Falência múltipla da consciência
Na medicina, quando ocorre a falência múltipla dos órgãos é porque o corpo não reage mais e a morte é apenas uma questão de tempo. Também chamada “síndrome de disfunção de múltiplos órgãos” é uma complexa manifestação patológica subaguda, caracterizada pela deterioração aguda de dois ou mais órgãos vitais, resultando na perda de suas funções. A degradação dos diversos sistemas ocorre à medida que vários órgãos entram em desequilíbrio funcional.
Pois é, no corpo humano é assim. Agora estamos vivendo uma falência múltipla da consciência quando constatamos o que está acontecendo em nosso estado. Participei com minha mulher, no último sábado, do movimento em defesa do Parque dos Poderes. O governador quer derrubar a mata nativa para construir um estacionamento, justamente numa época em que temos que usar cada vez menos o carro, que polui e deteriora a natureza. O que se observa na administração estadual é a falta de sensibilidade social e ecológica do governador, além de se omitir em outras áreas, como por exemplo:
1) Na cultura. O descaso é imenso. A Fundação de Cultura está sem vitalidade, programas importantes para a classe cultural foram deixados de lado, sem apresentação de alternativas à altura. O teatro Aracy Balabanian está totalmente parado há vários anos, não há respeito e nem respostas objetivas para com os trabalhadores da cultura. A Casa do Artesão vai desabar a qualquer hora. Os festivais de Bonito e da América do Sul carecendo de um olhar renovador que considere na prática o dueto cultura e turismo. O FIC com verbas defasadas e insuficientes para a demanda local.
2) Na educação. O governador está fechando escolas e construindo presídios, na contramão da história. A desculpa da evasão escolar tem que merecer uma ação ativa e proativa para definir as causas e providenciar soluções. Fechar escolas não vai resolver. O Japão, que há 75 anos emergiu de uma derrota que colocou a autoestima do povo abaixo de zero, levantou-se soberanamente com investimentos maciços em educação. Mesmo caso da Coréia do Sul e do Vietnã. Sem falar na China;
3) Na saúde. Aqui então o caos é total. A tão proclamada Caravana da Saúde deixou um rastro de pessoas desassistidas em todo o estado. Depois de passar por todas as regiões, recolheu-se sem dar continuidade aos tratamentos iniciados, o que deixou a população mais necessitada ainda e os pequenos hospitais locais sob pressão para atender os retornos sem qualquer recurso adicional. Anunciada estentoricamente, sumiu sem deixar vestígio.
Quanto à prefeitura de Campo Grande, o panorama, infelizmente, não é diferente. Por total ineficiência do serviço de saúde municipal, a Santa Casa de Campo Grande está iniciando um mutirão pela saúde, começando pelas Moreninhas, onde, no dia 8 deste mês um programa especial nos bairros oferecerá exames médicos preventivos, orientação para a saúde, atendimento de beleza, educação e lazer para toda a família. O projeto acontecerá em parceria com Hospital de Amor, antigo Hospital do Câncer de Barretos, além da colaboração de instituições locais de saúde.
Enfim, é a iniciativa privada provendo o que o poder público deixou de fazer. A Santa Casa, com o presidente Dr. Esacheu Nascimento à frente, assume um papel proativo para atender à população carente. Aliás, o Dr. Esacheu está liderando um movimento juntamente com a Associação Comercial e demais entidades representativas para criar o COMDESE, Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico Sustentável e Estratégico. É a sociedade civil se organizando para suprir a ineficiência pública.
Quando ocorre a falência múltipla dos órgãos não há nada mais a fazer. Mas quando ocorre a falência múltipla da consciência, existe um meio verdadeiramente eficaz: o voto. Pense nisso nas próximas eleições.
(*) Heitor Rodrigues Freire é corretor de imóveis e advogado.