Esporte e futebol para além das quatro linhas
No próximo dia 20 de novembro, a seleção do Catar e do Equador darão início à Copa do Mundo de 2022 no Estádio Al Bayt. Para muitos, começará ali um dos eventos futebolísticos mais importantes do globo após quatro anos de espera. Para o mundo dos grandes contratos de publicidade e do mercado de compra e venda de jogadores, trata-se apenas de mais um momento para grandes negócios. Para outros, porém, o mesmo dia 20 simboliza um fim como remição, principalmente para os trabalhadores que construíram os estádios sofrendo maus-tratos, diversas vezes em condições análogas à escravidão. As conexões entre essas diversas realidades e expectativas acaba revelando uma complexidade social, política, econômica e cultural sem precedentes em torno da prática esportiva.
De fato, enquanto dribles e gols embalam multidões, o espetáculo que os cerca conheceu, ao longo do século 20 e neste início do século 21, uma existência cada vez mais opulenta, ávida e pujante para além dos terrenos de jogo e das fronteiras nacionais. Desde que o esporte se constituiu como prática na nova cultura de massas, desde que ele se internacionalizou, ele passou a ter uma dimensão política e econômica como instrumento de poder, sem perder, ao mesmo tempo, seu potencial para aproximar as nações. Ao longo desse tempo, tornou-se igualmente complexo pesquisar e analisar tais transformações, seja pelo intrincamento de processos muitas vezes obscuros e acontecendo em diversos espaços pelo planeta, seja pelo surgimento de fenômenos novos, como a diplomacia esportiva e a ação do esporte sobre identidades e mentalidades coletivas.
Aproveitando-se da ocasião do evento no Catar, o Instituto de Relações Internacionais da USP proporá um espaço precisamente para todas essas reflexões através da disciplina “Esportes: História, Política e Relações Internacionais”. Oferecida em seu Programa de Pós-Graduação, ela tem como objetivos não somente discutir questões políticas, sociais e internacionais ligadas ao esporte, mas também os meios para pesquisá-las e analisá-las. Propõe-se, assim, uma perspectiva multidisciplinar de abordagem do tema e do fenômeno social do esporte, como através do recurso à ciência de dados, às ciências sociais e às ciências históricas.
Serão, então, promovidas análises sobre as instituições esportivas e seus caminhos e descaminhos entre o amadorismo e o profissionalismo, mas também sobre como passaram por processos de espetacularização e sobre como ganharam agência política. A trajetória do futebol, do mercado futebolístico e da FIFA serão destaque, mas também haverá oportunidade para discutir como organizações como o Comitê Olímpico Internacional tornaram-se atores das relações internacionais.
Trata-se de um curso de Pós-Graduação de curta-duração, dirigido a toda e todo interessado da comunidade USP, que acontecerá nas manhãs dos dias 17, 18, 21, 22, 23, 24 e 25 de novembro presencialmente no IRI/USP. As vagas são limitadas e as inscrições encerram-se no dia 11 de novembro. Interessados devem entrar em contato com a Secretaria de Pós-Graduação do IRI no seguinte endereço eletrônico: pospesq.iri@usp.br..
(*) Alexandre Moreli é professor do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP