A grande virada da humanidade
No início dos anos 1990, o mundo olhava para a economia mundial e via Japão e Europa se posicionando frente aos Estados Unidos. Especialistas temiam que os EUA pudessem perder a posição de comando geral. O Japão avançava na tecnologia produzindo para o mercado mundial o que a Europa chamava de seu.
Em todo esse alvoroço, não vislumbravam que a China poderia, em poucas décadas, se tornar a grande fábrica mundial, produzindo de tudo, avançando na tecnologia, como a nação apta a fazer frente aos EUA, país que havia tomado a dianteira após a Segunda Guerra Mundial construindo a economia mais próspera da Terra.
A marcha para colocar as finanças em destaque acabou reduzindo a produção industrial que foi para a Ásia, livre do sindicalismo, mas subordinada ao partido único. A renda declinou, mas avançaram as hipotecas para manter o padrão de vida. Após décadas de displicência, o inchaço dos ativos revelou a fragilidade do sistema.
A humanidade se encontra diante do impasse criado pela rivalidade entre os EUA e a China. As empresas se esforçam para utilizar a mão de obra de menor custo enquanto a China vai reduzindo a fabricação para terceiros.
O filme A Grande Virada (2010) mostra as consequências do que situações como essa podem causar. Fábricas fecharam e os industriais foram produzir na Ásia, eliminando empregos em seus locais de origem. Na ficção, os atores Ben Affleck, Tommy Lee Jones e Chris Cooper figuram entre os desempregados, e Kevin Costner como construtor autônomo. Na trama, com muitas contas a pagar, dificuldade em conseguir novo emprego, os demitidos perderam o rumo.
Um deles teve de se ajustar ao salário de ajudante de construção. Outro, decepcionado com o chefe e com a frieza no lar, resolve montar um novo estaleiro. Destaque para família de um dos demitidos, cuja esposa lutadora e seu menino revelam maturidade. Assim como na ficção, na realidade a produção fabril dos EUA não se recompôs, passando a enfrentar a crise com a China.
Qual será o futuro? A economia que está aí já causou muitos danos e está longe de ter criado melhores condições de vida. Muitas nações exportam as matérias-primas, mas não melhoram as condições de vida da população; aumentam o PIB, mas reduzem a participação das pessoas que trabalham nos resultados. Não há respeito à natureza. Há um nítido contraste entre o tamanho das dívidas soberanas e o crítico estágio da humanidade. As condições gerais estão apertando, aumentam as doenças da alma e do corpo.
O relacionamento entre os povos chegou a limites extremos, com armadilhas difíceis de serem superadas: dinheiro, poder econômico, poder militar. Podem estar gerando um inferno insuportável. O medo está no ar. Os seres humanos, espiritualmente indolentes, abdicam do querer próprio para aderir às crenças de grupos com os quais se afinam.
A pressão aumentada da força natural está acelerando as consequências das decisões com desencadeamento rápido, o que atua como higienização e advertência para eliminar o superficialismo e imediatismo, mas cria instabilidade.
Os homens tomam decisões atendendo aos seus interesses, mas tudo tem consequências segundo as leis universais. Palavras bonitas nada significam, pois os efeitos mostram as reais intenções dos tomadores de decisões. A situação do mundo é resultado das decisões, dos governos e da população em geral. Mas agora os efeitos aparecem imediatamente, não ficam mais para o futuro distante.
Falta intuição. A pressão para seguir a maioria é forte, e isso significa que esse sentimento domina o homem da massa, ou seja, aquele que abandona o que a sua intuição diz para seguir a manada. Isso constringe a individualidade, vai moldando o comportamento mesmo contrariando o querer próprio, a personalidade. A uniformização elimina a diversidade; a sociedade perde, deixando de se beneficiar com o desaparecimento da criatividade individual. Vencem os interesses particulares.
Os seres humanos deveriam estar trabalhando para o bem geral, mas cobiças ocultas interferem e impedem o surgimento da paz e progresso amplo para todos os povos que se esforçam de forma abençoada. Algo novo deve surgir. A grande virada. Um novo mundo terá de respeitar as leis da Criação, colocando de lado as leis criadas pelos homens para atender a seus propósitos egoísticos.
(*) Benedicto Ismael Camargo Dutra, graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP.