Em MS, a cada 5 testes feitos, 1 é positivo para covid
Em janeiro, 22% dos exames dão positivo; variante Ômicron é principal hipótese para aumento de infecções
A procura por exames de coronavírus continua a maior em toda a pandemia e a circulação da variante Ômicron é a principal hipótese para o aumento de infecções e consequente busca para realização dos diagnósticos.
Mesmo que haja número expressivo de testes, a taxa de positividade também é alta - cerca de um a cada cinco dão positivo, conforme dados da SES (Secretaria Estadual de Saúde), levantados pelo Campo Grande News.
A parcial de janeiro, 22,3%, supera os meses anteriores, que tiveram muito menos demanda para tais exames.
Nas últimas semanas, há uma corrida aos locais de testagens e há um recorde, já em todo o período pandêmico, no número de notificações de casos - isto é, quando um paciente realiza algum tipo de teste para a doença. Isso indica que muitos pacientes têm sentido sintomas da covid e buscado o diagnóstico.
Maior desde março de 2020, a média de testes em todas as unidades de saúde e laboratórios particulares é de aproximadamente 6 mil por dia. Antes do fim do ano, chegou a ser menor que mil.
Ômicron - Em suma, para além do número de pessoas indo nos postos de saúde ou centro de testagens, a média de casos confirmados também é a maior em todo o período pandêmico.
No começo do mês, o secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, havia dito que o cenário de "aumento exponencial" da infecção pode ser responsabilizado pela chegada da variante Ômicron do coronavírus.
Estudos preliminares avaliam que a mutação seja mais infecciosa, ainda que a letalidade não seja a principal característica.
Para o pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Julio Croda, a Ômicron pode vir a sobrecarregar o SUS (Sistema Único de Saúde) em um período de 30 a 60 dias, assim como ocorreu em outros países afetados anteriormente pela cepa.
Em locais como a África do Sul ou Reino Unido, viveu-se uma explosão de casos e, consequentemente, um aumento no número de internações e óbitos - mesmo que em menor proporção.
Em Mato Grosso do Sul, têm sido registrados recordes do número de infecções por coronavírus dia após dia, desde o fim de dezembro, índice que já é o maior em toda a pandemia da covid-19. Atualmente, há mais de 2,1 mil registros diários.
“O impacto da Ômicron é justamente esse. A taxa de transmissão é de 10 - cerca de duas a três vezes maior que outras variantes. A gente tem menos casos graves - menos hospitalização e óbito -, mas por conta de todo mundo estar se infectando ao mesmo tempo, mesmo com o menor número de hospitalização e óbito, essa nova onda, mais intensa, pode levar ao colapso por um período curto de tempo."
Cuidado - Croda ressalta que a principal medida para reduzir danos desta variante é a vacinação, com todas as doses disponíveis no seu calendário vacinal - primeira, segunda e reforços.
Ele reforça que o processo de imunização tem reduzido casos graves e avalia que gestores poderiam exigir comprovação do esquema vacinal completo, por meio do "passaporte da vacina", por exemplo, como forma de incentivar a busca.
A gente sabe que as vacinas têm prevenido, principalmente formas severas, de hospitalização e óbito. Então, quanto maior a cobertura, menor a chance de ter colapso em unidades hospitalares e unidades de terapia intensiva. Neste sentido, talvez, o passaporte vacinal seja a medida mais importante para aumentar a adesão à vacinação em toda a população."
Segundo ele, a maioria dos indivíduos hospitalizados por conta do coronavírus não tinham tomado a vacina e as demais doses de reforço. Conforme a SES, em Mato Grosso do Sul, cerca de 95% das internações ocorrem em quem não está em dia com o processo de imunização.
“Atualmente, o principal público que está se hospitalizando são pessoas que não tomaram vacina ou que não tiveram seu esquema vacinal completo. Cerca de 90% a 95% das pessoas no Brasil e no mundo, que estão se hospitalizando e eventualmente indo a óbito, são pessoas que não tiveram seu esquema vacinal completo."
O infectologista avalia que o passaporte seria mais eficaz que medidas restritivas como o lockdown. “Outras medidas, acredito que sejam ineficazes. Neste momento, principalmente com elevada transmissão, seria mais eficaz, justamente, aumentar a cobertura vacinal, para prevenir o colapso do sistema de saúde."
Segundo ele, o confinamento possui pouca chance de garantir redução nos casos, já que a variante Ômicron é mais transmissível e seria praticamente ineficaz restringir a mobilidade urbana de moradores. "Medidas como lockdown são inefetivas, porque a transmissibilidade dessa nova variante é muito elevada."
Ainda assim, ele reforça que a realização de eventos que promovam grandes aglomerações pode ser revista, a fim de reduzir o contágio. "O que a gente pode fazer é evitar eventos de massa, de aglomeração, que reúnam mais de 100, 200 pessoas. Isso reduz, de certa forma, a transmissão e pode impactar o número de possíveis casos graves."
Lotação - Além disso, o infectologista ressalta que é necessária uma ampliação nas estruturas hospitalares - que tem sido feita por autoridades estaduais e municipais, com a ativação de leitos de terapia intensiva.
Vale lembrar que, quando houve redução nos casos de covid, que vinham superlotando hospitais públicos, muitas UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) foram desativadas, já que exigem recursos humanos e insumos para se manterem.
Esta desaceleração fez com que a Capital tivesse, nesta semana, menos da metade de estruturas ativadas, na comparação com o primeiro semestre de 2021.
Segundo Croda, o mapeamento de tais estruturas e um planejamento para que sejam reativadas serão fundamentais para evitar um eventual colapso. “É necessário sempre acompanhar a taxa de ocupação e programar essa expansão já neste momento em relação ao crescimento dessa ocupação. A gente já sabe que está havendo um aumento nas internações e é necessário uma expansão muito rápida.”
Sempre há risco de colapso do sistema de saúde, principalmente, se houver uma redução no número de leitos e uma explosão do número de casos. Então, é necessário entender os cortes de leitos hospitalares que foram realizados e se a abertura de novos leitos em tempo oportuno será possível."
Dados da SES atualizados ontem (29) indicam que cerca de 83% dos leitos de terapia intensiva estão ocupados, no Estado. Somente nas unidades destinadas à covid, o índice é de aproximadamente 93,8%.