Ex-major traficante volta a receber aposentadoria de MS, que já soma R$ 81 mil
O benefício havia sido bloqueado, ele acionou a Justiça e recebe desde março, inclusive retroativos
A Ageprev (Agência de Previdência Social de Mato Grosso do Sul) retomou em março o pagamento de aposentadoria para Sérgio Roberto de Carvalho, o ex-major da PM (Polícia Militar) que está preso na Bélgica e leva o apelido de “Escobar brasileiro”, numa referência ao narcotraficante colombiano Pablo Escobar.
Conforme consulta ao Portal da Transparência, os valores da aposentadoria para o ex-oficial totalizam R$ 81.393,77 brutos e R$ 58.260,62 líquidos. Ou seja, o quanto recebeu após as deduções obrigatórias.
No mês de março, foram R$ 12.860,75 de remuneração fixa e os mesmos R$ 12.860,75 de remuneração eventual. Após os descontos o pagamento foi de R$ 20.260.16.
Em abril deste ano, houve somente a remuneração fixa – R$ 12.860,75. Com descontos, o valor caiu para R$ 11.088,35. Em maio, a remuneração fixa teve reajuste e passou para R$ 13.503,78. O ex-major também teve direito a R$ 18.219,39 de remuneração eventual. Após as deduções obrigatórias, o total pago foi de R$ 26.912,11.
Morto-vivo – No radar da PF (Polícia Federal) em Mato Grosso do Sul desde a década de 70 por contrabando de pneus do Paraguai, Carvalho migrou para o tráfico de drogas. Em 1997, foi flagrado com 237 quilos de cocaína.
Em 2007 e 2009, quando já cumpria pena em regime semiaberto, voltou a ser preso por envolvimento em jogos de azar, alvo das operações Xeque-Mate e Las Vegas. A expulsão da Polícia Militar só veio em 7 de março de 2018.
Já em novembro de 2020, após a PF deflagrar a operação Enterprise, o ex-major surgiu como figura central num esquema capaz de exportar 45 toneladas de cocaína (equivalente a R$ 2,2 bilhões), sendo comparável ao colombiano Pablo Escobar.
A investigação também mostrou que Carvalho chegou a ser preso na Europa, mas usava o nome de Paul Wouter. Com essa identidade, foi posto em liberdade e, depois, a defesa de Wouter apresentou certidão de óbito por covid-19, sendo o corpo cremado, portanto sem condições de análise de DNA dos restos mortais para confirmar a identidade.
A versão “morto-vivo” levou o Governo do Estado a exigir prova de vida, ou seja, que ele comparecesse até à Ageprev, em Campo Grande. Como ele não atendeu a convocação, o pagamento da aposentadoria ficou suspenso desde fevereiro de 2021.
Atrasados - Nesta terça-feira (dia 11), a Ageprev informou que Sergio Roberto de Carvalho foi reintegrado à folha de pagamento em novembro. Contudo, não foi esclarecido o motivo de ele aparecer no Portal da Transparência somente a partir de março.
A agência informa que, na primeira prova de vida, o ex-major se apresentou por meio de procuradora, mas as informações não foram consideradas consistentes. Depois, enviou certidão carcerária de que estava preso na Bélgica.
Ele tem direito a pagamento retroativo, que entra como vantagem eventual. O valor foi parcelado e ainda resta saldo de R$ 49.299,64. A agência destaca que não há ilegalidade no pagamento ao servidor aposentado.
Em novembro do ano passado, a Justiça fixou em R$ 1,3 milhão a indenização que a administração estadual deverá pagar para Carvalho em processo porque teve o pagamento suspenso pelo governo noutro período. O valor será repassado por meio de precatório, mas acabou bloqueado por decisão da 14ª Vara Federal de Curitiba, onde tramitam os processos da operação Enterprise.