Campanha pró-vacinação usa Doria como garoto propaganda em MS
Empresa que comanda ação destaca que foge da politização e espera que governo federal assuma a imunização contra covid-19
Avenida Ricardo Brandão, sentido bairro-centro, pouco depois do viaduto da rua Ceará. Há quem não repare, prestando atenção no trânsito ou mesmo no celular. Mas para outros é inevitável não perceber uma gigante imagem do governador paulista João Doria protagonizando outdoor com os dizeres 'vacina para todos'.
Igual a esses, há mais nove em Campo Grande e tudo faz parte de uma campanha pró-vacinação mantida por uma empresa de publicidade local, que confessa saber que tudo pode ser interpretado como ação política, mas frisam que a intenção é incentivar e destacar o quão importante é vacina nesse momento da pandemia.
"Nesse momento caminhamos para 200 mil morte no Brasil e quase 2,1 mil vidas perdidas em Mato Grosso do Sul. Nesse contexto quem mais se dedicou, pelo menos publicamente pela vacina, foi o governo paulista", conta Vinícius Squinelo, representante da TopMídiaMS, empresa de publicidade responsável pela campanha e pelos espaços.
Squinelo explica ainda que tudo foi feito de iniciativa própria, sem que houvesse a contratação da empresa por terceiros. "Só a vacina vai nos tirar dessa crise sanitária e, consequentemente, econômica. A iniciativa é para ressaltar a importância da vacina, ainda mais em momento de crescimento do movimento antivacina", completa.
Porém, a imagem de Doria, no atual contexto nacional, não deixa de surpreender e levanta polêmica. Vinícius confessa saber da possibilidade de outras interpretações. "Isso pode acontecer, claro", afirma à reportagem.
"Infelizmente o tema vacina foi politizado muitos tons acima do moralmente aceitável. Com certeza, quando nosso presidente se colocar a favor plenamente da vacinação e defenda-a publicamente, e esperamos que este momento chegue, teremos o prazer de estampa-lo junto a defesa da vacinação para todos os brasileiros", diz.
Quem passa pelo painel já dá seus pitacos e, ao menos entre os entrevistados pelo Campo Grande News, o sinal foi positivo. "Eu acho uma coisa boa. É ponto de conscientização para as pessoas se vacinarem. É certo divulgarem para a população um meio de se proteger", opina a diarista Rita Pereira de Sousa Silva, de 47 anos.
Ela ainda destaca que quando chega para o trabalho reparou a publicidade. "São muitas mortes. Quantas pessoas queridas estão partindo? Meus patrões foram infectados também, mas ficaram bem. Então tem que chegar essa vacina o mais rápido possível, principal, para quem não tem outro jeito e precisa sair de casa todo dia para trabalhar".
Outro também que aprova a vacinação, reforçando a ideia da campanha, é o vendedor José Rosemir Flores, de 40 anos. "Tem que ser para todos", frisa, tratando toda a situação como uma "ótima ideia" que precisa acontecer "o mais rápido possível".
"Já está passando da hora. Tem muitas pessoas precisando, muita gente morrendo nessa pandemia, que está em um momento muito avançado. Tem que acontecer muito rápido e ser para todos", comenta o vendedor, diante do painel de publicidade.
Outra diarista que passava pelo local e conversou com a reportagem foi Clemilda de Melo Xavier, de 34 anos. Ela seguiu linha semelhante aos demais, considerando que o anúncio da vacina foi muito bom "para ver se esse vírus vai embora logo".
"Está um transtorno", desabafa, lembrando que sua vida acaba se resumindo a transitar apenas de casa para o serviço, e do serviço para casa. "Meu pai tem 67 e minha mãe 55 anos. Minha irmã tem bebê de 6 meses. Fico preocupada. Estou me cuidando, já que é nossa família em primeiro lugar. Quando chegar a vacina, certeza que tomarei".
De acordo com Vinícius Squinelo, a intenção é que as placas fiquem por duas semanas - ou seja, até a semana que vem - espalhadas pela cidade em dez placas, sendo que após esse período, sempre no padrão bissemanal, outras ações devem ser realizadas.
"Queremos fazer novas campanhas destacando todos aqueles que, dentro do tema saúde pública, estão na defesa da superação plena dessa crise que, como a ciência aponta, só será superada neste momento com medidas de distanciamento e plenamente com vacinação em massa", indica o jornalista representante da TopMídiaMS.
Por fim, Squinelo ainda faz questão de reforçar que as propagandas não têm cunho político, e sim de estimular a adesão à vacina. "Esperamos inclusive que o Governo Federal assuma toda a dianteira neste tema, colocando prazos que ainda não existem, para o bem de todos. Teremos orgulho de destacar tais medidas em novos outdoors".
A vacina - O 'duelo de vacinas' ganhou contornos políticos a partir do momento em que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) passou a trabalhar com a hipótese de não aderir à vacina CoronaVac, já que a mesma carregaria uma suposta propaganda do governador paulista e seu possível adversário em 2022 à presidência.
Além disso, Bolsonaro já se posicionou contra a vacinação em algumas oportunidades, ressaltando que as empresas e o próprio governo não seriam responsáveis por efeitos colaterais. De forma sádica, disse que se começasse a nascer barba em mulheres, homens falassem fino ou as pessoas virassem jacarés, a culpa seriam dos próprios.
Contudo, governos locais já se movimentam para adquirir doses das vacinas. Em 8 de dezembro, o Governo do Estado anunciou que tem plano de vacinação pronto, com ou sem atuação conjunta do Ministério da Saúde.
Para atender inicialmente os grupos prioritários, como os idosos acima de 70 anos, indígenas e profissionais de saúde e de educação, Mato Grosso do Sul precisaria de cerca de 700 mil doses, segundo a SES (Secretaria de Estado de Saúde).
"Se o Ministério não fizer a coordenação ou não aceitar a paternidade de alguma vacina que possa ser aprovada, não tenha dúvida que nós vamos adquirir para Mato Grosso do Sul. Vamos comprar e disponibilizar para o Plano de Vacinação, que deveria ser organizado pelo Ministro da Saúde", afirmou Reinaldo Azambuja (PSDB) recentemente.
Já há pelo menos R$ 100 milhões disponíveis em caixa pelo Governo do Estado para realizar a compra das doses. Outro que também corre atrás de doses é o prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad (PSD), já tendo inclusive estimado a compra de 200 mil unidades para atender a população da Capital e maior cidade do Estado.
"Indepedente de Bolsonaro, Doria, Reinaldo, já entrei em contato com o governo de São Paulo e disse que tenho interesse”, afirmou o prefeito. "Se o Doria falar, 'disponibilizo', eu compro", completou Marquinhos também em entrevista recente.