural, onde ele criou os filhos e hoje vive com os netos, acabou em uma rotatória, em frente a um posto de combustíveis e ao lado de um condomínio.
“Se a gente conta hoje, as pessoas falam que é mentira. Quando chovia, meus filhos pegavam lambari ali embaixo. Desaguava a Lagoa Itatiaia e os peixes vinham. Não tinha nada por aqui”, pontua.
A família de Eduardo vivia da produção leiteira e tinha uma horta de subsistência. Ele chegou a tentar mudar o destino herdado, trabalhou como bancário, foi funcionário de cartório e até leiturista de luz, mas no fim, acabou mesmo foi montando um espaço para treino e pequenas competições de Laço Comprido.
Ele cuida dos cavalos dos clientes, que aos fins de semana vão até o local para treinar. Ainda hoje, às segundas-feiras de madrugada, ele é visto junto com seus ajudantes tocando a boiada meio ao asfalto para levá-la até ranchos vizinhos com mais pasto, onde os animais, usados nas práticas do esporte, passam a semana.
Contudo, a vida de Eduardo está bem diferente do que há alguns anos e mais ainda de quando ele criou os filhos no local. Quando a área foi declarada como zona urbana, ele passou a ser “visitado” por equipes da prefeitura e notificado, já que é proibido por lei criar certos tipos de animais, como galinhas, por exemplo, na cidade.
Além disso, os vizinhos que vivem em condomínios na região já fizeram reclamações junto aos órgãos competentes sobre o cheiro dos animais.
“Eu me preocupo porque aqui é meu ganha pão e estou vendo que eu vou ter que ir embora. Infelizmente isso aqui vai acabar. Ainda não tenho planos concretos. Uma coisa de 50 anos você não desfaz em 20 dias, conforme a notificação que recebi para deixar o local. Chegou o progresso e nós vamos ter que ir embora”, afirma.
Com orgulho, ele mostra uma placa que ganhou de presente do filho “Rancho do Eduardinho”. Quando deixar o local, ainda sem data prevista, será uma das únicas lembranças que levará consigo dos áureos tempos de uma Campo Grande sem trânsito, sem tumulto, sem preocupações.