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Síndrome de Burnout e Presenteísmo

Eduardo de Sousa Martins e Silva e José Carlos Rosa Pires de Souza | 19/01/2021 13:16

A síndrome de Burnout é um conjunto de sinais e sintomas decorrentes do estresse crônico relacionado ao trabalho. Ela é considerada um problema complexo, com inúmeras manifestações físicas e mentais, tais como irritabilidade acentuada, fadiga, taquicardia, pessimismo acentuado em relação à vida, desmotivação, falta de prazer pelas coisas que antes lhes davam prazer, insônia, dificuldade de concentração em tarefas rotineiras, esquecimento e despersonalização (a pessoa não se reconhece mais, nem seus comportamentos e nem suas atitudes, parecendo ser outra pessoa). Devido a isto, ocorre uma menor produtividade no trabalho, acompanhada de um intenso desânimo por atividades que antes eram feitas normalmente. Em síntese, é um estado relacionado ao trabalho em que há um profundo esgotamento pessoal e profissional.

A Síndrome de Burnout não é a mesma coisa que a depressão. Embora possa haver na Síndrome de Burnout uma intensa oscilação emocional e um exagerado cinismo, ela é uma circunstância de exaustão associada, categoricamente, ao trabalho e que se associa com uma queda na produtividade. Em contrapartida, a depressão é um transtorno psiquiátrico multifatorial e que afeta todas as idades e segmentos sociais; é uma condição em que a origem não é limitada somente à atividade laboral.

Nesse sentido, a pandemia da COVID-19 e suas repercussões sociais, econômicas e sanitárias mudaram, bruscamente, a dinâmica de muitas atividades profissionais. A sua casa, para muitos, virou o seu ambiente de trabalho, havendo neste contexto o estresse inicial de alterar a rotina de antes quando presencial. Associado a isto, houve uma divisão tênue entre o momento de trabalhar e o momento de cuidar da vida e das tarefas pessoais. Como lidar com esta situação sem se extrapolar para nenhum dos lados?. Atrelado a isto, as práticas de distanciamento social causaram mais ansiedade e medo, decorrentes da incerteza quanto ao futuro próprio e de entes queridos; estas abalaram, profundamente, a saúde mental das pessoas.

Com tudo isto, por consequência, observa-se um crescimento substancial de casos de Síndrome de Burnout, depressão, insônia e ansiedade na população. Há muitos casos de pacientes com quadros psiquiátricos que já haviam tido alta do tratamento e tiveram recidiva do quadro. Também está cada vez mais comuns na clínica diária a procura por ajuda profissional, psicológica e/ou psiquiátrica, por parte de pessoas que nunca sofreram de algum problema emocional.

Na Síndrome de Burnout, há dois fenômenos importantes que se associam com o esgotamento físico e mental no trabalho. O primeiro fenômeno é denominado “presenteísmo” que é conceituado como a situação da presença física do profissional no trabalho, mas há dificuldade de fazer o que tem que ser feito; como também de ter um rendimento prejudicado  na atividade (você está presente fisicamente, porém apresenta alguma enfermidade física e/ou psíquica). O segundo fenômeno é denominado “absenteísmo”, que é conceituado como um aumento substancial das ausências ao trabalho decorrentes de atrasos ou de faltas propriamente ditas, devido entre outros a problemas de saúde.

A nova dinâmica laboral durante a pandemia permitiu, em muitos casos, trabalhar em casa (home office), alterando qualitativamente e quantitativamente os casos de Burnout. Dessa forma, a recomendação dos profissionais de saúde é de que as pessoas não devam se autodiagnosticar, pois o autodiagnóstico leva à automedicação, o que compromete a eficácia terapêutica e, dependendo da medicação, acarreta sérios riscos à saúde.  A avaliação e o diagnóstico em saúde mental devem ser feitos sempre por profissionais capacitados para isso. Caso ache que está com alguma indisposição psíquica, busque ajuda.

(*) Eduardo de Sousa Martins e Silva é acadêmico do curso de Medicina pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e José Carlos Rosa Pires de Souza é psiquiatra, PhD em saúde mental e professor do curso de Medicina da UEMS.


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