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Capital

“HR não é Albert Einstein, é hospital público”, diz diretor do hospital

Hospital é rodeado por denúncias de falta de medicamentos, materiais e diretoria recém empossada assume depois de investigações de fraude em licitações

Izabela Sanchez | 21/02/2019 13:13
Diretor administrativo do Hospital Regional, Edson da Mata Torres Filho (Foto: Marina Pacheco)
Diretor administrativo do Hospital Regional, Edson da Mata Torres Filho (Foto: Marina Pacheco)

O Hospital Regional Rosa Pedrossian, em Campo Grande, parece estar em descompasso com o tempo atual. É o que afirma o diretor administrativo do hospital, Edson da Mata Torres Filho, que em meio à denúncias que abrangem desde falta de medicamentos e desperdício de estoque ao passado investigado por fraudes, aposta no novo setor de controladoria para “tirar o hospital do ano de 2012”. A referência do diretor é com relação ao controle e tecnologia de informações.

Edson assumiu o posto há 41 dias e é o braço direito do novo diretor presidente do HR, o médico Márcio Eduardo de Souza Pereira. Da área de finanças e auditor da saúde há 16 anos, o diretor administrativo é “novato”, está conhecendo o hospital, mas já tece críticas e admite que os problemas não vão desaparecer tão rápido quanto se espera.

“É o Albert Einstein? Não, é um hospital público, que única e exclusivamente a sua receita vem do poder público, que tem recurso escasso. O governador e sua equipe tem que fazer malabares para atender o hospital aqui, do interior e todas as outras unidades de saúde”, diz.

Ele declara estar, agora, “garimpando talentos” dentro do hospital. “Com o problema que teve no ano passado, novembro e dezembro, ele falou [secretário estadual de saúde]: olha, me ajuda, para a gente dar uma reformulada, então há 40 dias nós estamos aqui tentando fazer uma reformulação dos setores”, afirma.

A grande aposta da nova gestão é organizar “o interno” do hospital. As denúncias de falta de medicamentos, materiais diversos, produtos caros vencidos e até as denúncias de corrupção que derrubaram o último presidente, ele atribui à desordem do hospital. Para tentar “sanar” a falta de diretrizes, novos setores foram criados em fevereiro. A controladoria é composta de três funcionários que deverão implementar a nova fórmula da gestão: pessoas –fluxo – processo – TI (Tecnologia de Informação).

“Qual o objetivo desse setor? A nossa pequena experiência de gestão foi favorável de detectar que aqui no hospital, são vários setores e eles precisam de uma interligação, de uma comunicação, então nós pensamos assim: pessoas – fluxo – processo – TI. Porque TI? Porque nós estamos hoje, na parte de tecnologia de informação e controle pelo sistema de gestão hospitalar aqui implementado, no ano de 2012”, diz.

O diretor continua e afirma que sem registro não há controle, sem controle não há administração. “O que nós produzimos, quanto nós produzimos, como é o fluxo de pedido de materiais, qual é o consumo”. Cabe a esse setor organizar “os fluxos”, modernizar a informação e lidar com a totalidade de gastos que giram em torno de R$ 6,8 milhões mensais para custeio.

“Praticamente não temos investimento, muito pouquinho, também é uma área que vamos explorar. É um outro setor que nós implantamos é o de planejamento de captação de recursos, também foi implantado agora em fevereiro”, anuncia.

Na esteira das “novidades” para sair da sombra de “decadência”, Edson também anuncia a criação do setor de contratos e convênios. Uma reação, explica, às investigações de fraudes em licitações do hospital. “Ele vai assumir toda a gestão de todos os contratos que têm no hospital, seja a prestação de serviço, seja locação de equipamentos”.

“Todas as propostas que nós estamos apresentando e colocando em prática é justamente isso. A partir do momento que você começa a interligar os setores, um vai entender a necessidade e o processo do outro. Se você deixar ilhado isso, você não vai chegar a lugar nenhum. A pessoa que vai assumir a responsabilidade, saber que o setor que está com problema não é só problema dele, é problema meu também, vai ser aberto colaboração. Se você deixar ilhado cada setor você está vulnerável a fraude”, comenta.

Arroz e feijão - A controladoria, já adianta, não vai cuidar de denúncias, vai organizar os processos do HR, fazer o “feijão com arroz”, nas palavras do diretor. “Vai entrar pegando na mão de cada servidor. Qual é o meu consumo hoje na farmácia central? O que mais demanda? O que sai mais? Ah, sai mais soro CML, se ele consome a curva ABC 100 ml de soro, é o que mais consome no hospital, que tempo que eu tenho, a minha ata, do fornecedor não vencer, qual prazo que eu tenho”.

