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Cidades

"A droga não deixa", diz homem sobre sair da situação de abandono nas ruas

Relatos mostram saudade da família, dificuldade em deixar o vício e retomar a vida

Thays Schneider | 07/05/2023 08:51
Carlos Eduardo deitado em frente ao local onde costuma se abrigar (Foto: Paulo Francis)
Carlos Eduardo deitado em frente ao local onde costuma se abrigar (Foto: Paulo Francis)

Com apenas 11 anos de idade, Carlos Eduardo, começou a morar nas ruas. O contato com as drogas ainda na infância o levou à situação de abandono, onde continua até hoje, aos 42 anos de idade. Nascido em Sergipe e vivendo em Campo Grande desde 2003, Carlos improvisou um barraco em um região nobre da cidade, na Rua Goiás, Jardim do Estados. É pai de 3 filhos, com 5, 4 e 3 anos, mas nunca chegou a pegá-los no colo.

Tinha uma mulher, nos conhecemos nas ruas, tivemos filhos, mas a justiça não deixou ficar com a gente, foram entregues para a avó que mora em Jaraguari", explicou. "Os dias nas ruas são incertos, há um ano meu irmão morreu de overdose, não tive coragem de avisar minha mãe que ficou em Sergipe. Entrei nas drogas cedo, não tinha estrutura familiar, minha mãe queria se ficasse em casa, mas acostumei com as ruas. Hoje meu maior sonho é ter uma casa e os meus filhos comigo, mas a droga não deixa", conta Carlos Eduardo.

Enquanto vive nas ruas, Carlos Eduardo diz que passa os dias cuidando de carros em estacionamentos de restaurantes, lojas e hospitais. Já tentou juntar dinheiro para pagar um aluguel, mas não consegue por "ser viciado em maconha e pasta base de cocaína". Relata já ter passado dois meses sem tomar banho e dias sem comer nada. "Um dos meus sonhos é poder tomar banho todos os dias, ter roupa limpa cobertores cheirosos, mas o vício vai destruindo tudo aos poucos", desabafa.

Morador em situação de rua construiu uma casa de papelão para se abrigar (Foto: Paulo Francis)
Morador em situação de rua construiu uma casa de papelão para se abrigar (Foto: Paulo Francis)

Em outro ponto de Campo Grande, mais uma pessoa vivendo em situação de rua chama a atenção de quem passa pela Avenida Ministro João Arinos. Embaixo de um viaduto,  Jhonathan, de 34 anos, encontra abrigo. Natural do Estado do Paraná, ela está em Campo Grande há 20 dias. Chegou aqui pegando carona com caminhoneiros e percorrendo algumas distâncias a pé.

Jhonathan conta que ficou preso por 11 anos, cumprindo pena por tráfico de drogas. "Dinheiro fácil e rápido foi assim que enxerguei o tráfico, em uma das vezes que estava levando droga fui preso. Sou pintor profissional , mas na hora de arrumar emprego pedem residência fixa, telefone e documentos", diz.

Pensando na mãe que ficou no Paraná o morador de rua lamenta o caminho que escolheu. "Hoje sou viciado em maconha e cocaína não consigo ficar sem usar. Nos dias de chuva e frio os desafios aumentam. Essa vida não desejo a ninguém", relata.

Ajuda - A  SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social)  possui equipes da SEAS (Serviço Especializado em Abordagem Social) que oferecem atendimentos para essa população em sete regiões da Capital. Os trabalhos funcionam por meio de busca ativa e denúncias, que podem ser realizadas pelos telefones (67) 99660 6359 e (67) 996601469. As equipes ficam de plantão durante às 24 horas do dia, até em finais de semana e feriado.

Só no período de 2021 até março deste ano as equipes do Serviço Especializado em Abordagem Social realizaram um total de 7.578 abordagens à pessoas em situação de rua, enquanto o Centro POP contabilizou 11.542 atendimentos no mesmo período. O número de atendimento não representa a quantidade de pessoas acolhidas, pois a mesma pessoa pode ter passada pelo Centro POP mais de uma vez.

"O objetivo preliminar é estabelecer vínculos com os usuários e assegurar trabalho social de abordagem e busca ativa que identifique, nos territórios, a incidência de trabalho infantil, exploração sexual de crianças e adolescentes, situação de rua, dentre outras, possibilitando condições de acesso à rede de serviços e a benefícios assistenciais", informou a assessoria da secretaria.

Ainda é ressaltado que a pessoa tem o direito de aceitar ou recusar a oferta de ajuda, não sendo obrigada a acompanhar as equipe.

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