“Queimar para fazer pasto”
Por muitos anos o pecuarista pantaneiro tem sofrido ataques de ambientalistas, estes, muitas vezes, financiados pelo Estado brasileiro e também pelo capital estrangeiro.
Com a “descoberta” do Pantanal, a partir dos anos setenta, a pressão ambientalista desviou- se um pouco da Amazônia e veio se concentrar, também, na Bacia do Alto Paraguai, com especial atenção na planície pantaneira.
Com relação ao entorno da grande bacia a preocupação estaria justificada, se fosse completamente verdadeira. Porém, como se viu no correr dos anos, aquilo não passou de um disfarce para que tudo fosse permitido e chegássemos hoje ao máximo grau de destruição das cabeceiras dos rios que demandam o Pantanal.
Entretanto, aqueles que não se preocuparam com o criminoso processo de ocupação do planalto, aqui me referindo a autoridades, imprensa, ativistas brasileiros, ONGs estrangeiras, particulares alienados, falsos cientistas e etc, pretendem responsabilizar o povo da planície por males causados ao meio ambiente pantaneiro nos últimos quarenta anos em que a inversão da lógica trouxe restrições, penalidades e pobreza ao pantaneiro e, por outro lado, leniência, vantagens e riqueza ao planaltino.
A maliciosa ladainha de acusações, elucubradas nos barzinhos e workshops pelos melancias do ambientalismo, soa como palavras de ordem.
Aqui no Pantanal, o refrão mil vezes repetido das milícias ideológicas é esta frase que de tempos em tempos ecoa nas mídias estaduais e nacionais: ”Queimar para fazer pasto!”.
Em passado não muito distante, com pouca diferença, acusaram–nos de fechar arrombados do rio Taquari para fazer pasto.
O resultado dessa afirmação, aceita pela Justiça, foi a destruição de mais de um milhão de hectares da planície taquarizana e o expurgo de centenas de famílias de seus lares centenários.
Para aqueles não familiarizados com a retórica maliciosa essa frase se extingue em si mesma, quando, na realidade, ela tem o alcance proposital de conduzir o leitor, ou o ouvinte, ao pré-julgamento ainda que inconsciente de um possível costume criminoso e retrógrado do produtor rural, como se ainda vivêssemos na era das cavernas e desconhecêssemos as leis e as técnicas de manejo, preconizadas e recomendáveis no próprio Pantanal, como também em todas as regiões de savanas no mundo inteiro.
Chega a ser ridícula a pretensão de criar essa imagem negativa do pecuarista pantaneiro.
É a negação pura e simples da realidade, pois a ele se deve a atual condição de conservação do Pantanal.
Essa constatação pré-concebida nos casos em foco, aqui em Corumbá, é tão descabida e tão irresponsável que exclui o fogo espontâneo, o fogo provocado por raios , o ”fogo para pegar iscas”, o “fogo para tirar mel”, o “fogo para catar ovos de jacaré”, o “fogo para espantar a onça dos acampamentos”, o “fogo para cozinhar o peixe nas barrancas”, o ” fogo para a rocinha”, o “fogo do abigeato” e, finalmente, o “fogo terrorista prometido pelo MST”.
Também não vimos a criminalização dos incêndios ocorridos na margem direita do Rio Paraguai. Por quê? Seriam caolhos os satélites?
Os focos permanentes e reincidentes no Paraguai-Mirim seriam fogo fátuo? Os incêndios nas imensas “reservas” oficiais e oficiosas criadas no Pantanal, que ocorrem todos os anos, são ex-ofício descartados?
Será que a ideologia vai se sobrepor à razão e a famigerada frase vai condenar mais uma vez o homem da planície?
Conheço uma das propriedades arroladas nas investigações e sou categórico em afirmar a total impossibilidade de envolvimento do proprietário, nomeado na imprensa brasileira de maneira cruel e perigosa. Impossível porque ilógico.
Quem possui campos maravilhosos como aqueles, empastados e servidos de aguadas excelentes, neste período de seca que atravessamos, jamais atearia fogo nas áreas infestadas de invasoras no extremo da fazenda para levar o gado.
Apenas quem nada sabe do Pantanal levantaria essa hipótese. Este fogo, como haverá de ser provado, pode ter toda e qualquer origem, menos essa constante nos noticiários.
É totalmente injusto o clima de medo e terror imposto ao pecuarista pantaneiro. Confiamos na investigação isenta, na racionalidade do Ministério público e na Verdade.
O produtor rural do Pantanal está sendo investigado, julgado e condenado de maneira covarde e açodada.
É necessário que percebamos os motivos obscuros existentes por trás dessas atitudes.
(*) Manoel Martins de Almeida é produtor rural no Pantanal, em Corumbá, MS.