Médicos da Capital apoiam proibição de prescrever anabolizantes e fazem alerta
Profissionais defendem uso de hormônios estritamente ligado à saúde
Ganhar músculos, emagrecer e melhorar o desempenho esportivo usando esteroides andrógenos e anabolizantes já não era amplamente recomendado e desde segunda-feira (11) passou a ter prescrição médica proibida por resolução do CFM (Conselho Regional de Medicina).
Na prática, o uso de hormônios não poderá ser receitado por profissionais de nenhuma especialidade médica, caso a finalidade do uso seja mudança estética. O "chip da beleza" é um exemplo de produto dessa linha prescrito por endocrinologistas e ginecologistas, mas que agora não pode ser indicado para melhorar algum aspecto físico.
Médico pós-graduado em obesidade e medicina do exercício e do esporte, Tiago Dutra é de Campo Grande e manifestou apoio à proibição. "Primeiramente, é importante frisar que a prescrição de hormônios para fins puramente estéticos nunca foi liberada pelo CFM e desconheço qualquer prática médica que priorize a estética acima da saúde", destaca.
Enquanto apoia, Dutra se preocupa com possível aumento do uso indiscriminado que a medida pode desencadear. "Costumo notar um crescente abuso de pacientes utilizando hormônios de uso oral, como oxandrolona e estanozolol e outros injetáveis, além dos perigosíssimos advindos do mercado paralelo produzidos em laboratórios clandestinos, sem qualquer tipo de fiscalização, gerando graves riscos", relata.
Presidente do CRM/MS (Conselho Regional Medicina de Mato Grosso do Sul), José Jailson de Araújo Lima corrobora a resolução do Conselho Federal. "A ação do CFM se faz necessária devido à falta de comprovação científica suficiente que sustente o benefício e a segurança do paciente nestes tratamentos", pontua.
Efeitos colaterais - Entre os efeitos colaterais associados ao uso de andrógenos esteroides e anabolizantes para fins estéticos, estão hipertrofia cardíaca e distúrbios endócrinos como infertilidade, disfunção erétil e diminuição de libido.
Médico ginecologista e obstetra, além de terapeuta sexual nos tratamentos para mudança de gênero no Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian em Campo Grande, Ricardo Gomes acrescenta a essa lista efeitos adversos que podem ser incômodos especialmente para as mulheres, que são o aumento do clitóris e o engrossamento da voz. "E são irreversíveis. Se você para de usar anabolizante, logo perde o músculo, mas muitos efeitos colaterais não somem. Efeito desejado é temporário e o efeito colateral é permanente", alerta.
Casos liberados - Ricardo Gomes lembra que a prescrição de hormônios segue sendo feita em casos em que há benefício à saúde do paciente, entre elas o tratamento dos sintomas na menopausa e andropausa, desde que indispensável e com acompanhamento. "Tudo precisa ser avaliado caso a caso. Mesmo em situações em que a receita é liberada, há questões controversas que precisa da nossa análise", diz.
O médico do Hospital Universitário inclui a terapia para mudança de gênero como caso liberado que maneja justamente o desejo pelos efeitos colaterais no corpo. "O crescimento de pelos e engrossamento da voz, por exemplo, são efeitos colaterais que é o que quer um homem trans. Ele terá que lidar com acne também, por outro lado, mas isso pode ser tratado", explica.