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Pandemia ou pandemônio?

Heitor Freire (*) | 07/12/2020 08:35

Pandemia é uma epidemia de doença infecciosa que se espalha entre a população localizada numa grande região geográfica como, por exemplo, um continente ou mesmo por todo o planeta Terra. Assim, estamos vendo hoje a disseminação do coronavírus, como foi a gripe espanhola no século passado.

Todos, de mamando a caducando, só falam nisso, o que acabou transformando a pandemia em pandemônio (uma mistura confusa de pessoas ou coisas). Trata-se de uma palavra que, na linguagem corrente, virou um expressivo sinônimo de bagunça, desordem, caos.

O poeta John Milton, inglês, no poema épico “Paraíso perdido”, de 1667, inventou a expressão pandemônio para nomear o centro gestor do inferno. Ele importou as palavras termos gregas “pan” (tudo, todos) e “daimon” (divindade menor, demônio). Vemos, portanto, que o prefixo “pan”, ou a totalidade, está presente tanto em pandemia quanto em pandemônio.

A combinação perversa de pandemia e pandemônio, resulta em superlativo do caos, em confusão intensamente selvagem, que desafia todo o mundo, nossa civilidade e o nosso futuro.

O vírus é um vilão que nos rouba a força, ao mesmo tempo em que põe abaixo a imaginação, e a própria vida. O coronavírus não respeita pelo nem marca. Atinge a todos, indistintamente, causando esse pandemônio todo.

Com o caos estabelecido que levou todos a uma profunda reflexão, mostrando de forma muito clara a inexorabilidade da morte, penso que é o momento de aproveitarmos essa situação – nada acontece por acaso – para uma verdadeira mudança de hábitos. É hora de repensarmos nossa vida, de aprendermos de uma vez por todas que a única via é a do amor. Estamos aprendendo da forma mais dura, por meio da dor.

A morte não é o fim, é apenas uma mudança de plano, do material para o espiritual; é a única certeza da vida, ela atinge indistintamente a todos. No meu entendimento é a grande e verdadeira evolução.

A qualquer momento, não sei quando, chegará a hora de partir para novas realizações no plano espiritual, de voltar para a pátria celestial, e ali assumir novas missões em função do nosso plantio aqui na Terra.

E com essa perspectiva natural e inevitável, comecei a conjecturar a respeito da morte, de sua finalidade, dos benefícios que proporciona – embora para uma grande maioria que não consegue alcançar esse entendimento, ela seja um castigo – e sobre as suas consequências.

A propósito desse assunto, apresento um texto atribuído a Santo Agostinho que retrata com muita precisão o que é a morte, esse fenômeno natural e benéfico, muito mal interpretado por uma grande parcela da população:

“A morte não é nada.
Eu somente passei
 para o outro lado do Caminho.

Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês,
 eu continuarei sendo.

Me dêem o nome
que vocês sempre me deram,
falem comigo
 como vocês sempre fizeram.

Vocês continuam vivendo
no mundo das criaturas,
eu estou vivendo
 no mundo do Criador.

Não utilizem um tom solene
ou triste, continuem a rir
 daquilo que nos fazia rir juntos.

Rezem, sorriam, pensem em mim.
 Rezem por mim.

Que meu nome seja pronunciado
como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra
 ou tristeza.

A vida significa tudo
o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Por que eu estaria fora
de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora
 de suas vistas?

Eu não estou longe,
apenas estou
 do outro lado do Caminho…

Você que aí ficou, siga em frente,
a vida continua, linda e bela
 como sempre foi.”

(*) Heitor Rodrigues Freire é corretor de imóveis e advogado.

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