Campo Grande conseguiu controlar covid e números vão cair, avalia Marquinhos
"Cadê o colapso? Como é que as UPAs estão vazias há 3 meses? Com ocupação 60% menor", reforça o secretário municipal de Saúde
Em resposta aos defensores do lockdown em Campo Grande, o prefeito Marquinhos Trad garante: todos os números hoje indicam que a Capital deve passar pela pandemia sem colapso na rede de saúde. Subsidiado por técnicos do município, ele recebeu o Campo Grande News na manhã desta terça-feira (4) cercado de estatísticas, ao lado também do secretário de Saúde, José Mauro Pinto, do procurador-geral do Município Alexandre Avalo e do secretário de governo, Antônio Lacerda.
Nesta terça-feira (4), a Defensoria Pública entrou com ação na Justiça, pedindo lockdown com urgência em Campo Grande. O juiz José Henrique Neiva de Carvalho e Silva recebeu a solicitação e agora a prefeitura terá 72 horas para apresentar argumentos contra a medida.
Marquinhos adianta que tem índices para provar que a cidade está conseguindo estabilizar o ritmo de contágio por coronavírus e a curva de crescimento da doença deve seguir “achatada” a partir de agora. "A doença é muito nova, mas com base nos números que temos hoje, sim, conseguimos achatar a curva", reforça.
Em resposta à indicação de fechamento total e classificação de "bandeira preta" sobre risco da covid, Marquinhos reclama que "a conta não fecha". Segundo a prefeitura, hoje a cidade tem 30 leitos de UTIs vagos, apenas para atender covid-19, a cidade segue com postos de saúde vazios e nos últimos dias a quantidade de internações caiu 5%, "com redução tanto nos leitos públicos quanto nos privados".
Apontando para painéis instalados no gabinete de Marquinhos, com imagens da movimentação em tempo real de unidades de saúde, o secretário José Mauro também questiona:
"Se está tão sério, olha lá. Como é que as UPAs estão vazias há 3 meses? Com ocupação 60% menor. Como é que Hospital de Campanha do HR continua com 140 leitos vagos? Quem explica isso? Como a gente entra no diagnóstico de colapso assim? Você já viu isso em alguma cidade do mundo”, questiona o secretário .
O discurso contrasta com as avaliações feitas diariamente pela Secretaria Estadual de Saúde durante as transmissões do boletim epidemiológico. Desde meados de julho, o foco é Campo Grande, apontada como epicentro da doença no Estado.
Evidentemente irritado, Marquinhos questiona, por exemplo, porque a indicação de lockdown, defendida pelo Estado, serve para Campo Grande e "não para os 34 municípios que mandam pacientes para cá".
Ele lembra que países que adotaram o lockdown só tiveram resultados após 2 meses fechados. "Não tem sentido fazer menos de 60 dias", avalia.
Ele também recorre a uma frase dita com frequência pelo secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende. “Contra números, não há argumentos” e emenda: “Em 5 meses, João Pessoa, cidade com 809 mil habitantes, teve 648 mortes. Natal, também do mesmo tamanho que Campo Grande, teve 749 óbitos. Hoje, temos 149 no mesmo período. A diferença é gigantesca. Essa doença mata mesmo, vai matar, mas estamos diminuindo ao máximo".
A equipe de Marquinhos contesta até a taxa de lotação de UTIs na Capital, que chegou a 98%, e desde o fim de semana oscila entre 90% e 91% segundo a SES. Nos números da prefeitura, a média é de 82% nesta terça-feira, mais um indicativo de controle, afirma a prefeitura.
O secretário de Saúde observa, ainda, que considerar apenas os dados do Hospital Regional, como referência sobre colapso, leva ao entendimento de uma situação pior que de fato está. “O HR é uma unidade de referência. Para lá, vão os casos de síndrome respiratória aguda. Nos outros, os leitos só são ocupados quando o diagnóstico é de covid”, explica.
A prefeitura comprou leitos privados para uso específico da covid e até 15 de agosto o total de leitos de Terapia Intensiva deve passar de 116 leitos no início da pandemia, para 295 UTIs,
Questionado sobre qual modelo Campo Grande adota atualmente para combater a doença, Marquinhos diz que os profissionais da área têm criado o próprio modelo, mesclando o que deu certo em cidades que conseguiram dominar o coronavírus.
Na base desse plano, estão 10 pontos:
1 - Comércio aberto, mas com regramento.
2 - Distribuição de fluxo de pessoas na cidade, com atividades funcionando entre 8h e 16h, 9h às 17h ou 11h às 19h - caso dos shoppings.
3 - Consequente distribuição de passageiros no transporte coletivo, a partir da diferença de horários de serviço.
4 - Uso obrigatório de máscaras, principalmente, no transporte coletivo e locais de acesso público.
5 - Barreiras sanitárias nas entradas da cidade.
6 - Toque de recolher.
7 - Desinfecção de espaços públicos, como feiras, terminais de ônibus e avenidas.
8 - Aumento de leitos de UTI.
9 - Crescimento exponencial de testagens.
10 - Blitz de trânsito como forma de diminuir abusos do álcool e acidentes.
Acidentes - Sobre a possibilidade de determinar Lei Seca, Marquinhos diz que não seria "hipócrita", porque não há número suficiente de fiscais para fazer cumprir decreto do tipo. "E não adianta. Porque tem gente que chama 15 amigos para um churrasco, sem máscara", argumenta.
Para evitar o abuso de álcool que leva a superlotação de UTIs, a Agetran tem intensificado as blitz durante o toque de recolher e, segundo o prefeito, os números comprovam que a medida deu certo.
Nos 2 fins de semana do "mini lockdown", quando a maior parte do comércio teve de fechar as portas, inclusive restaurantes, 236 pessoas deram entrada na Santa Casa, 21 foram para UTI. No sábado e domingo passados, com restaurantes e bares liberados, mas blitze nas ruas, o número caiu para 172 internados e apenas 9 em UTIs.