Diretor administrativo assumiu posto há 41 dias e nunca tinha trabalhado no HR (Foto: Marina Pacheco)
Diretor administrativo assumiu posto há 41 dias e nunca tinha trabalhado no HR (Foto: Marina Pacheco)

“Olha, a sua ata vence em março e você está consumindo soro que o hospital necessita. Eu vou esperar vencer a ata para disparar que eu não tenho estoque? Então esses processos, falta de medicamento, falta de material que está saindo na mídia quase todo dia é um pouquinho culpa de uma gestão passada, não só a anterior, todo fluxo de 6,7,10 anos atrás, que vinha trabalhando dessa forma”, afirma.

Os problemas encontrados, diz ele, são de “fluxo, gerenciamento e planejamento”. “A governança anterior ou as governanças não se preocuparam muito com o planejamento, antecipar”. O diretor administrativo também afirma que há emendas parlamentares e recursos travados.

“Culpa de quem? Não sei, sei que aconteceu, então estamos fazendo tudo isso, elaborando e revisando todos esses probleminhas que estão acontecendo e não buscando culpado e sim a solução. Aconteceu, aconteceu, parou por que? Não teve uma ação efetiva em relação a essa ou essa situação então vamos lá. Onde vamos buscar? Na secretaria de saúde? O que aconteceu com a emenda parlamentar de 2015? Ficou parada, para quem? Culpa de quem?”, comenta.

Edson critica, com destaque, a estrutura física do hospital que afirma “estar muito ruim”. O diretor diz estar buscando recursos para obras. “Tivemos três reuniões já na Agesul, governadoria, agora na Caixa Econômica, vamos marcar uma reunião com o superintendente, para ver onde parou, o que falta para andar. Então assim, 40 dias é difícil você virar da água para o vinho a situação".

Na reforma interna, promete que coordenadores que não estiverem compromissados com as novas diretrizes serão desligados do hospital. Para ele, que anunciou um setor que vai buscar recursos, o problema, ainda assim, não é dinheiro.

“Primeiro conversar com a secretaria de fazenda, com a secretaria de saúde e secretário e depois a governadoria. Eu acho que Mato Grosso do Sul é até privilegiado, porque se você pegar Goiás que já atravessou, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro que está um caos há oito anos e a gente está conseguindo ainda pagar folha, na medida do possível, na programação de pagamento, pagar medicamento, pagar a parte de nutrição”.

Atrasa? Questiona ele, que responde a própria pergunta: atrasa. E vai continuar atrasando, diz. O diretor também afirma que a falta de carne no hospital – pacientes reclamam que só comem ovo – é um problema de “10 dias” e que o produto já está “com programação de pagamento”, assim como reagente – também em falta – e feijão. Edson culpa a burocracia das licitações.

“São várias questões que na tratativa com o fornecedor vem uma ata, ele chega aqui e fala: quero realinhamento de preço, quanto você está fornecendo? R$ 3,00 a ata, agora é R$ 6,00, não posso fazer isso. A questão da carne tem uma programação, já conversei semana passada com o Fábio da Fazenda, tenho uma conversa agora na governadoria, tenho uma reunião na segunda-feira também”, diz.

“Ah Edson, tem 10 dias, uma semana que não tem carne”, e continua: “Sinto muito, mas tem ovo, tem macarrão, tem repolho, tem batata, agora assim, é necessário ter a carne. ‘Ah falta carne e o frango’, tudo bem, estamos providenciando, tem programação. Agora a programação de pagamento é feita pelo hospital, estou fazendo questão de rever todo o processo licitatório, tanto na parte de nutrição, na parte de assistência, na parte de locação. Falta? Faltou, mas é pontual”. O diretor afirma que a “questão da carne” será resolvida na segunda-feira (25).

Outra mudança, afirma, é que agora uma enfermeira e um médico fazem parte da equipe de licitações do HR na SAD (Secretaria Estadual de Administração e Desburocratização). O objetivo é que orientem os técnicos sobre termos de referência.

Sobre as denúncias de medicamentos caros, estragando em estoques, ele afirma que a controladoria vai tentar resolver o problema. “Tem? Pode ter. Se você andar no hospital, você vai se deparar com coisa vencida, porque eu e o Dr. Fernando somos dois, então estamos montando equipe justamente pra isso: nossos olhos, nossas pernas, nossos braços”.

Em meio às denúncias, agora o hospital tem 30 dias para abastecer a farmácia, após ação judicial que atendeu ao pedido do MPMS (Ministério Público Estadual). Ainda assim, o hospital “vai ficar devendo”. A promessa é, “daqui até abril”, diz o diretor, garantir quase 90%.

“Grande parte da medicação e equipamento daqui a dez ou quinze dias vamos começar a suprir. Agora, vai faltar, tem ata ainda tramitando, tem ata com recurso, tem processo licitatório com recurso. Agora, sinto muito, o Ministério Público tem que entender, se é público ele tem que entender como funciona a burocracia da administração pública”, diz.

Por fim, a tentativa é “alinhar o relógio do hospital”: “A gente está saindo de 2012 e creio que até final do ano poderemos chegar a 2014 e em 2020 tentar avançar mais um ano e meio, dois anos”.

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