Conhece-te a ti mesmo
Desde as mais antigas civilizações, os sábios conservavam um ensinamento que difundiram como o mais importante valor para o ser humano: o autoconhecimento.
Atribuído a Sócrates, ele é o fundamento primordial de diversas doutrinas e escolas antigas.
Esse ensinamento, na realidade, é um anseio natural e subjacente à porção mais íntima de cada ser. Acredito que o caminho até o autoconhecimento seja a tarefa mais importante a ser realizada por todos os seres conscientes.
Mas como fazê-lo? E por onde começar?
Apresento a seguir, um roteiro que aprendi e que pratico, deixando bem claro que essas práticas têm que ser confirmadas por cada um, pois cada pessoa abarca um universo individual e infinito. Não é minha intenção ditar regras, apenas compartilho aqui algumas reflexões sobre esse assunto. Cada um tem o seu mentor, seu próprio guru.
Todos devemos seguir nossa própria intuição e sobretudo confirmá-la, porque não nos alimentamos quando comemos, mas sim quando digerimos o alimento. Cada um tem parte da consciência divina in potencia, e dependendo da disposição, vontade e trabalho, pode transformá-la em atitude.
Para uma tomada de consciência, devemos começar pelo corpo físico, assim dividido em quatro partes: cabeça, tronco, membros superiores e membros inferiores.
Na cabeça, o cérebro tem seus hemisférios esquerdo (inteligência) e direito (intuição); córtex frontal (criatividade) e córtex posterior (memória), unidos pelo córtex central, onde tudo é coordenado. Na cabeça também temos quatro dos cinco sentidos: visão, audição, olfato e paladar. O único que permeia todo o corpo é o tato.
Aí começam os aparelhos: respiratório, circulatório, digestivo, excretor, urinário e genital. Cada um com sua função própria, mas todos interligados.
No estudo deve-se considerar a função de cada um, registrando, estudando, observando, para depois chegar ao conhecimento.
Penso que a observação atenta e acurada do próprio corpo vai nos permitindo o conhecimento de cada parte. Identifico quatro funções interdependentes: instintiva, motriz, intelectual e emocional. E absolutamente tudo está interligado, cada parte, órgão, célula, átomo, etc., dependem uns dos outros, o que torna quase impossível estudar uma função sem associá-la a outra. O organismo é uma máquina extremamente sofisticada e complexa. As descobertas vão se sucedendo à medida que vão sendo identificadas.
A função instintiva age por si mesma, no automático. Ninguém para pra pensar, por exemplo, no funcionamento de seu aparelho circulatório ou digestivo. Tudo funciona naturalmente sem necessidade de comando.
A função motriz é que dá curso ao movimento, que comanda nossos músculos, ossos, nervos, membros e toda a atividade motora, propriamente dita. É ela que nos faz flanar pelo mundo.
A função intelectual é o nosso raciocínio lógico, cognitivo, que diz respeito à nossa lucidez e percepção em relação ao que nos cerca.
Somos corpo, mente e espírito. Depois do estudo da parte física, chega-se ao conhecimento intelectual.
A mente compreende o intelecto, ativa o pensamento e raciocina por comparação.
A função emocional se refere ao sentimento, que pode ser agradável ou desagradável. Ele gere a influência e o impacto dos acontecimentos que chegam até nós. Precisamos estar presentes para não nos deixar influenciar negativamente pelo que acontece no exterior e devemos trabalhar para reagir conscientemente. A toda ação corresponde uma reação. E o sentimento é o modo como reagimos ao que nos acontece.
Quando a consciência de quem somos chega ao espírito, passamos a ter a compreensão do todo. O espírito é pura energia, e essa energia se distribui nos sete chacras que temos em nosso corpo físico.
Por meio do autoconhecimento, percebemos que somos seres únicos, originais, e a individualidade que nos define não comporta a comparação. Não existe ninguém igual ao outro.
Há uma tendência em estabelecer comparação para nos considerarmos melhor ou pior do que o outro. Mas essa concepção é falsa. Não carece de fundamento. O entendimento de que somos seres únicos implica em libertação e responsabilidade.
A finalidade intrínseca do ser humano é o autoconhecimento. Porque dele decorrem os meios que irão nos possibilitar a libertação, a evolução e a caminhada de volta ao nosso Pai Altíssimo.
É nessa caminhada, individual e solitária – embora nossa jornada seja coletiva –, que o ser humano vai buscar sua reintegração ao TODO.
Assim foram sendo criados meios e mecanismos para orientar essa busca: religiões, igrejas, associações, mitos e nações.
Mas não há necessidade disso.
O caminho é solitário. E muito enriquecedor.
Vamos trilhá-lo? É um desafio que cada um terá que enfrentar um dia.
(*)Heitor Rodrigues Freire – Corretor de imóveis e advogado.