Após morte, autódromo tem alvará dos bombeiros cassado e é multado em R$ 48 mil
"Arrancadão" fatal levou Corpo de Bombeiros a verificar condições do local e equipe achou irregularidades
Acidente fatal durante festa clandestina no Autódromo Internacional de Campo Grande levou o Corpo de Bombeiros até o local, não só para o socorro às vítimas de colisão na madrugada deste domingo (2), mas também para verificar as adequações do prédio. O espaço, que tinha certificado de vistoria válido, teve o alvará cassado, além de ser multado em R$ 48.420,00.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, durante visita nesta segunda-feira (3), foram flagradas irregularidades. “O autódromo foi autuado no valor de 1 mil Uferms [Unidade Fiscal Estadual de Referência de Mato Grosso do Sul]”.
Ainda conforme os bombeiros, o autódromo terá 7 dias para fazer adequações exigidas. Do contrário, terá de refazer todo o processo de certificação.
A corporação não detalhou quais os problemas constatados durante a vistoria, mas é responsável por avaliar, por exemplo, se prédios que recebem aglomeração de pessoas têm condições para combater incêndios e rotas de fuga em caso de pânico, por exemplo.
Festa clandestina – O evento realizado no autódromo na noite deste sábado (1º) e que terminou com a morte de Nicholas Yann dos Santos Jesus, 20 anos, na madrugada de domingo (3), não tinha alvará para acontecer, de acordo com a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano).
Em nota, a Semadur informou que não recebeu nenhum pedido de autorização para a realização do Motor Sound Brasil, o que seria obrigatório para a categoria da festa. “Portanto não foi emitido nenhum alvará”, diz a pasta, deixando claro se tratar de encontro clandestino.
Policiais que foram ao local da festa para registrar o acidente fatal também já haviam dito que o evento aconteceu de forma ilegal. Para se ter uma ideia, uma caminhonete Volkswagen Amarok fez papel de ambulância para atender Nicholas por “socorristas particulares”, contratados pela organização.
Conforme boletim de ocorrência, o evento foi organizado pelo influencer Rodolfo Manolo, 40, e por homem identificado como “dono do autódromo”, de nome João Pedro. A festa reuniu cerca de 2 mil pessoas, que pagaram R$ 20 para entrar no local. A entrada de carros e motos também foi cobrada (R$ 20 por veículo), segundo material de divulgação. Ainda de acordo com o registro policiais, motociclistas faziam manobras perigosas nas pitas sem usar capacetes.
Outro lado – Ao Campo Grande News, João Pedro diz ser “neto do proprietário do local”. “A gente aluga o espaço para o pessoal fazer o evento”, afirmou, embora o boletim de ocorrência o aponte como um dos organizadores e banners da divulgação do evento também.
Ele afirmou ainda que “nenhum evento no autódromo é feito ilegalmente”. “A gente paga aí mais de R$ 50 mil de licença de bombeiro, de polícia anual. Tem contrato, tem tudo, tudo, tudo. A gente nunca teve um evento ilegal lá dentro, tá?”, disse à reportagem por áudio de WhatsApp neste domingo.
Procurado pela Polícia Civil Manolo, segue ativo nas redes sociais, embora não tenha aparecido para dar esclarecimentos. Ainda ontem, ele apagou as postagens que chamavam para a festa, e hoje, por volta das 11h30, postou foto nos stories do Instagram com a legenda: “Que Deus ilumina e conforta todos nós [sic]”.
Dono de página com 100 mil seguidores, Manolo também se manifestou, na tarde deste domingo, com frase que não sai da boca de quem ganha a vida como criador de conteúdo digital. “Vou falar nada hoje a respeito. Quem mi conhece sabe do meu coração [sic]”, afirmou nos stories. Ele ignorou todas as tentativas de contato da reportagem até agora.
Manolo responderá por homicídio com dolo eventual (quando alguém assume o risco de matar). Ele também será investigado por descaracterização da cena do crime, já que mandou retirar do local a motocicleta que Nicholas usava quando sofreu acidente.
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