Campo Grande esbanja na quantidade de hortas: são 83 espalhadas pela cidade
Pequenos produtores urbanos afirmam que procura tem crescido nos últimos anos; confira onde encontrá-las
Opções de hortas urbanas, tanto orgânicas quanto tradicionais (que usam algum tipo de aditivo químico) não faltam em Mato Grosso do Sul. Em Campo Grande, existem 83 espalhadas por toda cidade. Os dados são da Sidagro (Secretaria Municipal de Inovação, Desenvolvimento Econômico e Agronegócio).
A produção de alimentos orgânicos ou com menos uso de agrotóxicos e pesticidas - itens encontrados com frequência na produção em larga escala - além de favorecer a saúde da população, fortifica o trabalho dos pequenos produtores urbanos.
O Campo Grande News esteve em algumas das hortas espalhadas pela cidade, conversou com os três produtores e esquematizou um mapa para mostrar onde as hortas estão. Veja:
Sérgio Aparecido de Souza, de 46 anos, trabalha com a plantação de hortaliças há 7 anos, na Rua Aguaceiro, no Bairro Parque Dallas e dedica 8 horas do dia à profissão, junto com mais três pessoas da família. Ele explicou o porquê de a população estar procurando mais os locais.
“As pessoas estão buscando mais porque aqui é uma horta quase orgânica, falta 10% para ser orgânica, porque usamos apenas adubo químico. Elas procuraram folhagem, tudo tiradinho na hora. Acho que é muito bom, a durabilidade dela é maior e o preço também é mais em conta que no mercado. Aqui a gente cultiva mais folhas: alfaces, cenoura, couve, almeirão, chicória, cheiro-verde. Esta ano está ótimo, 80% a mais na produção. No ano passado, o tempo judiou muito da gente”, disse.
Já Evandro Carlos Suman, de 43 anos, trabalha há 12 anos na Rua Naor Leme Barbosa, no Bairro Itamaracá. Ele explicou o porquê deste ano estar sendo mais proveitoso para o setor.
“Agora vamos entrar na entressafra (estiagem) no Estado, então, quem abastece a gente é São Paulo. Ou seja, a entressafra não produz por causa do calor. Ainda bem que não está chovendo pesado, porque novembro em diante é chuvarada pesada e não consegue produzir. Esse ano a gente tá vendo que está tendo mais sol quente e a chuva está bem pouca. Ano passado nessa época do ano era chuva de levantar os canteiros de alface. Esse ano a produção está menor por causa do calor, mas ainda conseguimos produzir. A perda está mínima, cerca de 5 a 10%”, comentou.
Evandro comenta ainda que cultiva uma horta tradicional, ou seja, que utiliza o adubo químico para acelerar a produção. “Aqui é 95% orgânico, o uso de veneno é zero, só uso adubo químico na hora do plantio. Ele acelera a produção. Um exemplo: a gente usa 100g por metro quadrado, é mínimo. No orgânico 100%, é trabalhoso. Por isso, a verdura é mais cara e ela não desenvolve, fica pequena. Ela se torna mais cara porque o custo é maior também. E o adubo orgânico é muito caro. Eu não estou 100% por causa disso”, finalizou.
O pequeno agricultor urbano cultiva couve, almeirão, diversos tipos de alface e rúcula. De acordo com Evandro Carlos, o que ele mais vende é alface e principalmente, a couve, devido a procura para o preparo de pratos como atípica feijoada.
Outra realidade - O mais novo na profissão é Ulises Colombo e Silva, de 46 anos. Ele cuida de uma horta há dois anos, no Bairro Noroeste e explicou à reportagem que há diferenças nos solos entre os bairros citados. “O solo tem diferença, aqui o meu é até diferente de qualquer área mesmo aqui no próprio bairro, ele é mais argiloso. Então muda muito na cidade”, pontuou.
Ulisses ressaltou que apesar da procura geral ter aumentado nos últimos anos, ainda existe a necessidade da conscientização das pessoas a respeito do tema e mostrar a elas sobre quais são os benefícios da horta urbana e o que ela traz, tanto para as pessoas quanto para o planeta.
“Você tem um produto fresco, com menos carbono e com mais qualidade, só que a informação das pessoas entenderem o que é um produto orgânico que é produzido na horta é muito pouco, além do impacto no meio ambiente e na vida delas. A minha é 90% orgânica, uso pouca coisa, eu tento cultivar mais o orgânico, produzo meu próprio adubo e é assim que tento manejar a horta”, disse.
A esposa de Ulisses, Franciele Poliana Gimenes, de 32 anos, revelou que o marido acorda às 5h e volta às 19h para casa. De acordo com a mulher, a falta de interesse dos mercados pelas hortaliças desmotiva os produtores e causa dificuldades na renda da família. “Começamos a plantar legumes e a vender de porta em porta. Os lugares querem comprar muito barato de nós, sair de porta em porta vendendo compensa mais do que vender pra eles. Pega um preço mais justo”, pontuou.
O produtor acrescentou sobre a compra na cidade ser priorizada pelos produtores de São Paulo, o que deixa a produção ainda menor e desincentiva os pequenos produtores.
“A procura é bem pouca porque a gente planta em pouca quantidade, o escoamento é muito difícil, então se você faz um plantio grande acaba perdendo. Eu plantei um monte de cebola, se eu não colher estou perdendo, porque? Porque não tenho como concorrer com o pessoal de São Paulo. Eles compraram até uma carga fechada, por um valor menor e atende o requisito deles. A gente tem que vender de porta em porta. Tem uma cliente que pega com a gente salsinha, cebolinha e ela vende nos mercados. Ela compra de mim mesmo porque quer nos ajudar”, finalizou.
Apoio - De acordo com a Informações da Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural) as hortas urbanas são fruto de parceria entre o Governo do Estado e Prefeitura de Campo Grande e busca fomentar a agricultura familiar, gerar renda e melhorar os hábitos de consumo nas comunidades na Capital. O suporte é feito por meio da Agraer e da Sidagro.