Uma realidade vergonhosa
Eram cenas do filme Platoon sobre a guerra no Vietnam. Cruzavam os céus pantaneiros helicópteros de todos os modelos e tamanhos. Olhávamos o vai e vem desses potentes engenhos voadores, que ora aspergiam água nas turfas recalcitrantes em sua queima, ora transportavam equipes de bombeiros, voluntários e profissionais, os quais, na luta insana contra o fogo, mereceram, em sua maioria, o reconhecimento da população.
Transportaram também antas, quatis, onças, jornalistas, fotógrafos, ambientalistas, políticos, amigos curiosos e toda espécie de mordomias, como convém nessas ocasiões.
Era tão congestionado o espaço aéreo pantaneiro com aviões e helicópteros que, por fim, derrubaram as estatísticas de acidente aéreo no Brasil tendo dois acidentes graves com mortes.
Dai então vieram s chuvas e o espetáculo cessou. Entretanto, o cenário de fundo permaneceu: a Covid-19.
Não vejo aviões e helicópteros transportando vacinas para socorrer a população pantaneira. Não vejo nossos doentes tendo pronto-socorro tal qual antas e quatis. Não enxergo voluntários socorrendo moradores da planície. Não observo a imprensa e os políticos de manifestando. Não assisto a comoção mundial diante dessa injustiça. Não vejo nossos cantores e atores. Perderam a voz?
Vamos comprar equipamentos de combate a incêndio para que não morra mais nenhum jacaré.
O Ministério Público (MP) cobra no STF, de maneira açodada e desorientada, a aplicação de leis destinadas a Mata Atlântica no Pantanal em ato de puro ativismo judicial e rara ignorância quanto à diferença das suas realidades e deixa a sua própria sorte o povo pantaneiro durante a atual pandemia.
A inversão de valores que vive a sociedade brasileira é fruto de uma bem aplicada agenda de lavagem cerebral. Os verdadeiros objetivos não aparecem e as pessoas pensam que o que se busca é a simples proteção do meio ambiente.
Grande e perigoso engano. O ambientalismo colonialista nos levará ao abismo econômico e social. Quando os brasileiros acordarem para essa realidade talvez seja tarde demais.
(*) Manoel Martins de Almeida é pantaneiro e produtor rural.