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Um projeto para um futuro de paz no planeta

Bruno Roberto Padovano (*) | 25/01/2023 08:28

Em função das atrocidades que estão ocorrendo em guerras de grande, médio e pequeno porte no mundo, um grupo de projetistas ligados especialmente às áreas de Arquitetura, Urbanismo e Engenharia, do qual faço parte, está preparando um projeto de possível interesse para toda a humanidade, enveredando por um caminho de paz e solidariedade entre as nações do planeta.

Numa das reuniões de trabalho da rede e-DAU – equipe Designers Arquitetos Urbanistas em rede, ativa em 23 Estados brasileiros e mais de vinte países estrangeiros, ouvi pela primeira vez o termo “Urbanismo de Fronteira”. Assistindo à bela apresentação geral sobre o tema, proferida pelo coordenador internacional da rede e empossado vice-presidente em janeiro de 2022, professor Quazi Ahmed Zaman, destaquei o Estreito de Bering como um local propício para hospedar uma megacidade que poderia servir de território neutro e livre de hostilidades como as que estamos vivenciando mais ao sul, em território ucraniano.

O Estreito, que havia recebido várias tentativas de ser vencido por uma ligação seca, até com os recursos de bilhões de dólares a serem investidos pela China, se situa logo entre a Federação Russa (Sibéria) e os Estados Unidos da América (Alasca). Sugere esta área para servir de um exemplo de convivência pacífica das nações, urgentemente requerida para um imediato cessar-fogo e negociação entre as partes envolvidas no conflito.

Na própria reunião, que foi assistida por vários membros da e-DAU, de países como África do Sul, Bangladesh, Brasil, Escócia, Hungria, Noruega, entre outros, propus uma ideia de infraestrutura viária e de passagem de serviços junto a uma urbanização planejada, baseada na experiência de ter acompanhado a elaboração de trabalhos de grande escala, como a Ciclopassarela USP-Villa Lobos e a ponte Salvador-Itaparica, na Bahia.

Surgiu assim, nas semanas seguintes, a ideia de ARTICA (uma mistura do português “ártica” e do inglês “arctic”), uma megacidade para 14 milhões de habitantes, oriundos de todos os 193 países-membros da ONU, em parte sobre as águas do Estreito (com profundidade e forças naturais compatíveis com esta possibilidade), deitada num trecho de 85 quilômetros de extensão, passando ao lado das Ilhas Diomedes (a grande, russa, e a pequena, americana).

O projeto, ainda sendo discutido por essa equipe transnacional e interdisciplinar, já permite vislumbrar a grande e impressionante escala desta ligação proposta, que viabiliza, assim, a ligação seca que falta para unir os continentes da África, América, Ásia, Europa e, indiretamente, a Oceania, já que o Estreito une as águas árticas com aquelas quentes do Pacífico. Serão cerca de 85 vãos aproximadamente do tamanho da ponte Golden Gate em São Francisco (EUA), sustentados por pontes pênseis e outras pontes transversais, contando ainda com mais de 190 ilhas flutuantes, uma para cada país-membro da ONU.

Com o acompanhamento de técnicos especializados nesse entrosamento entre diversas áreas do planejamento e do projeto, como o ex-presidente da e-DAU, o arquiteto e urbanista, professor da Universidade Federal de Tocantins (UFT), Walfredo Antunes de Oliveira Filho (um dos autores do plano diretor da cidade de Palmas, no Tocantins), e Jiri Strasky, professor da Universidade de Brno, na República Checa (renomado especialista de projetos estruturais de grandes estruturas, como o sistema Stress-ribbon, por ele inventado), o projeto deverá ser exposto na próxima Bienal Internacional de Veneza, que apresenta um nome muito adequado para sua exposição: O Laboratório do Futuro.

Assim, espero ofertar para a USP, onde me aposentei como professor titular em projetos de arquitetura (na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) em 2020, a possibilidade de atuar com uma das universidades mais prestigiadas no mundo, promovendo o desenvolvimento do projeto como um todo: BSPP – Bering Strait Peace Project (Projeto da Paz no Estreito de Bering), para receber a chancela das Nações Unidas num processo que poderá significar uma das possíveis saídas da atual crise geopolítica e ambiental no planeta.

(*) Bruno Roberto Padovano é professor da faculdade de arquitetura e urbanismo da USP.

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