Comissão internacional quer saber onde está Bigode, desaparecido há 21 meses
Ele saiu para dar ração ao gado no Assentamento Canaã e sumiu; temor é que seja crime por conflito fundiário
Conhecido como “Bigode”, Antônio Martins Alves está desparecido há quase dois anos. Nem mesmo medida cautelar da CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos), emitida em outubro de 2021, solicitando que o governo brasileiro se debruçasse em sua procura, surtiu efeitos.
Estava com 82 anos quando desapareceu no Assentamento Canaã, em Bodoquena, a 266 km de Campo Grande. Bombeiros, Polícia Civil e moradores da região o procuraram, sem sucesso. É como se ele tivesse evaporado. Desavenças por conta de sua terra e cabeças de gado surgem como possíveis causas, mas nada se comprovou até agora.
Pelo registros policiais obtidos pelo Campo Grande News, nos dois meses seguintes ao desaparecimento, houve buscas pelo idoso.
Única filha de Antônio, Nilce Santana Alves, 41 anos, disse em depoimento à polícia que o pai morava sozinho em casa no assentamento e que mantinha contato com ele com frequência. Inclusive, sabia que havia desentendimentos do pai com vizinhos.
Com um deles, o problema era a negativa dele em deixar que estrada fosse aberta em seu lote para dar acesso à chácara do outro proprietário. O vizinho trabalharia com turismo e por isso queria abrir acesso à sua propriedade. “Seu pai não deixou e durante a briga, um teria puxado a arma para o outro”, diz trecho do relato do depoimento.
Outra desavença foi por conta de cabeças de gado. Vizinho que arrendava terras de Antônio usava gado dele para cruzar. O pai de Nilce dizia estar desconfiado que quando os animais cruzavam, o outro produtor “aproveitava” para roubar cabeças que pertenciam a ele. Entretanto, nada foi comprovado.
Busca internacional - Na medida cautelar da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, é relatado que “as casas dos vizinhos que supostamente teriam desavenças com o proposto beneficiário também foram investigadas”, e nada de suspeito foi identificado.
Para justificar a importância das buscas por “Bigode”, “a Comissão adverte que a solicitação informou que o proposto beneficiário morava em um Assentamento onde havia conflitos e o interesse da indústria turística. Neste contexto, informou-se que o proposto beneficiário exercia um papel de liderança na defesa das suas terras e do meio ambiente”.
Na medida, a CIDH pede que o Estado Brasileiro “adote as medidas necessárias para determinar a situação e o paradeiro de Antônio Martins Alves, a fim de proteger os seus direitos à vida e à integridade pessoal” e que “informe sobre as ações adotadas para se investigar os supostos fatos que levaram à adoção desta medida cautelar e evitar a sua repetição”. A reportagem procurou a comissão e aguarda retorno.
Nilce falou com a reportagem e diz que está cuidando da chácara do pai e a mantém como pode. Não mora lá porque “tenho medo de ficar lá sozinha, já que não sei oque aconteceu com meu pai”. As cabeças de gado ela vendeu e diz que “as outras coisas estão em juízo processo judicial por causa do desaparecimento”. Antônio tinha terras arrendadas.
Por fim, tenta manter a confiança apesar do tempo de espera e afirma que a “esperança é a última que morre”. Sem ter ideia do que pode ter ocorrido, ela simplesmente diz que “ele saiu pra dar sal e ração para as vacas e sumiu”, consente.