Defesa alega residência fixa para soltar acadêmico de direito preso em operação
Segundo investigação, acadêmico tem envolvimento com sumiço de garagista em Campo Grande; MP é contra soltura
Alegando residência fixa e família constituída, a defesa do acadêmico de Direito, Rodrigo José Martins da Silva, entrou com pedido de liberdade provisória. Rodrigo foi preso após investigação apontar envolvimento dele no "desaparecimento" do garagista Carlos Reis de Medeiros de Jesus, 52 anos, vulgo "Alma". A polícia acredita que Alma esteja morto.
A defesa alega que Rodrigo também tem uma filha recém-nascida e que ele precisa trabalhar para manter a família. Além disso, afirma que o rapaz não oferece risco de fuga, pedindo que seja aplicada medidas cautelares, como prisão domiciliar ou liberdade com uso de tornozeleira eletrônica.
Rodrigo foi preso durante uma operação da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio) no dia 22 de fevereiro. Ele é irmão de Thiago Gabriel Martins da Silva, vulgo "Thiaguinho PCC" ou "Especialista", que teria planejado e executado a vítima em uma oficina na Avenida Gunter Hans, segundo a investigação. Rodrigo trabalhava com o irmão na oficina e teria ajudado a cometer o crime, junto com outros funcionários.
No último dia 4 de março, o Ministério Público se manifestou contra a liberdade provisória. Para o MP, a investigação ainda está em curso, então há necessidade de manter Rodrigo preso. "Insta salientar que todas as circunstâncias do crime em tela ainda não foram esclarecidas, estando a investigação em regular curso pela Autoridade Policial, inclusive com a implementação de novas diligências, sendo necessária a manutenção da prisão temporária diante da imprescindibilidade para a continuidade das investigações".
Entenda - Thiago Gabriel e Rodrigo são filhos de José Venceslau Alves da Silva, ou "Celau", homem com extensa ficha criminal e que tinha negócios com o garagista. Em um áudio obtido pela polícia, Alma teria revelado ter "despejado bastante dinheiro desse velho na praça", se referindo a Celau, que morreu em 2020.
A partir de então, Thiago Gabriel - que estava preso por homicídio - progrediu para regime aberto e passou a cobrar Alma do valor que por "herança" teria direito. No entanto, não teve retorno. Foi então, conforme apurou a polícia, que Thiago apresentou Vitor Hugo de Oliveira Afonso, vulgo Primo, para o garagista.
O relacionamento entre eles ficou mais íntimo, tanto que Primo chegou a morar por aproximadamente dois meses na residência de Alma, no Tiradentes, entre setembro e novembro de 2021. Foi então que Primo começou a assessorá-lo nos negócios de compra e venda de veículos, também cobranças de agiotagem.
Para a investigação, a estratégia traçada por Thiago Gabriel visava monitorar a rotina de Alma, com ajuda de Primo, para ter acesso a todos os devedores do agiota e saber para quem o dinheiro de Celau foi emprestado.
Primo cobrava os devedores junto com o garagista. Um deles, Ademilson Cramolish Palombo, o "Alemão", devia alta quantia. Em novembro, durante uma das cobranças, o trio (Alma, Thiago e Vitor) teve uma discussão com Palombo, pois o devedor queria pagar R$ 160 mil, valor bem abaixo do devido. O garagista chegou a relatar nessa época para a esposa que sofreu ameaças de morte de Alemão.
Emboscada - No entanto, a investigação policial indica que Alma foi assassinado por Thiago Gabriel, que teve ajuda dos funcionários. Na data do desaparecimento, 30 de novembro de 2021, foi atraído para a oficina para tratar de negócios. Por ser comum o tipo de conversa entre eles, Alma não desconfiou.
Ao chegar no comércio, o garagista estacionou a caminhonete S-10 na Avenida Gunter Hans e se dirigiu para o fundo da oficina, como era de costume. No local, estava Thiago, Primo, Rodrigo José Martins da Silva (irmão de Thiago) e outro funcionário. Houve uma discussão, então Alma foi executado com aproximadamente três tiros em "pleno horário comercial".
Depois, o corpo foi esquartejado, com apoio principalmente de Primo, que já que teria cometido esse tipo de crime no Acre, sendo "fácil" para ele ocultar o corpo, conforme a investigação. Thiago chamou todos os funcionários, afirmando que "quem abrisse a boca teria o mesmo fim". O local foi lavado por um funcionário e depois o corpo foi levado para um lugar ainda desconhecido em uma caminhonete de cor prata.
Desmanche - Thiago pensou em tudo, de acordo com a apuração policial. Vendeu os veículos de Alma para Pedro Henrique Dias da Conceição e Anderson Ramos Souza. Pedro foi até a oficina logo depois do crime, onde também teria sido ameaçado por Thiago. Em seguida, um funcionário da oficina os acompanhou (Pedro e Anderson) até a garagem de Alma, de posse da chave do comércio, onde começaram a guinchar os carros.
No entanto, Pedro e Anderson acabaram sendo flagrados pela esposa de Alma, que foi até a garagem para ter notícias do marido que estava desaparecido desde cedo. Com ajuda dela, a DEH chegou até o desmanche no Jardim Centro Oeste, onde foram localizados 10 carros da vítima.
Pedro esteve no dia seguinte à morte, na oficina de Thiago, horas antes de ser preso, quando recebeu mais ameaças.
Agiotagem para o PCC - Ainda de acordo com a apuração, há informações de que Thiago e Vitor Hugo são integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital), responsáveis por executar aqueles que se opusessem ou contrariassem algum interesse deles ou da facção, como cobrar juros extorsivos ou que trapaceasse em negócios. Thiago e Vitor Hugo deviam alta quantia ao garagista. Chegaram a entregar uma GM Montana e um quadriciclo como garantia.
A polícia também apurou que Alma tinha negócios com "Tio Arantes", um dos líderes do PCC em Mato Grosso do Sul e da maior rebelião que o Presídio de Segurança Máxima de Campo Grande já teve. Semanas antes de desaparecer, em novembro, o garagista esteve em uma chácara acompanhado de Thiago, Vitor Hugo e Tio Arantes. Alma ainda teria pego fuzis da facção criminosa como garantia de dívida, aponta a investigação policial.
Operação - A polícia cumpriu mandados de prisão e de busca e apreensão em comércios e casas dos envolvidos no último 22 de fevereiro. Na data, Rodrigo, o irmão de Thiago, foi preso. Vitor Hugo já se encontrava preso, após ser abordado com documento falso. Não há informações se os outros funcionários citados na investigação e Thiago Gabriel estão presos.