"A ação da polícia não se trata de matar", diz delegado sobre mortes em conflito
Somente no primeiros 33 dias de 2025, foram 12 vítimas de confrontos policiais segundo os números da Sejusp
“Então assim, tenho certeza que ninguém sai de casa com a intenção de matar os outros. Não, não é uma uma ação confortável, não é uma ação que te faz bem, pelo contrário, você põe a sua vida para proteger os outros.” A afirmação é do delegado titular do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco e Resgate a Assaltos e Sequestros), Guilherme Scucuglia Cezar ao comentar as três mortes decorrentes de confronto policial no fim de semana.
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Somente no primeiros 33 dias de 2025, foram 12 vítimas segundo os números da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), o que corresponde a uma morte por intervenção policial a cada três dias. Em todo ano passado, foram 86, o mesmo que sete ao mês, na média.
Para o delegado, que ministra cursos de TPPO (Técnicas Policiais e Procedimentos Operacionais), na prática diária dos militares durante as ocorrências, é preciso estar pronto a reagir à mínima menção de perigo à própria vida, ainda que não tenha havido disparo ou ataque direto.
“Isso tecnicamente se chama legítima defesa, quando um policial vê que sua vida, sua integridade física está em risco a ponto de eventualmente vir a sofrer um dano, não necessariamente ter sofrido um dano, mas vir a sofrer um dano, esse policial, ele tem por dever legal ou por autorização legal, a possibilidade de reagir com os meios que ele tiver à sua disposição. Desde que esse meio seja efetivo”, detalhou.
No fim de semana, numa mesma ocorrência, três pessoas morreram durante ação policial e dois deles foram identificados até o momento: Tainara Gonçalves Machado, de 24 anos e Luiz Kaio Garsino dos Santos, 26. O trio, segundo a Polícia Militar, que atendeu o caso, invadiu o comércio de um ourives de 71 anos, o roubaram e o espancaram na própria loja, localizada na rua 15 de Novembro.
O boletim de ocorrência cita que o local estava escuro e assim, como seria possível identificar que os bandidos estariam armados? Conforme Scucuglia, o policial atua para reagir e não para matar. “A atividade da polícia não se trata de matar as pessoas. A gente lida com pessoas com alto poder vulnerante (capacidade de um objeto ou arma de causar dano) e vez por outra a gente precisa agir, num português claro, para não morrer”, defende.
Ele explica que estudos mostram que uma pessoa normal e em condições normais, demora um segundo e meio para identificar um perigo. Outro dado é que as ocorrências em que o oponente está armado com faca, são mais letais que com arma de fogo. Por que? Porque “se uma pessoa a sete metros consegue vir até você correndo, é estatisticamente mais provável que ela te esfaqueie antes que você consiga sacar sua arma e efetuar um disparo.”
“Ou seja, a gente, se a gente esperar o indivíduo apontar e efetuar disparos e vai ter vários disparos na sua frente, aí você pode começar a reagir. É quase que pedir para que o policial tenha sorte, ou morra. Então, tecnicamente, a posse de uma arma de fogo já caracteriza uma iminente agressão e a legítima defesa é justamente o policial repelir uma injusta agressão”, defende.
Ele finaliza comentando que “o fato de entrar em confronto, independente de quem seja, é uma atitude extremamente perigosa para o policial e eu tenho certeza que aqueles que entram em confronto prefeririam não ter entrado.”
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Polícia Militar e aguarda retorno.
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