Há 9 anos, acidente virou notícia que transformou vida de mãe e filho
Antes do acidente naquela tarde do dia 3 de maio de 2005, Antônia Aurineide Maciel nunca havia dado uma entrevista. Não tinha trocado palavras, desabafos ou feito confissões do coração de uma mãe em desespero para jornalistas. O filho, Kelvin Henrique Maciel Domingues, à época, com 13 anos, foi atropelado por um caminhão a duas quadras da escola, quando saiu para procurar a mochila que lhe haviam furtado durante o horário de aula.
O atropelamento mudou a vida da família toda e transformou cada dia em notícia. Foram cinco meses internado na Santa Casa. Dos 15 anos do Campo Grande News, há nove a vida deles é narrada aqui. Do acidente, às notas do estado de saúde, alta hospitalar, até a festa da comemoração dos 20 anos do Kelvin, ocorrida em 2012.
“Desde o dia do acidente, o Campo Grande News têm nos apoiado. Todo dia saía uma notinha. As pessoas também ligavam lá perguntando”, conta a mãe, que ficou conhecida como dona Neide. Do tempo de internação, quando o medo de perder o filho caçula tomava o coração, ela descobriu no jornal, amigos.
“Meu filho vai, não vai. Foi quando o Campo Grande News foi entrou na minha vida. Foi quem mais me ajudou e ajuda até hoje e olha que já passaram tantas pessoas. O David, ele foi o primeiro que eu conheci. Antes eu não conhecia ninguém”, recorda. David Majella era o fotógrafo do Campo Grande News que cobriu o acidente e a repercussão do atropelamento e de repórter fotográfico passou para amigo da família. Foi o primeiro de vários que tiveram a missão de entrevistá-la e depois se renderam à simpatia de mãe e filho.
O menino sobreviveu ao atropelamento, à pneumonia e às duas paradas cardíacas que teve, fora as infecções. A alta do hospital veio cinco meses depois do acidente. Kelvin está, como a medicina considera, em estado vegetativo. O que exigiu, além de cuidados 24 horas, uma infraestrutura e logística que a família não dispunha. Dona Neide estava desempregada.
“Quando eu precisava, eu já ligava. Nunca tinha nem me colocado no lugar de uma família nesta situação. Mas isso me fez aprender muito, me tornei uma pessoa melhor. Só agradeço a Deus pela saúde minha e do meu filho e agradeço aos anjos como vocês, porque sozinha, você não faz nada”.
Amigos, familiares, vizinhos e desconhecidos. Pessoas que acompanharam pelo Campo Grande News a história de superação de mãe e filho, contribuíram para que hoje, Kelvin tenha até ar condicionado no quarto. Acamado, os dias de calor intenso eram ainda mais penosos para o agora jovem.
O quarto foi reformado, a cama hospitalar foi comprada, assim como sondas e todo equipamento pelo qual Kelvin se alimenta. Até 2012, os medicamentos e parte da comida dele vinham da Sesau (Secretaria de Saúde do Município). Há dois anos, vem do próprio bolso de Neide e dos corações ainda dispostos a ajudar.
Desde o primeiro ano após o acidente, Kelvin passou a ter duas datas de nascimento. Agosto, mês em que é registrado e maio, período em que foi vítima do atropelamento. Todo 3 de maio, dona Neide solta até fogos de felicidade porque o filho nasceu de novo.
Em 2012, ao completar 20 anos, Kelvin foi novamente protagonista de uma série de matérias feitas pelo Campo Grande News, sobre trânsito. Ocasião em que a história mais uma vez comoveu e junto dos leitores, dona Neide soprou as velinhas do bolo em uma festa de aniversário.
“A festa de 20 anos, foi lindo. Me emocionou muito. Eu só desejo é sucesso ao Campo Grande News. Tem dia que bate a tristeza, já são nove anos, o Kelvin era para estar formado, mas olha ou a gente se torna uma pessoa amarga culpando o mundo, ou arregaça as mangas e vai à luta. Eu me lembro de vocês, todo dia saía uma notinha do Kelvin no Campo Grande News, ele é um milagre”.