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Cidades

Trutis justifica armas, mas se cala sobre farsa

O parlamentar foi preso e depois liberado, mas nega o trâmite em solo policial

Anahi Zurutuza | 13/11/2020 11:06
Deputado Loester Carlos (PSL-MS) em vídeo divulgado no Facebook (Foto: Reprodução)
Deputado Loester Carlos (PSL-MS) em vídeo divulgado no Facebook (Foto: Reprodução)

Sem dizer uma palavra sobre a investigação da Polícia Federal contra ele por “falsa comunicação de crime”, o deputado federal Loester Carlos, o Tio Trutis (PSL-MS), gravou vídeo na manhã desta sexta-feira (13) para justificar porque passou pelo menos 8 horas dentro da Superintendência da PF (Polícia Federal) em Campo Grande ontem (12), que chegou a pedir vaga em presídio para transferir o parlamentar.

O legislador foi preso e depois liberado, mas nega o trâmite em solo policial. “Em momento algum eu fui detido, em momento algum eu fui preso. Fiquei algumas horas dentro da Polícia Federal”.

Tomando suco de laranja nesta manhã, depois de “passar a tarde bebendo Coca-cola e comendo Bis na PF”, disse Trutis, o deputado aparece no vídeo dizendo que só foi levado por policiais federais para prestar esclarecimentos porque na residência dele foi encontrado “um fuzil AR-15”.

“Sim, foram encontradas várias armas na minha casa, pois sou o presidente da Frente Parlamentar Armamentista, presidente do Instituto Brasileiro da Cultura Armamentista. P... vocês queriam que achassem o que na minha casa?”

Loester Carlos não mencionou, porém, que os 10 mandados de busca e apreensão cumpridos ontem foram expedidos pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em investigação sobre “atentado fake” e que ele foi levado pela polícia à PF após flagrante de posse de arma de uso restrito. “Fui à Polícia Federal levar os documentos das coisas que estavam dentro da minha casa, isso levou um certo tempo, a gente ficou lá algumas horas. Meus irmãos foram chamados a dar esclarecimentos porque eles tinham armas em casa”.

O deputado acusa uma “autoridade sul-mato-grossense, uma mulher eleita na onda” de Jair Bolsonaro, de ter feito a denúncia contra ele que motivou a Operação Tracker, mais uma vez, sem dizer que a PF, na verdade, foi a 10 endereços nessa quinta em busca de provas contra Loester Carlos investigado por forjar emboscada que supostamente sofreu em fevereiro deste ano.

“Agora, o sistema é f... o sistema é f... uma denúncia de uma autoridade sul-mato-grossense dizendo que eu tinha uma arma ilegal na minha casa usada em crimes. Por isso o motivo das buscas e apreensões autorizadas pelo STF, porque foi uma autoridade, uma mulher eleita pelo Mato Grosso do Sul na onda Bolsonaro, que fez essa denúncia”, disse.

No vídeo, a única culpa que Trutis admite é a de não ter trabalhado junto com a “bancada da bala” para aprovar legislação que permita a posse de “um fuzilzinho” a “todo cidadão de bem”. “Isso é culpa da PF? Não. Isso é minha culpa. Isso é culpa dos outros quase 100 legisladores federais que foram eleitos fazendo arminha lá com o Bolsonaro e falando que iam mudar a legislação para que qualquer cidadão de bem pudesse ter um fuzil na sua casa...”.

Camionete deixa sede da PF em Campo Grande, onde Loester Trutis estava desde o início da manhã de ontem (Foto: Silas Lima/Arquivo)
Camionete deixa sede da PF em Campo Grande, onde Loester Trutis estava desde o início da manhã de ontem (Foto: Silas Lima/Arquivo)

Foro privilegiado - Trutis diz que não se beneficiou do foro privilegiado. "Em momento algum eu invoquei foro privilegiado, porque você fez campanha pra mim e eu falei que eu não ia usar isso, fiquei a mercê da Justiça comum do Mato Grosso do Sul. Em momento algum, eu usei prerrogativa de querer sala. Fiquei lá bonitinho, sentadinho no sofá, com acesso ao meu advogado, com acesso à minha família".

O parlamentar omitiu que o trâmite da operação, mesmo após a prisão, não correu no Judiciário estadual, mas no Supremo, justamente porque ele tem foro. E mais, ele só está em liberdade por causa da prerrogativa que protegem legisladores federais, conforme anotou a ministra Rosa Weber, do STF.

“Por conseguinte, é forçoso constatar que a situação concreta não autoriza o afastamento da imunidade parlamentar formal ou processual encartada no artigo 53, § 2º, da Constituição Federal, do que decorre a ilegalidade da formalização do ato flagrancial”, diz o texto da magistrada.

Prisão em flagrante foi comunicada pela Polícia Federal ao STF e Trutis só foi liberado depois que ministra mandou (Foto: Reprodução)
Prisão em flagrante foi comunicada pela Polícia Federal ao STF e Trutis só foi liberado depois que ministra mandou (Foto: Reprodução)

Prisão e soltura – Preso antes das 7h desse 12 de novembro, o deputado federal ficou até por volta das 15h30 na Superintendência da Polícia Federal em Campo Grande, quando camionete branca deixou o lugar e, segundo as informações obtidas pela reportagem, o levaria para o Imol (Instituto de Medicina e Odontologia Legal).

O Campo Grande News confirmou ainda que havia sido reservada vaga no Presídio Militar, no Complexo Penal do Jardim Noroeste, em Campo Grande, a pedido da PF, sob alegação de não haver estrutura para ficar com o preso na carceragem na sede da corporação, na Vila Sobrinho.

Na casa do parlamentar foram encontrados fuzil, pistola 9 mm e revólver calibre 357, consta na decisão pela soltura do parlamentar, expedida pela ministra Rosa Weber, do STF (Supremo Tribunal Federal), no fim dessa quinta-feira.

Operação Tracker - Trutis foi “acordado” pela Polícia Federal, que colocou 50 agentes nas ruas da Capital e de Brasília (DF) em operação para coletar provas contra “atentado fake”, forjado pelo deputado federal em fevereiro deste ano.

O parlamentar do PSL de Mato Grosso do Sul é investigado por “porte ilegal de arma de fogo de uso permitido, disparo de arma de fogo e falsa comunicação de crime”, conforme também está registrado em outro texto que saiu do gabinete de Rosa Weber.

No dia 16 de fevereiro deste ano, um domingo, Trutis publicou no Facebook, por volta das 9h, que ele e sua equipe haviam sofrido atentado a caminho de Sidrolândia - distante 70 quilômetros de Campo Grande. Alegou ter sido vítima de emboscada e narrou que revidou o ataque.

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