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Cidades

Depressão e suicídio: defesa quer exame de insanidade em ré que matou chargista

Relatório indica que Clarice Silvestre de Azevedo tem histórico depressivo e tentou se matar 7 vezes

Silvia Frias | 11/03/2021 08:52
Marco Antônio e Clarice mantiveram relacionamento por cerca de 9 meses (Foto/Reprodução)
Marco Antônio e Clarice mantiveram relacionamento por cerca de 9 meses (Foto/Reprodução)

A defesa da massagista Clarice Silvestre de Azevedo, 44 anos, pediu à Justiça a instauração de incidente de insanidade mental, ou seja, que ela seja submetida à exame para determinar se pode ser considerada ciente dos seus atos. Clarice é acusada de matar o chargista Marco Antônio Borges. O corpo da vítima foi esquartejado e queimado, em crime ocorrido em novembro de 2020.

A justificativa para a realização do exame é o histórico de Clarice, relatado às psicólogas que a atenderam antes e depois da prisão: quadro depressivo, sete tentativas de suicídio, instabilidade, insegurança e impulsos agressivos e hostis.

A defesa prévia foi assinada pelo defensor público Gustavo Henrique Pinheiro da Silva no dia 4 de março e anexada ao processo ontem (10), sendo encaminhada à 1ª Vara do Tribunal do Juri de Campo Grande.

No documento, o defensor anexou trechos de dois relatórios psicológicos feitos com Clarice. Um deles foi elaborado pela profissional que atende as internas do presídio feminino Irmã Irma Zorzzi.

Clarice relatou que teve episódios de depressão ao longo da sua vida, especificando algumas situações: a doença do 3º filho que necessitava de cuidados especiais, nascimento da 5ª filha e a morte do filho. O relatório não detalha as situações.

A massagista teria tentado o suicídio por sete vezes, iniciando há quatro anos. “(...) há muito tempo sente uma tristeza em sua vida e um desejo de morrer, de modo que, anteriormente não cometia suicídio devido a necessidade de cuidado com o filho especial e após a morte dele realizou as tentativas (enforcamento e atirar-se contra transporte coletivo)”.

A psicóloga detalha que Clarice apresenta, na autoimagem inconsciente, “desgaste emocional, ameaça de destruição, com sofrimento do ego e sensação de desintegração (...) impulsividade associada a falta de amplitude interpessoal, impulsos agressivos e hostis”.

Clarice se entregou à polícia em São Gabriel do Oeste e foi transferida para Campo Grande (Foto/Arquivo: Paulo Francis)
Clarice se entregou à polícia em São Gabriel do Oeste e foi transferida para Campo Grande (Foto/Arquivo: Paulo Francis)

Na chamada autoimagem consciente, “demonstra sentimentos de iminente colapso de personalidade, instabilidade, insegurança, dificuldade para estabelecer contato ativo com a realidade, culpa e vergonha”. Conforme o relatório, Clarice “revela que se tivesse visão mais realística do relacionamento poderia ter terminado e evitado que surto acontecesse”.

O defensor público protocolou segundo relatório, feito pela psicóloga que atendeu Clarice antes do crime, em clínica de Campo Grande. A profissional esclarece que foram realizadas 10 sessões, o que não seria suficiente para diagnóstico mais preciso e completo.

Preliminarmente, diz que “paciente tem mesclado de intenso sofrimento e por outro lado indiferença frente à própria vida, ora trazia dor e sofrimento, ora discurso indiferente e anestesiado de qualquer sofrimento. Possui condição psicológica primitiva carregada de sentimentos melancólicos e de indignação por todo sofrimento vivido”.

Por conta da dúvida da capacidade mental da massagista, a defensoria requereu instauração de “incidente de insanidade mental” e apresentou quesitos que devem ser respondidos nesse exame, como se ela é portadora de perturbação da saúde mental e se, em em razão dessa doença é inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato.

A intenção é comprovar se Clarice é inimputável ou semi-inimputável, ou seja, se pode responder total ou parcialmente pelos atos, o que pode ser determinante no processo.

Paralelamente, Silva fez prévia da defesa, alegando que não há provas concretas para embasar a denúncia e que é há de se imperar o princípio “in dubio pro reo” (na dúvida, a favor do réu). Por isso, requer absolvição sumária ou impronúncia, ou seja, que ela não seja levada à júri popular.

Caso não seja esse entendimento e o juiz determine que Clarice seja julgada, a defesa irá apresentar as provas da inocência ao longo do processo

O defensor também pediu segredo de justiça no processo, alegando que precisa preservar os filhos do conteúdo dos laudos psicológicos.

O crime – Marcos Antônio havia desaparecido desde o dia 21 de novembro. O corpo foi encontrado no dia 24, dentro de duas malas carbonizadas, em terreno no bairro Corcovado.

Na manhã do dia 24, Clarice Silvestre, se apresentou à Polícia Militar de São Gabriel do Oeste e confessou o crime. Ela disse que havia matado o chargista na manhã de sábado, após discussão na casa dela, no bairro Monte Castelo.

À polícia, a massagista contou que tinha relacionamento há 9 meses com Marco Antônio, mas que ele não queria torná-lo público. A discussão começou quando viu uma foto no celular dele, com outra mulher. Ela contou ter sido agredida com 2 tapas e o empurrou da escada. Depois, quando o chargista ainda estava atordoado, o esfaqueou.

A investigação, no entanto, aponta que Marco Antônio Borges estava deitado na cama, de costas, quando foi esfaqueado, o que muda a dinâmica de luta relatada por ela à polícia.

Logo após a morte, Clarice foi ao bar da esquina, onde sempre conversava com a proprietária. Arrumou as mesas, ajudou a varrer a calçada e ficou um tempo ali, até que voltou para casa. Saiu novamente e comprou materiais para o esquartejamento: facas, luvas, sacos de lixo e água sanitária para a limpeza.

Clarice pediu ajuda ao filho de 21 anos, João Victor Silvestre de Azevedo Leite. O rapaz chegou à casa por volta das 18h, e ajudou a esquartejar o corpo. Às 19h30, as três malas foram levadas para a casa de João Victor, no Jardim Tarumã. Mais tarde, transportadas para terreno baldio no Jardim Corcovado e queimadas.

A massagista foi denunciada por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver.  João Victor responde por ocultação de cadáver e também por concurso de pessoas, acusação para quem ajuda no cometimento de ilícito.


 - CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS

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