Antiga maternidade das Moreninhas poderá ter internação psiquiátrica
Readequação do local é estudada para ampliar serviço na Capital, diante de impasse com Santa Casa
A Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) estuda transformar o prédio do antiga Maternidade, Hospital da Mulher e CRS (Centro Regional de Saúde) do Bairro Moreninhas, em Campo Grande, em uma unidade de internação psiquiátrica até o fim deste ano.
A informação foi confirmada pela secretária-adjunta de Saúde, Rosana Leite. Ela justifica que readequar o local e começar a atender pessoas com doenças psiquiátricas lá é a principal solução cogitada diante da previsão de fechamento de 21 leitos de internação reservados a esses pacientes na Santa Casa da Capital, conforme a instituição anunciou na última quinta-feira (6) ao Campo Grande News.
O problema com a manutenção dos leitos é a falta de repasse de recursos pela prefeitura de Campo Grande, apontou a Santa Casa. Rosana Leite, no entanto, rebate que a própria instituição não tem mais interesse em prestar serviço na área de psiquiatria.
"Não querem atender por questão de vocação, não exclusivamente por causa da falta de repasse", disse a adjunta à reportagem. A sinalização de falta de interesse foi dada durante uma das reuniões entre a Sesau e a instituição que Rosana Leite participou pouco depois de assumir o cargo, em dezembro de 2022.
A Santa Casa, ainda assim, está mantendo o serviço até que outro hospital o assuma. "A gente entende [a questão da vocação], porque a instituição já tem uma gama de especialidades. É um direito", falou a secretária.
Assim, a Sesau pede que a instituição não desative os leitos antes de dezembro de 2023, prazo que precisa para reorganizar o serviço psiquiátrico na rede pública de Campo Grande.
O Campo Grande News procurou a assessoria de imprensa da Santa Casa para ouvir sobre a possibilidade de fechamento definitivo e se terá condições de continuar a prestar o serviço por mais seis meses, que não respondeu até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto.
Programação - Rosana Leite avalia que o prédio do antigo hospital do Bairro Moreninhas tem características adequadas para ser transformado em hospital psiquiátrico e que já existe um projeto arquitetônico para isso.
A readequação do espaço para atender a demanda da psiquiatria está na programação do Município. "Sabíamos da situação da Santa Casa e já mudamos a programação há dois meses. Nós vamos fazer uma reforma e colocar leitos de psiquiatria", reforça. A gestão anterior da Prefeitura de Campo Grande estudou fazer do local um hospital-dia, que incluiria procedimentos mais diversos.
Outra possibilidade pós-reforma é que o antigo Hospital da Mulher vire um novo CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) e receba habilitação do Ministério da Saúde para funcionar.
Sendo unidade de internação ou CAPS, o local não receberá pacientes para longa permanência, explica ainda a adjunta, a exemplo do que acontece no Hospital Nosso Lar, na Capital. Eles ficarão internados por um curto período para estabilização e depois serão encaminhados às unidades que oferecem atendimento na modalidade "portas abertas", assim como os próprios CAPS.
"Só que a gente precisa é recurso, que poderá vir de emendas parlamentares. Por isso, falei do tempo que pedimos para a Santa Casa, até fim do ano, para fazermos uma readequação da nossa rede para colocar os pacientes de Campo Grande", pontua Leite.
Enquanto isso - Os leitos psiquiátricos da Santa Casa ainda estão ativos. O Município ofereceu repasse de R$ 1,5 milhão para que o serviço siga funcionando até o fim do ano, mas a Santa Casa não aceitou, conforme informou a assessoria da Sesau à reportagem.
A Sesau insiste no prazo que pediu. "Semana passada a Santa Casa nos enviou ofício falando do fechamento, pedimos mais prazo e fui pessoalmente, mas estão irredutíveis", afirmou. Esta semana, representantes da pasta e da instituição vão tratar novamente do assunto em uma reunião.
Uma saída tentada pela Santa Casa para manter o serviço funcionando é a habilitação junto à RAPS (Rede de Atenção Psicossocial) do Ministério da Saúde. Hoje, a psiquiatria não possui a habilitação junto à pasta federal.
A ala de psiquiatria recebe, sim, recursos municipais, mas eles estão sendo remanejados pela instituição para a área de neurocirurgia, segundo a representante da Sesau. Ela também afirma que a especialidade tem um médico psiquiatra cedido pelo Município e R$ 25 mil mensais de incentivo da SES (Secretaria Estadual de Saúde), que poderá investir mais R$ 85 mil para complementar o que é necessário para custear o serviço. A reportagem procurou a pasta estadual para saber a previsão de repassar o incremento e aguarda resposta.
Para suprir a necessidade de mais leitos para pacientes psiquiátricos da Capital, a Sesau está adotando, em caráter de urgência, a permanência deles em CAPS por curtos períodos e em UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), onde são acompanhados por especialistas de outras unidades, que prestam atendimento móvel nesses locais.
*Editada às 13h48 para correção de informações.