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Capital

Acusado de homicídio diz que matou porque foi torturado por dono de boate

Crime aconteceu em 2020 e, na ocasião, 4 pessoas foram denunciadas pelo MPMS

Viviane Oliveira e Bruna Marques | 21/06/2022 11:20
À época dos fatos, foto de Kelvin mostrando os ferimentos causados pela tortura foi divulgada pela defesa dele. (Foto: arquivo / Campo Grande News)
À época dos fatos, foto de Kelvin mostrando os ferimentos causados pela tortura foi divulgada pela defesa dele. (Foto: arquivo / Campo Grande News)

Em julgamento realizado na 1ª Vara do Tribunal do Júri, na manhã desta terça-feira (21), Kelvin Dinderson dos Santos, o Alemão, de 30 anos, um dos acusados pela morte de Ronaldo Nepomuceno Neves, de 48 anos, que era dono de uma boate, na Avenida Ernesto Geisel, no Bairro Cabreúva, confessou o crime e disse que matou porque foi torturado pela vítima. O fato aconteceu em setembro de 2020, em Campo Grande.

O corpo de Ronaldo foi encontrado parcialmente carbonizado no dia 12, ao lado de sua caminhonete Ford Ranger, em estrada vicinal que dá acesso a Cachoeira do Ceuzinho. A vítima estava só de cueca com uma camiseta amarrada no pescoço.

Ao ser indagado pelo juiz Carlos Alberto Garcete de Almeida se queria falar sobre o fato, Kelvin inicialmente disse que não. Mas depois de conversar com o advogado de defesa, ele decidiu contar sua versão. “Vou contar o que não foi esclarecido para os senhores”, disse.

Segundo o réu, foi torturado por Ronaldo e os comparsas dele para confessar furto que não havia cometido. Ele contou que foi amarrado, colocado dentro de uma caminhonete e agredido com golpes de faca, chutes, socos, pauladas e choque elétrico por cerca de 3 horas. “Me deram choque, pauladas e facadas. Estava com as mãos e pés amarrados na capota do carro. Acharam que eu tinha morrido e disseram que iam avisar minha esposa”.

Narrou ainda que foi levado até uma área frequentada por usuários de drogas, conhecida como “Fazendinha”, na Avenida Ernesto Geisel, onde conseguiu escapar e com ajuda de amigos, deu rasteira em Ronaldo e o imobilizou usando um cinto.

Polícia Militar no local onde o corpo e a caminhote da vítima foram encontrados (Foto: arquivo / Campo Grande News)
Polícia Militar no local onde o corpo e a caminhote da vítima foram encontrados (Foto: arquivo / Campo Grande News)

“Me arrependo muito de ter tirado uma vida, mas pensei na minha família naquela hora. Eu não queria fazer nada com ele. Amordacei ele. Levamos ele com vida para o Ceuzinho", contou.  Outros três amigos de Kelvin também foram responsabilizados pelo crime - Igor Figueiró Rando, Marcelo Augusto da Costa Lima, e Almiro Cássio Nunes Orgeda Queiroz Neto.

Kelvin contou que no local dos fatos desferiu um golpe com uma garrafa quebrada no pescoço da vítima. “Chegando lá desferi a garrafada no pescoço dele e pedi para a gurizada me levar embora. Antes de ir embora, dei duas pedradas nele. Aí para frente não sei de mais nada”. O réu afirmou ainda que perdeu a cabeça, porque a vítima disse que mataria os filhos dele, de 6 e 9 anos de idade, na época. “Ele era meu amigo, não tinha o porquê fazer isso comigo”. Segundo ele, Ronaldo era acostumado a bater na “gurizada”.

Quanto ao crime, Kelvin afirmou que não combinou nada com os comparsas. “Foi acontecendo”. O rapaz ainda aproveitou para dizer que a vida dele foi de luta, sempre trabalhado. “Eu tinha 11 anos quando minha mãe saiu de casa. Tive que ter obrigação de dono de casa. Fui eu quem cuidei do meu irmão esquizofrênico. Ele é mais velho”.

Segundo Kelvin antes de ser preso tinha um projeto chamado Espaço Verde, de horta orgânica. “Minha vida sempre foi correr atrás. Pai eu nunca tive. Eu fui pai de mim mesmo e do meu irmão. Não conheci meu pai. Nem registrado eu fui”.  O resultado do julgamento será divulgado no período da tarde.

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