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Cidades

"É impossível rever remarcações de terras indígenas", diz procurador

Em MS, são 16 territórios em estudo, 4 delimitados e 9 declaradas; dos 9 territórios declarados, reivindicam demarcação 4 etnias: Terena, Guarani Kaiowá, Ofayé-Xavante e Guarani Nhandeva.

Felipe Pontes, da Agência Brasil e Izabela Sanchez, da redação | 23/01/2019 13:22
Retomada da Terra Indígena Cachoeirinha, em Miranda (MS), em 2013. (Foto: Ruy Sposati/Cimi)
Retomada da Terra Indígena Cachoeirinha, em Miranda (MS), em 2013. (Foto: Ruy Sposati/Cimi)

O subprocurador-geral da República Antonio Carlos Alpino Bigonha, responsável pela temática indígena no MPF (Ministério Público Federal), afirmou hoje (23) não haver previsão legal ou constitucional para se reverter a demarcação de terras indígenas no Brasil.

“É um impossível jurídico rever demarcações de terras no Brasil”, disse Bigonha. “A não ser que se constatasse alguma nulidade, mas esse é um fato excepcionalíssimo, o que existe no Brasil hoje são terras demarcadas regularmente”, disse.

Em todo o Brasil há 238 processos de demarcação de terras indígenas, de diferentes etnias, que ainda não tiveram uma conclusão. Mato Grosso do Sul, que abriga a 2ª maior população indígena do Brasil, também contempla o 2º maior número de territórios em processo de demarcação, segundo dados da Funai (Fundação Nacional do Índio). 

Em Mato Grosso do Sul são 16 territórios em estudo, 4 delimitados e 9 declaradas, o último processo antes da homologação. Dos 9 territórios declarados, reivindicam demarcação 4 etnias: Terena, Guarani Kaiowá, Ofayé-Xavante e Guarani Nhandeva.

Bigonha destacou que o processo de demarcação de terras indígenas é previsto na Constituição, motivo pelo qual “não há possibilidade constitucional de paralisar as demarcações ou de regredir nas que já foram demarcadas”.

O subprocurador reconheceu a possibilidade de que sejam revistos processos administrativos que resultaram em demarcações no passado, caso haja relevante interesse público.

“Mas isso não quer dizer e não pode significar que existe uma dúvida sobre os processos demarcatórios ocorridos até agora. Não paira nenhuma dúvida sobre a legalidade e a regularidade desses processos”, afirmou.

As afirmações foram dadas após a mesa de abertura do evento “Perspectivas dos Direitos Constitucionais Indígenas”, organizado na sede da PGR (Procuradoria-Geral da República), em Brasília.

Diálogo - Na abertura do evento, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou que há dúvidas sobre a condução do tema pelo governo federal. Daí, a PGR ter aberto um canal de diálogo com o Poder Público. Ela destacou a previsão constitucional para a demarcação de terras indígenas.

“É um dever Constitucional imposto sobre o poder Executivo que não foi cumprido e mais uma vez, diante de um novo governo, a pergunta é refeita: quando as demarcações estarão concluídas para que haja aquilo que a Constituição assegura?”, indagou.

Presente à mesa de abertura, a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, assegurou aos presentes que “o diálogo está aberto e o Brasil tem uma ministra que ama de fato os povos indígenas”.

Na primeira semana de governo, a Funai (Fundação Nacional do Índio) foi transferida do Ministério da Justiça para a pasta ocupada por Damares, tendo suas atribuições concentradas na elaboração e implementação de políticas públicas para os povos indígenas. A função de demarcar terras indígenas, por sua vez, foi transferida da Funai para o Ministério da Agricultura.

Para Bigonha, as atribuições da Funai e as demarcações devem ser mantidas no Ministério da Justiça. "O órgão que congrega melhor os esforços para a defesa da causa indígena."

A presença da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, era aguardada. Porém, foi desmarcada devido à participação dela reuniões no Palácio do Planalto sobre as cheias que afetam a produção agrícola no sul do país, informou sua assessoria.

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