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Cidades

Pacientes de outras regiões ocupam 1/4 dos leitos de UTI em Campo Grande

Boletim ao qual o Campo Grande News teve acesso mostra 56 pacientes de outros municipios na Capital

Marta Ferreira | 05/08/2020 14:24
Arte: Thiago Mendes
Arte: Thiago Mendes


A história se repete, sempre. Essa máxima está em pleno vigor na pandemia de novo coronavírus, que replica ao universo de doentes da covid-19 a histórica dependência da rede pública de saúde de Mato Grosso do Sul em relação a Campo Grande.  Nas UTIs da Capital, estão internados pacientes de 28 cidades, com origem nas quatro macrorregiões nas quais o Estado é dividido quando o assunto é referência para atendimento hospitalar.

Epicentro da doença, com 153 mortes e mais de 11,3 mil casos, Campo Grande enfrenta batalha judicial envolvendo a decretação de lockdowm, mas no olhar das autoridades municipais, a medida é desnecessária e o caos propagado não existe. O socorro a pacientes de outras regiões, inclusive de municípios a mais de 400 km, em outra ponta geográfica estadual, é um dos argumentos para isso.

Doentes de fora- Mapa de ocupação das vagas obtido pela reportagem, referente à terça-feira (4) mostra que um quarto dos leitos de UTI em uso na cidade é para devolver à vida pessoas moradoras de outros municípios, onde foram contaminadas com o novo coronavírus.

Hospital Regional de Aquidauana, que teve de restringir atendimento para dar conta dos doentes de covid-19 e enviou os mais graves para Campo Grande. (Foto: Divulgação)
Hospital Regional de Aquidauana, que teve de restringir atendimento para dar conta dos doentes de covid-19 e enviou os mais graves para Campo Grande. (Foto: Divulgação)



Aquidauana, por exemplo, onde a doença explodiu nos últimos dias, tinha ontem 13 doentes nas vagas de terapia intensiva em Campo Grande. Se consideradas os municípios da microrregião aquidauanense, eram 23 leitos da Capital em uso, com gente vinda de Anastácio (2), Dois Irmãos (3), Nioaque (2), Miranda (2) e Guia Lopes da Laguna.

A última cidade citada, Guia Lopes, a 226 quilômetros da Capital, já foi epicentro da doença no Estado e, ainda hoje, tem a maior incidência de covid-19. Com 10,4 mil habitantes, teve 280 moradores infectados e três mortes.

Com 46 mil habitantes e vizinha a Guia Lopes, Aquidauana enfrenta caos na saúde. São 15 mortos por covid-19 e 480 doentes. Sem estrutura hospitalar de alta complexidade, a cidade restringiu o atendimento a outras doenças em suas unidades, decretou lockdown, chegou a impedir o acesso de turistas, e o jeito foi enviar pacientes graves para hospitais de Campo Grande.

Corumbá, sede de macrorregião, que já teve mais de 1,4 mil infectados, com 47 mortes, também enfreta problemas sérios no cuidado com os doentes de covid-19 em estado grave. Lá, são apenas 22 leitos de UTI.

No mapa hospitalar de terça-feira, o município pantaneiro tinha um morador internado em hospital sediado em Campo Grande, distante 422 quilômetros. Com pouco mais de 90 mil habitantes, Corumbá é a quarta cidade mais populosa de Mato Grosso do Sul.

Também sede de macrorregião, com 10 cidades na borda do estado vizinha a São Paulo e Goiás, Três Lagoas é a terceira cidade em população no Estado, com quase cem mil habitantes. Enviou, só nos últimos dias, conforme boletim obtido pela reportagem, quatro pacientes para tratar-se na Capital da forma mais grave da doença.

A segunda cidade em população, Dourados, sede de outra macrorregião com 33 municípios, e que até dias atrás era a maior preocupação das autoridades de saúde por causa da explosão de casos de covid-19, também tem pacientes em tratamento intensivo em Campo Grande. Eram 2 ontem.

Dourados, de 260 mil habitantes, acumula 57 vítimas da pandemia, com registro de 4,4 mil casos positivos. Na cidade, os frigoríficos foram considerados propagadores da doença. Havia duas pessoas vindas de lá em Campo Grande ontem.

Números - Nessa terça-feira, com os pacientes do interior e de Campo Grande, havia 232 leitos de UTI ocupados. Desse total, 176 abrigavam pessoas contagiadas e moradoras na Capital. As outras eram de outras cidades.

A reportagem apurou que esse é um dos dados a serem considerados pela prefeitura em sua avaliação de não ser necessário o bloqueio de atividades essenciais na cidade. O assunto agora está judicializado, com a ação da Defensoria Pública pedindo lockdown por pelo menos 14 dias.

Responsável pelo processo, o juiz da 1ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogênios, José Neiva de Carvalho, deu prazo de 72 horas para a manifestação da prefeitura de Campo Grande. Esse prazo começa a contar quando houver notificação, o que ainda não havia sido feito até esta manhã.

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