Chegada de líderes marca expansão de PCC em MS, dizem especialistas
A chegada de lideranças do PCC (Primeiro Comando da Capital) ao Mato Grosso do Sul no fim dos anos 1990, transferidas pelo governo de São Paulo, marcam a expansão da facção criminosa e seu fortalecimento, desde meros negociantes de drogas e armas, quando tinham cerca de 200 integrantes, em 2001, para o quadro atual, onde dominam por completo até as entradas e saídas da fronteira com o Paraguai, com cerca de 1.100 membros, número cinco vezes maior.
As opiniões são de especialistas dos maiores órgãos de estudos e avaliações sobre violência urbana no Brasil: o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Núcleo de Estudos sobre a Violência (NEV), ligado à USP (Universidade de São Paulo).
Professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, ex-subsecretário Nacional de Segurança Pública e pesquisador dos métodos de atuação do crimes organizado, Guaracy Mingardi detectou em suas pesquisas que, diferente do que pode parecer, todas as lideranças são regionais.
Apesar de quadros importantes da facção de São Paulo implantarem a cultura e o modo de atuação do PCC, a aceitação foi ampla e irrestrita, segundo os estudos de Mingardi junto a profissionais do sistema carcerário sul-mato-grossense.
“Diferente de outros estados, em Mato Grosso do Sul era benéfico uma aliança com o PCC, afinal suas regras disciplinaram as relações nos presídios, com o fim do estupro, por exemplo, além dos benefícios às famílias e as justificativas e aprovações prévias para os assassinatos. Acabou a pistolagem”, disse o especialista.
Métodos – Para o jornalista e pesquisador Bruno Paes Manso, do NEV, a consolidação da facção em Mato Grosso do Sul vem em 2008, quando o racha com os cariocas do Comando Vermelho passa a se tornar eminente e irreversível. “Há uma exposição maior do PCC no Estado, seja com as rebeliões ocorridas ou com assassinatos dos até então braços-direitos de Jorge Rafaat Toumani”, disse Manso.
Há uma explicação Manso. Ex-repórter de segurança pública do jornal O Estado de S. Paulo, ele acompanhou de perto a expansão da facção e as crises geradas com dificuldades implantadas por Rafaat na fronteira, o que levou a sua execução em junho do ano passado e a eliminação de intermediários na compra de drogas e armas no país vizinho do Estado.
“O PCC cresce, se estabelece e não é que se sentia ameaçado pelo Comando Vermelho ou outros rivais em Mato Grosso do Sul, mas estava desagradado com as negociações, com limites impostos por Raafat. Era o momento de dar uma resposta. E demonstrar o controle sobre a principal das rotas do tráfico”, disse Manso.
Sem rivais – Para Mingardi, não há concorrência para o PCC no crime organizado. O especialista diz que os registros apontam para uma facção extremamente empresarial, com objetivos, metas de lucro e participação, longe do amadorismo e primitivismo de rivais em outros estados, como no vizinho Mato Grosso.
“Dificilmente o que existe em Mato Grosso acontecerá no Sul. O crime do novo cangaço, sem planejamento, ação cirúrgica, com bandidos agindo a esmo. Não é do perfil e caráter do PCC fazer isso, são mais cabeças, planejam mais suas ações”, exemplificou.
Para ele, o formato do PCC é sindical, sem comparações. "O Comando Vermelho é mais uma griofe, sem estruturação, oq ue acaba gerando muito o uso do seu nome pelo Brasil. Mas a situação deles é precária, encarecendo a cocaína e a maconha que agora têm que entrar pelo Amazonas, um caminho mais longo e caro do que o do PCC", disse Mingardi.
Segundo o professor da FGV, a atitude do governo estadual em trocar informações com estados e países vizinhos e armar operações conjuntas tem de ser vista como positiva no combate aos avanços da quadrilha.
“Há muitos que o governo federal abandonou a inteligência na fronteira. Os estados têm que unir com o que tem, trocar informações sobre essas rotas do Paraguai, seus desdobramentos, os controladores, integrantes. Inteligência de quem é de rua, sente de perto o problema, nunca é negativa”, destacou.