A importância do Grupo Acaba para a música e o cheiro de MS
"Quem conhece Carandá, é do Pantanal ... Quem conhece Taromã, é do Pantanal"
Quando eu ainda era pequeno (hoje tenho 50 e tantos anos), ouvi esse som vindo de alguma vitrola que tocava no meu vizinho a beira do rio Aquidauana, na cidade de Anastácio, a 120 quilômetros de Campo Grande.
Quem me apresentou essa mistura de música, assovio de pássaros, cheiro de terra molhada e um barbudo cheio de penduricalhos pelo pescoço, foi um professor José Fernandes, que mais tarde, também, me apresentaria a poesia de Manoel Barros, e a linda e instigante história da Retrinada da Laguna, do visconde de Taunay.
Odacil Canepa, pantaneiro. Já mais mocinho, com 16 anos, ouvi na TV Morena, o lindo kananciuê, quando o simbolo era uma roda de carreta, a primeira edição do Fesul, cujo teor foi idealizado e formatado por gente como Ciro de Oliveira, Fábio Zahran, Tião Santana e outros tantos que viraram meus colegas de trabalho.
Para um jovem da beira do rio, que morou nos arredores do Pantanal, aquela mistura de sons e poesia me deixou intrigado.
Mato Grosso do Sul, recém "libertado'' de Mato Grosso, queria ter sua identidade própria. Queria percorrer distância.
Lembro bem das peças publicitárias dos ex-governadores Wilson Martins, como "Meu Matogrosso do Sul", interpretado lindamente pela Alzira Espíndola e, já nos anos noventa, a também linda canção do Renato Teixeira, Homem de Miranda, que transformava o engenheiro Pedro Pedrossian numa lenda, o que realmente é, por tudo que representou para o estado, queira ou não queira.
Nesse cenário, ouvi as canções do Grupo Acaba e confesso, muitas vezes, mesmo sentindo que aquelas vozes, aquela poesia e som vinham diretamente do lugar de onde nasci, dera pouca importância a esses caras.
Para exemplificar minha indesculpável ignorância, trabalhei por anos como um ''acaba'', o Lincon, e nunca ligava diretamente aquela figura, autor de um solo lindo na música kananciuê, aos meus dias de jornalista da TV Morena. Sempre fica no pé do Lincão, com sua eterna barba grisalha, a me enrolar com os cenários....Claro que eu sabia ,mas dava pouca importância ao trabalho eterno de preservar nossa cultura que o Grupo Acaba fez.
Ao meu amigo Lincão, ao Moacir, ao Chico Lacerda e ao José Charbel Filho, que fez a passagem nesta semana, meus mais sinceros agradecimentos por terem povoado a cabeça de um menino com música boa, poesia, sons e cheiros do Pantanal.
Então, Quem conhece Carandá, quem conhece Taromã....é do Pantanal...
(*) Odacil dos Santos Cânepa é jornalista.